Carlos Eduardo Lourenço Jorge
De Londrina
Especial para a Folha 2
É hoje a entrega do Grande Prêmio Cinema Brasil, criado pelo Ministério da Cultura. Trata-se de uma tentativa de dar prestígio e divulgar o cinema made in Brasil
A cerimônia promete, se não reeditar o glamour das grandes festas de reconhecimento aos melhores do cinema mundial, pelo menos não fazer feio diante da platéia doméstica. Hoje, a partir das 20 horas, e durante duas horas e meia, a atriz Regina Casé comanda a apresentação dos vencedores da primeira edição do Grande Prêmio Cinema Brasil. A idéia da premiação aos melhores do cinema brasileiro em 1999 partiu do Ministério da Cultura, mais precisamente da Secretaria do Audiovisual. A justificativa oficial: uma vez consolidada a Lei do Audiovisual, responsável pela retomada da produção, e acionados os mecanismos visando à distribuição e a exibição, chegou a hora de estimular a competição em escala nacional. E consequentemente direcionar o interesse do publico para o produto cinematográfico nacional.
O palco escolhido pelo MinC para abrigar o desfile de celebridades do cinema nacional foi o Palácio Quitandinha, em Petrópolis. Uma escolha estratégica que, de maneira nostálgica, reflete a busca de novos tempos cinematográficos, tão felizes e eufóricos quanto aqueles em que o charmoso ex-hotel-cassino, ali pela metade do século, servia como cenário de concorridíssimas chanchadas carnavalescas, o mais autêntico cinema popular já realizado no país.
Mas enquanto o novo tempo não chega, a Secretaria do Audiovisual promove a festa de hoje à noite num momento (mais um) particularmente complicado – traumático, a idéia mais adequada – para a classe cinematográfica. Semi-imobilizados por nova fase de escassez de recursos, tentando exorcizar o fantasma redivivo de uma era de falcatruas sob a égide da falecida Embrafilme (leia-se casos ‘‘Chatô’’ e ‘‘O Guarani’’, ou o colarinho branco por trás das câmeras), e com cerca de duas dezenas de longas-metragens em quarentena, os realizadores brasileiros não devem estar particularmente ligando para este Oscar tupiniquim.
Que aliás já foi entregue nos anos 70, durante a ditadura militar, quando atendia pelo nome de Coruja de Ouro, prêmio idealizado pelo também falecido Instituto Nacional do Cinema. Durou nem meia dúzia de anos, naufragando na esterilidade cultural então reinante.
Segundo o MinC, uma comissão de seleção, presidida pelo secretário do Audiovisual, José Álvaro Moisés, se reuniu no Rio no dia 3 de dezembro. Deste encontro de avaliação surgiu a lista de nominações para seis categorias (confira nesta página o nome dos concorrentes). Há outras 11 categorias, escolhidas diretamente por um júri especial e que também serão anunciadas durante a cerimônia de hoje à noite.
Estão previstas algumas homenagens, a maioria justificadas, outras nem tanto. Fernanda Montenegro recebe seu troféu especial na esteira do cinquentenário de atividades artísticas, e ainda ao sabor das emoções nacionalistas de quase embolsar, há um ano, o primeiro Oscar. Que provavelmente seria roubado e equivocadamente derretido -–a estatueta é dourada apenas por fora. Parte da grande dívida que a intelectualidade tropical tem para com outro homenageado vai ser resgatada logo mais: aos poucos Anselmo Duarte é recolocado no lugar de destaque que lhe é devido na história do cinema brasileiro.
Ao diretor Joaquim Pedro de Andrade, morto em 1988 aos 56 anos, o reconhecimento para um dos raros autores na acepção mais justa do termo, um cineasta coerente e responsável, pelo menos, por duas obras-primas: ‘‘Macunaíma’’ ( 71) e ‘‘Os Inconfidentes’’(73). Zezé Motta, a Xica da Silva que já foi a nossa Woopi Goldberg, também recebe o reconhecimento do MinC. Finalmente, uma láurea para Vera Fischer, um pouco deslocada neste contexto. E entre um e outro prêmio, Caetano Veloso e Ivan Lins, respectivamente, desfilam as canções que fizeram para ‘‘Orfeu’’ e ‘‘Dois Córregos’’.
A TVE garantiu transmissão ao vivo, inclusive com dois repórteres atuando e exibindo cenas de bastidores, tudo como manda o figurino made in USA.

Confira a relação dos indicados
Melhor filme brasileiro (longa-metragem)
•‘‘Amor & Cia’’, de Helvécio Ratton
•‘‘Primeiro Dia’’, de Walter Salles e Daniela Thomas
•‘‘Orfeu’’, de Carlos Diegues
•‘‘Por Trás do Pano’’, de Luiz Villaça
•‘‘Um Copo de Cólera’’, de Aluízio Abranches
Melhor ator
•Daniel Dantas, em ‘‘Traição’’
•Marco Nanini, em ‘‘Amor & Cia.’’
•Matheus Nachtergaele, em ‘‘O Primeiro Dia’’ e na minissérie para tevê ‘‘O Auto da Compadecida’’
•Murilo Benício, em ‘‘Orfeu’’ e ‘‘Até Que A Vida Nos Separe’’
•Othon Bastos, em ‘‘Mauᒒ
Melhor Atriz
•Denise Fraga, em ‘‘Por Trás Do Pano’’
•Fernanda Torres, em ‘‘Traição’’ e ‘‘O Primeiro Dia’’
•Júlia Lemmertz, em ‘‘Um Copo De Cólera’’, ‘‘A Hora Mágica’’ e ‘‘Até Que A Vida Nos Separe’’
•Marília Pera, em ‘‘O Viajantes’’
•Maria Luiza Mendonça, em ‘‘Coração Iluminado’’
Melhor série de televisão
•‘‘O Alto da Compadecida’’, TV Globo
•‘‘Chiquinha Gonzaga’’, TV Globo
•‘‘Labirinto’’, TV Globo
•‘‘Mulher’’, TV Globo
Melhor diretor
•Carlos Diegues, por ‘‘Orfeu’’
•Carlos Reichenbach, por ‘‘Dois Córregos’’
•Hector Babenco, por ‘‘Coração Iluminado’’
•Luiz Villaça, por ‘‘Por Trás do Pano’’
•Walter Salles e Daniela Thomas, por ‘‘O Primeiro Dia’’
Melhor filme estrangeiro (longa-metragem)
•‘‘Deconstructing Harry’’ (‘‘Desconstruindo Harry’’), de Woody Allen (USA)
•‘‘Eyes Wide Shut’’(De Olhos Bem Fechados’’), de StanleyKubrick (GB/USA)
•‘‘Festen’’ (‘‘Festa em Família’’), de Thomas Winterberg (Dinamarca)
•‘‘Hanna-Bi’’ (‘‘Fogos de Artifício’’), de Takeshi Kitano (Japão)
•‘‘Todo Sobre Mi Madre’’ (‘‘Tudo Sobre Minha Mãe’’), de Pedro Almodóvar (Espanha)