Ziraldo, jornalista, escritor, chargista, desenhista, cronista, poeta e caricaturista que ganhou fama internacional como o criador de "O Menino Maluquinho", morreu no sábado (6), aos 91 anos, no Rio de Janeiro e foi sepultado no domingo (7) no Cemitério São João Batista, na zona sul carioca. O velório foi realizado no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio, onde , além da família, centenas de fãs e leitores prestaram suas últimas homenagens.

Sua morte repercutiu em todo Brasil, tanto na imprensa quanto nas redes sociais. Cartunistas como o mineiro Quinho, Daniel Lafayette e Adão Iturrugarai homenagearam Ziraldo com charges e ilustrações.

Nascido em Caratinga (MG), em 1932, ele consolidou sua carreira na imprensa de São Paulo e Rio de Janeiro. Destaque de uma geração que enfrentou a ditadura com verve e humor, foi um dos criadores do jornal O Pasquim - fundado em 1969 - juntamente com Millôr Fernandes, Jaguar, Paulo Francis e Luiz Carlos Maciel, entre outros. O jornal foi considerado um dos principais veículos de resistência durante o regime militar no Brasil, Ziraldo chegou a ser preso três vezes por suas ideias e seu trabalho.

Mas foi nos quadrinhos, como criador de "A Turma do Pererê" - primeira revista em quadrinhos brasileira feita por um só autor - "O Menino Maluquinho" e "Flicts" que ele conquistou um público especial no Brasil: as crianças. Alguns de seus livros venderam cerca de 10 milhões de exemplares, suas histórias foram traduzidas em vários idiomas e ele foi reconhecido no exterior onde recebeu prêmios. Sua presença nas escolas brasileiras foi marcante, participando de eventos para incentivar a leitura entre crianças e jovens.

Também trabalhou em jornais importantes da imprensa brasileira, desde a Folha da Manhã (atual Folha de S. Paulo), até a revista O Cruzeiro e Jornal do Brasil, onde ganhou evidência a partir dos anos 1960. Em 2018, ele ganhou uma megaexposição em homenagem aos seus 80 anos de carreira.

Pai da cineasta Daniela Thomas e de compositor Antonio Pinto, ele já estava doente há algum tempo, depois de sofrer o primeiro AVC (Acidente Vascular Cerebral) em 2018.

Sua morte, em torno das 15h de sábado, ocorreu enquanto ele estava dormindo no seu apartamento na Lagoa, Zona Sul do Rio, e foi informada pela família. A morte de Ziraldo deixa um enorme vazio na literatura e nas artes visuais do Brasil.

PERSONAGENS QUE MARCARAM

PERSONAGENS QUE MARCARAM

Ziraldo criou personagens que marcaram a infância no Brasil; veja os mais famosos

SÃO PAULO, SP - O cartunista Ziraldo marcou a infância de milhares de pessoas com suas criações, que ainda hoje fazem parte da memória afetiva dos brasileiros.

Ele teve uma carreira profícua e criou charges, cartuns e personagens considerados emblemáticos para a literatura infantil. Seus livros venderam mais de 10 milhões de exemplares e foram publicados em vários idiomas.

Algumas de suas criações viraram filmes e série de televisão, o que ajudou a renovar o seu público. Confira abaixo os personagens mais emblemáticos do artista:

Flicts

Lançado em 1969, "Flicts" conta a história de uma cor solitária e muito triste que ninguém queria por perto por ser considerada feia e sem graça. Ela não tinha a força do vermelho, a imensidão do amarelo nem a tranquilidade do azul. A obra fala sobre temas considerados essenciais ao amadurecimento, como solidão, não pertencimento e empatia. Por essa razão, se tornou um clássico da literatura infantojuvenil.

O Menino Maluquinho

Não tem como falar de Ziraldo sem citar seu personagem mais conhecido pelos jovens. Maluquinho é um menino que usa panela na cabeça e encanta a todos com o seu jeito travesso e espoleta.

Publicado em 1980, o livro "O Menino Maluquinho" rendeu a ele o Jabuti de literatura infantil e foi adaptado diversas vezes para o cinema, o teatro e a televisão.

Dez anos atrás, o cartunista disse à Folha de S. Paulo que decidiu criar seu personagem mais conhecido após uma palestra com pais e professores sobre a educação dos filhos.

"Disse que devíamos preparar os filhos para o dia de hoje, pois o futuro será feito de muitos 'hojes'", disse ele. Quando chegou em casa, já tinha a ideia do livro na cabeça. Nasceu Maluquinho, que vive um dia por vez, intensamente.

Turma do Pererê

Criado em 1958, "A Turma do Pererê" foi publicado pela primeira vez na antiga revista O Cruzeiro em 1959, com o nome de "Pererê". A história conta as peripécias de um grupo formado por Saci, sua namorada Boneca de Pixe, seus amigos indígenas Tininim e Tuiuiú e animais como uma onça branca, um jabuti, um macaco e um tatu.

"A Turma do Pererê" fez tanto sucesso que virou um especial da TV Globo em 1983. Além disso, a história ganhou uma série na TV Brasil, exibida no começo dos anos 2000.

Uma Professora Muito Maluquinha

O sucesso de "O Menino Maluquinho" inspirou a criação de uma outra personagem fora do comum. "Uma Professora Muito Maluquinha" conta o dia a dia de uma profissional cheia de carisma, que ensina os seus alunos de forma diferente para fugir da monotonia. A história virou filme em 2011, estrelado pela atriz Paolla Oliveira.

Supermãe

A personagem surgiu em 1968 e foi publicada até 1984 em tiras do Jornal do Brasil e nas páginas da revista Claudia. De forma bem-humorada, Ziraldo retratava na saga de Clotildes e seu filho Carlinhos, o zelo exagerado dela e os seus apelos melodramáticos. (Folhapress)