Marcia Kupstas: " Sempre fui fascinada por palavras e mesmo as árduas aulas de gramática me pareciam enigmas sedutores"
Marcia Kupstas: " Sempre fui fascinada por palavras e mesmo as árduas aulas de gramática me pareciam enigmas sedutores" | Foto: Divulgação



A escritora Marcia Kupstas nasceu na cidade de São Paulo, em 1957. Seu fascínio pela leitura é resultado das histórias que ouvia dos pais e dos avós na infância. Em 1982, formou-se professora de Língua Portuguesa e Literatura pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Inscreveu inúmeros contos em concursos e publicou textos em antologias. Em 1986, publicou seu primeiro livro, "Crescer é perigoso", pelo qual recebeu o prêmio de revelação do Concurso Mercedes-Benz de Literatura Juvenil. Outros prêmios vieram desde então, dentre eles um Jabuti. Hoje, Marcia tem mais de cem obras publicadas. O último lançamento foi o livro "Quem quer ficar, quem quer partir", pela editora Ática, no qual toca em temas delicados, como o preconceito, os problemas de família e o alcoolismo.

O que você mais gostava de fazer na escola quando criança?
Adorava as aulas de Redação. O professor Paulo, no Colégio S. Miguel Arcanjo, onde estudei, incentivava a leitura e o texto. Eu passava a semana planejando minha redação e às vezes enviava textos de 12, 15 páginas. Chegou uma hora em que ele só dava visto, porque a maioria dos colegas escrevia coisa de duas páginas.

Qual a melhor lembrança desse período de escola?
O caramanchão da escola, entre ruazinhas arborizadas. Era um colégio de freiras e a gente podia caminhar por ali, no recreio. Tudo me parecia tão bonito.

Havia alguma matéria que gostava mais? E qual era a que gostava menos?
Ah, como adorava as aulas de Português. Sempre fui fascinada por palavras e mesmo as árduas aulas de gramática normativa me pareciam enigmas sedutores. Já os enigmas matemáticos continuam misteriosos até hoje. Se bobear, tropeço em "conta de vezes" e tabuada (risos).

O que você gostava de comer na hora do recreio?
Cachorro-quente e pastel de feira. Um dia na semana havia uma feira livre na rua da escola e era ótimo dar uma escapada e devorar um generoso pastel de carne moída.

Você já ficou de castigo ou levou bronca do professor alguma vez? Como foi?
Era uma aluna muito certinha, do tipo "queridinha do professor"; portanto, mais concorrente a sofrer "buylling" dos colegas por isso do que punição da administração escolar.

Suas notas eram boas? Qual a disciplina que ia melhor?
Em toda a minha vida eu me lanço com dedicada paixão ao que gosto e sofrimento existencial pra "passar raspando" naquilo que desgosto. Quando criança, era a mesma coisa. Amava História, Português, Geografia; me desesperava com Matemática e Ciências. Às vezes, para conseguir nota, partia para "trabalhos criativos". Lembro até hoje de um texto teatral sobre números primos, peça que dividi com outros colegas que iam mal de nota, para seduzirmos o professor de Matemática. Até que funcionou.

Como começou na literatura?
Profissionalmente, em 1986, com "Crescer é Perigoso". Mas já participava de concursos literários desde a adolescência e enviava textos para o grêmio na universidade, colaborava com contos em revistas.

Já gostava de escrever/desenhar quando criança?
Bom, há uma anedota familiar que diz que eu, aos 5 anos de idade (portanto, ainda sem saber ler), sentava no colo de meu pai e ditava um livro. Depois, pedia que ele lesse o texto em voz alta; reclamava muito se papai tivesse mudado alguma palavra, porque lembrava exatamente o que havia ditado. Nesta idade, já dizia que ia ser escritora. As histórias são a minha paixão da vida inteira.

Quais eram os autores preferidos nessa época?
Monteiro Lobato foi meu primeiro amor. Adorava tanto seus livros (alguns li e reli mais de dez vezes), que durante alguns Natais e aniversários ganhei seus livros infantis como presente. Tenho os volumes até hoje.

Quando criança, imaginava que teria essa profissão?
Sempre.