Diferentes cores, corpos e pessoas se reuniram para a sexta edição da Parada LGBTI+ de Londrina na tarde deste domingo (05). Com a expectativa de reunir mais de 25 mil pessoas, o evento foi realizado no Centro Social Urbano, mais conhecido como Buracão, sob um céu que refletia as cores do arco-íris. Segundo a organização, a Parada LGBTI+ traz a cultura londrinense para todas as pessoas, aliando com a importância do cuidado com a saúde mental, já que a temática da edição foi “Porque Todes Merecem Viver Sua Verdade Sem Medo. Priorize e Celebre a Saúde Mental LGBTI+”.

Jéssika Muniz, 31, é uma das organizadoras da Parada LGBTI+, que ela afirma que começou como uma “brincadeira” entre amigos em 2017. Ela conta que o início foi bem difícil, principalmente em relação à verba para que o evento saísse do papel. “Mas foi mágico", admite, acrescentando que a primeira edição conseguiu reunir mais de três mil pessoas, que foram crescendo conforme os anos.

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Ela pontua que o nome do grupo é Movimento Construção, que mostra que todo mundo vem se construindo ao longo dessa jornada que é a Parada LGBTI+. Segundo a técnica de enfermagem, a Parada é um evento cultural que traz para o palco “as estrelas” que a cidade de Londrina tem, além de ser uma forma de mostrar que o público LGBT existe e que ele está em todos os setores da sociedade.

Com a saúde mental em foco na edição deste ano, a organizadora explica que ainda é muito forte a questão do “sair do armário” quando se trata da descoberta da sexualidade. Por conta disso, ela ressalta que muitas pessoas reprimem sua sexualidade por toda a vida, o que acaba tendo efeitos no psicológico. “A gente precisa acolher essas pessoas e a gente precisa tratar isso porque tem gente morrendo. Tem gente que se reprime tanto a ponto de não conseguir ser quem é, então tratar o psicológico é muito importante nessa vivência do homosexualismo”, ressalta.

Jéssika Muniz reforça que a Parada LGBTI+ é para todo mundo. “É claro que a gente quer mostrar que a gente existe, mas a gente quer que todo mundo se divirta porque o importante é se divertir”, explica. Para este ano, a expectativa dos organizadores é de reunir mais de 25 mil pessoas. “Como o nosso grupo diz: é Movimento Construção. A gente quer sempre construir com todos e sempre estar em evolução”, afirma.

CIDADE CONSERVADORA

Também na organização do evento, o mestrando Mark Sales, 31, conta que atingir um público de mais de 20 mil pessoas mostra que a Parada LGBTI+ está ocupando um espaço grande em uma cidade que ainda é conservadora. “A gente quer mostrar para a sociedade que a gente vive aqui, que tem esse lugar e que vamos ocupá-lo. A gente está feliz com o aumento gradual [de participantes] ano a ano e a gente espera que os próximos sejam cada vez maiores e com famílias inteiras, assim como a gente pode ver aqui hoje”, afirma, ressaltando que a Parada é como se fosse uma grande família, reforçando a importância do acolhimento entre a comunidade.

A Parada LGBTI+ recebe visitantes de diversas cidades de toda a região, assim como tem apoio do Promic (Programa Municipal de Incentivo à Cultura). “Esse apoio significa que a cidade, enquanto Secretaria de Cultura, reconhece que o nosso trabalho é divulgar cultura, que é o que a gente está fazendo. Nós estamos levando a cultura LGBT para que todes possam ter acesso, todes possam ouvir e todes possam celebrar”, afirma.

Sobre a temática da saúde mental, ele acrescenta que, recentemente, uma mulher lésbica tirou a própria vida por conta da “cura gay”: “eu queria deixar o recado de que não existe cura para o que não é doença”.

SER QUEM VOCÊ É

Os amigos Lucas Krueger, 29, e Guilherme Mateus Santos, 31, estavam juntos em mais uma edição do evento. Krueger conta que não perde uma edição da Parada por ser o único evento destinado à população LGBTI+. “É o único local em que eu posso ser eu mesmo”, afirma. Segundo ele, Londrina precisa ser mais inclusiva e tratar a Parada como qualquer outro evento que é realizado na cidade. “Eu sofri preconceito a minha vida inteira por ser quem eu sou. No ônibus, dependendo da roupa que estou usando, ninguém senta do meu lado. Hoje é um dia que eu sou o que eu sou sem ter vergonha ou medo”, afirma.

