São categorias que, ao longo das últimas décadas, ganharam força e maior visibilidade, e não apenas durante a festa de premiação mais popular do planeta, mas principalmente por conta da flexibilização do sempre fechado mercado exibidor norte-americano e (bem menos) o internacional, que acolhe cada vez mais o melhor da ficção produzida em outros países (leia-se outras culturas); assimila com muita simpatia as novas ideias surgidas no território sempre fértil da animação; e se abre à discussão via documental de temas de candente contemporaneidade – políticos, sociais, psicológicos.

No segmento de filmes de língua não inglesa, ou filme estrangeiro, a seleção se complicou quando, sem motivo aparente, mas com motivos subliminares (quem viu o filme, já exibido em Londrina, sabe por que), a Academia desprezou o favorito, o francês "Elle" (Globo de Ouro), de Paul Verhoeven. Com o descarte, despontou o segundo mais cotado, a excepcional comédia dramática alemã "Toni Erdmann" (minha aposta) seguido de perto pelo melodrama iraniano de fundo moral, "Forushande/O Apartamento", por outra comédia dramática, a sueca, afável e complascente "Um Homem Chamado Ove" e pelo reflexivo panfleto antibelicista dinamarquês "Terra de Minas". São todos boas opções de consumo climatizado doméstico para enfrentar o calor senegalesco que promete continuar infernizando a cidade no feriadão de Carnaval, e estão disponiveis nas lojas especializadas-em-cópias-exemplares-vocês-sabem-onde.

"Moana" contempla a integração feminina
"Moana" contempla a integração feminina



A categoria de melhor filme de animação quase sempre oferece surpresas, por mais que o potencial vencedor venha a ser identificável previamente . E nos últimos anos o facilmente identificavel traz a marca imbatível da Pixar. Como agora não há Pixar entre os nominados, os cinco da lista ganharam oportunidades. Não exatamente iguais, porque o selo Disney está presente em dois títulos: "Zootopia", belo exemplo de discurso sobre inclusão, e "Moana", que tambem reconhece os esforços da Disney quanto à integração feminina. São duas animações talentosas, ambas já exibidas na cidade, mas "Zootopia" tem mais chances de repetir a vitória obtida no Globo de Ouro.

"Zootopia": grande chance de levar o Oscar de animação
"Zootopia": grande chance de levar o Oscar de animação



Correndo por fora, "Kubo e as Cordas Mágicas" é uma "stop motion" dos estudios Laika, e tem uma legião de fãs mundo afora, que ressaltam seu esmero técnico e visual.
"A Tartaruga Vermelha", do lendário estúdio japonês Ghibli do mestre Hayao Myiazaki, mistura animação japonesa com narrativa francesa para contar a história (sem diálogos) de um náufrago que tem sua solidão quebrada pela amizade com uma grande tartaruga. E por fim, "Minha Vida de Abobrinha": sua técnica artesanal e um discurso humanista (garoto no orfanato busca seu lugar no mundo) fizeram desta produção franco-suiça a queridinha da crítica européia. Até pode surpreender, mas a xenofobia hollywoodiana é sempre uma barreira.

"O.J. Made in America": da TV para o cinema
"O.J. Made in America": da TV para o cinema | Foto: Fotos: Divulgação



E por fim os documentaristas, cada vez mais presentes nas grades de programação das redes a cabo, abrindo janelas de exibição para o genero que tem nos festivais seu espaço mais amplo. "O.J. Made in America" parece o mais propenso a levar a estatueta, embora seja série realizada para tevê. Com menos chances, mas com certeza bem superior, "I Am Not Your Negro", baseado no livro inacabado de James Baldwin, o documentário de Raul Peck recupera a história do racismo nos EUA através das lembranças do escritor em torno de figuras como Medgar Evers, Malcolm X e Martin Luther King.

"Eu Não Sou Negro" recupera história de racismo
"Eu Não Sou Negro" recupera história de racismo