O erro: Warren Beaty já tinha anunciado o Oscar para "La La Land" quando o produtor do filme, Jordan Horowitz, teve que desfazer a confusão: premio era para ‘Moonlight"
O erro: Warren Beaty já tinha anunciado o Oscar para "La La Land" quando o produtor do filme, Jordan Horowitz, teve que desfazer a confusão: premio era para ‘Moonlight"



Em uma gala onde tudo parecia sob controle, um inesperado constrangimento de última hora a transformou em histórica. A dupla de atores de "Bonnie and Clyde", Warren Beatty e Faye Dunaway, era a encarregada de anunciar o filme vencedor da 89ª edição do Oscar. Em meio a um episódio confuso, a estatueta foi dada a "La La Land", e enquanto toda a equipe do filme celebrava sua sétima e mais importante estatueta, o insólito se fez real: o filme não era o melhor da noite. Foi o produtor Jordan Horowitz quem teve que dar a notícia em meio à emoção efêmera. Seu filme não havia vencido, mas sim "Moonlight – Sob a Luz do Luar", considerado pela Academia o melhor do ano. E, claro, da noite. Em meio ao incômodo e perturbação do momento, a empresa auditora PriceWarterhouseCoopers, responsável pela fiscalização da votação dos membros da Academia, se desculpou pelo "erro" e explicou que Warren e Faye tinham recebido um envelope equivocado" - aquele em que estava escrito "melhor atriz: Emma Stone. Filme: La La Land".
A festa de entrega dos Oscar, como estamos acostumados a assistir ao longo dos anos, é via de regra um evento aborrecido – longo, pouco inspirado e exaustivo. A não ser que ocorra o inesperado, um equívoco de grandes dimensões dignos das crônicas da história do cinema. E foi justamente este insólito que ocorreu na madrugada de ontem. O que durante três horas tinha sido um evento mais tedioso que propriamente animado e pouco matizado, de repente assumiu proporções de grand finale de ópera bufa. Mas enquanto a antológica reviravolta não aconteceu, se esperava um espetáculo com forte carga política – e ao final pode-se dizer que Donald Trump saiu ileso. Desde o começo ele foi cutucado, sim, mas sem a veemência e acidez que meio mundo esperava.

O diretor Barry Jekins comemora o Oscar de melhor filme por ‘Moonlight’: vitória garantida depois de um equívoco que foi um show à parte na cerimônia
O diretor Barry Jekins comemora o Oscar de melhor filme por ‘Moonlight’: vitória garantida depois de um equívoco que foi um show à parte na cerimônia | Foto: Fotos: Divulgação



Jimmy Kimmel, o estreante mestre de cerimônias, optou por não sair muito de um script via de regra bem comportado e modestamente engraçado. Investiu contra Trump e logo desviou sua mira sarcástica para Mel Gibson e Matt Damon, alvos preferenciais e inside jokes. Mas a melhor piada em toda a gala foi quando se dirigiu a Meryl Streep: "Bonito vestido. É um Ivanka?", referindo-se à polêmica em torno da coleção da filha de Trump e à rejeição da poderosa cadeia de lojas de departamentos Nordstrom. O comediante cumpriu seu papel, levando em conta que a expectativa não era das maiores.
"La La Land" também não arrasou como se esperava, ficando com seis estatuetas das 14 potenciais. Grandes Casey Affleck e Kenneth Lonergan, respectivamente melhor ator e roteirista de "Manchester by the Sea", que fez a diferença – ao lado de "Moonlight" – a favor da indiscutível maior qualidade das produções independentes. Emma Stone, embora correta (e afinada) em "La La Land" levou o prêmio de melhor atriz, mas não chega aos calcanhares de Isabelle Huppert, infelizmente dose letal para o padrão não dramatúrgico "único" dos votantes da Academia. Discursos: sem grandes novidades. O mexicano Gael Garcia Bernal se anunciou "contra qualquer muro que nos separe". Casey Affleck, tão frio como em seu personagem em "Manchester". Viola Davis, melhor coadjuvante, a mais determinada, a mais objetiva e a mais emotiva – pequeno pronunciamento sobre o que é ser atriz e ser humano.
E mesmo que o triunfo de "Moonlight" fique para sempre associado ao erro imperdoável cometido na troca de envelopes, o que deve não deve ficar fora de foco aquilo que se revelou fundamental: um filme como o de Barry Jenkins se impôs sobre todas as demais produções. Em certa medida, é um forte indício de que a Academia está deixando de olhar para o próprio umbigo e de celebrar a auto referência para apostar por um cinema independente que falar sobre a diversidade.
Premiados do Oscar 2017: http://www.folhadelondrina.com.br/folha-2/confira-os-vencedores-do-oscar-2017-971148.html