Santos ressalta que a Parada é uma forma de auxiliar no processo de aceitação, ainda mais por criar um meio em que a pessoa LGBTI+ pode se enxergar dentro. “A gente tem que ter esse evento maravilhoso para que esse momento seja mais do que especial para muitas pessoas, assim como para a sociedade entender que é um meio que existe e que mesmo que não faça parte do seu nicho eles precisam coexistir e se respeitar”, afirma.

Os amigos Guilherme Mateus Santos e Lucas Krueger em mais uma edição do evento: para eles, a parada é uma forma de auxiliar o processo de aceitação dos gays
Os amigos Guilherme Mateus Santos e Lucas Krueger em mais uma edição do evento: para eles, a parada é uma forma de auxiliar o processo de aceitação dos gays | Foto: Jéssica Sabbadini

Em sua terceira participação na Parada, Carolina Sacchelli Costa, 28, veio de Apucarana com um grupo de amigos para a edição de 2023. Sobre a importância do evento, ela reforça que é um momento de luta pelo direito de ser o que cada pessoa é. “A gente merece ser a gente e esse é um momento em que a gente consegue ser quem a gente realmente é sem nenhum tipo de camada”, explica. Ela pontua que eles estão começando com um movimento para criar uma Parada LGBTI+ também em Apucarana. “Eu me assumi com 15 anos e hoje eu vejo vários relatos de pessoas que estão fechadas dentro de si. É muito difícil você não poder ser quem você é”, ressalta, afirmando que a Parada é um momento de acolhida e de conhecer novas pessoas.

Carolina Sachelli Costa veio de Apucarana para participar da Parada em Londrina: "esse é um momento em que a gente consegue ser quem a gente realmente é sem nenhum tipo de camada”
Carolina Sachelli Costa veio de Apucarana para participar da Parada em Londrina: "esse é um momento em que a gente consegue ser quem a gente realmente é sem nenhum tipo de camada” | Foto: Jéssica Sabbadini

DIFICULDADES E PRECONCEITO

Juntos há dois anos, o casal Naylyl Camily, 21, e Elias Gomes da Silva, 21, enfrentou muitas dificuldades e muito preconceito antes - e depois - de se conhecerem. Naturais de Astorga, Camily conta que foi expulsa de casa quando a família descobriu que ela era bissexual, que fez com que ela se sentisse no “fundo do poço”. A virada só veio depois de conhecer Elias e, com isso, a decisão de viverem juntos.

Antes de conhecer a esposa, Silva lembra o fato de ter crescido em uma família cristã que o obrigou a “fechar a boca” para esconder o que ele era. Apesar do passado difícil, o casal afirma que a vida hoje é “maravilhosa” e que a felicidade de estarem juntos afeta positivamente todos os aspectos da vida.

Pela primeira vez na Parada de Londrina, o casal conta que a experiência é surreal, principalmente pelo fato de que “ninguém olha torto”. “Aqui a gente não tem aquele medo, já que tem vezes que só de pedir uma informação você leva um esculacho”, afirmam.

O casal Naylyl Camily e Elias Gomes da Silva enfrentou muitas dificulades antes e depois de se conhecerem
O casal Naylyl Camily e Elias Gomes da Silva enfrentou muitas dificulades antes e depois de se conhecerem | Foto: Jéssica Sabbadini

A professora de pole dance Fernanda Fugi, 29, participou pela terceira vez da Parada LGBTI+ com uma apresentação de pole. Segundo ela, estar no evento é um sonho e um orgulho, ainda mais pelo fato de que a Parada reune artistas de diversos setores culturais. Sobre a sexualização do pole dance, ela ressalta que é fundamental que a modalidade saia de dentro das escolas de dança e ocupe outros espaços, já que isso vai permitir com que as pessoas entendam que o pole dance pode ser algo sensual, mas que também pode ser divertido, suave ou agressivo. Fugi opina que trazer um evento desse para uma cidade que ainda é conservadora é uma forma de resistência de toda a comunidade LGBTI+.