Renato Forin Jr, autor de ‘Samba de Uma Noite de Verão’: "Que essa indicação sirva de incentivo para mostrar a qualidade das ações culturais produzidas em Londrina"
Renato Forin Jr, autor de ‘Samba de Uma Noite de Verão’: "Que essa indicação sirva de incentivo para mostrar a qualidade das ações culturais produzidas em Londrina" | Foto: Marcos Zanutto



A divulgação dos finalistas do Prêmio Jabuti 2017, realizada no início deste mês, colocou o nome de dois londrinenses em evidência ao lado dos grandes nomes da literatura nacional. Entre os dez selecionados das 29 categorias da premiação estão Renato Forin Jr., na categoria Adaptação, com o livro "Samba de uma Noite de Verão" (2016, Editora Kan), e Eugênio Canesin Dal Molin com "O Terceiro Tempo do Trauma" (editora Perspectiva), na categoria Psicologia, Psicanálise e Comportamento. Em entrevista à Folha, os autores falam sobre a expectativa em torno das próximas etapas do prêmio.

Neste ano, o Prêmio Jabuti teve 2.346 obras inscritas. Dentre os dez finalistas de cada categoria da premiação, as três obras que receberem a maior pontuação dos jurados na segunda etapa, agendada para o dia 31 de outubro, serão consideradas vencedoras em primeiro, segundo e terceiro lugares. A cerimônia de entrega do Jabuti acontecerá dia 30 de novembro, no Auditório Ibirapuera Oscar Niemeyer, em São Paulo. Os primeiros colocados de todas as categorias que compõem o prêmio receberão o troféu Jabuti e R$ 3,5 mil; também os vencedores dos segundos e terceiros lugares ganharão o troféu.

Após superar a dúvida de se inscrever ou não sua primeira publicação literária na maior premiação brasileira da área, Renato Forin Jr. conta que foi pego de surpresa quando soube que estava entre os finalistas do prêmio. "No início fiquei meio descrente, mas quando constatei que de fato meu nome estava lá a sensação foi de uma felicidade muito grande", conta o londrinense, que possui mestrado e doutorado na área de Letras e, além de escritor, atua como jornalista, dramaturgo e diretor teatral.
O escritor salienta que não se trata de uma felicidade individualista simplesmente, mas sim de uma satisfação coletiva. "Não é simplesmente pelo fato de estar lá, mas sobretudo porque tem uma série de características especiais estar entre esses dez finalistas. Entre elas, o fato do livro ter sido publicado por uma pequena editora numa cidade do interior do País, fora dos grandes centros. E também por ter sido um livro patrocinado pelo Promic (Programa Municipal de Incentivo à Cultura)", afirma.

Em "Samba de uma Noite de Verão", Forin Jr. faz metáfora da formação do Brasil a partir das dores e prazeres do seu ritmo mais miscigenado. O livro é uma reescritura do texto mais popular e lírico do dramaturgo inglês William Shakespeare. Com sotaque bem brasileiro, índios, negros, mestiços e brancos cruzam-se, separam-se, confundem-se, interagem numa dança de ritmos que acaba dando samba. "Talvez o que tenha mais saltado aos olhos desse juri tenha sido a criatividade no processo de reescritura de um clássico a partir de elementos brasileiros que são a mistura, a miscigenação e o amálgama que compõem a cultura. Quando fiz essa reescritura realizei uma profunda pesquisa em relação aos mitos da cultura afro-brasileira. Os orixás que aparecem no livro, por exemplo, fazem paralelos com os deuses gregos retratados pelo Shakespeare. Imagino que essa criatividade tenha sido um elemento valorizado pelo juri", argumenta.
Quanto à expectativa em torno das próximas fases do Prêmio Jabuti, Forin Jr. ressalta que já se sente vitorioso por fazer parte da lista dos finalistas. "A gente vive num espaço em que produzir arte e cultura é como um sacerdócio. É sempre com sacrifício. Os prêmios, se eles servem pra alguma coisa, não é para nenhum tipo de afetação pessoal ou deslumbramento, mas simplesmente para nos dar um impulso que nos diz: 'Siga por aí, ainda é possível", enfatiza.

O londrinense salienta ainda que seu desejo é de que a premiação sirva como elemento de valorização da cultura de Londrina. "Quero destacar sobretudo a importância que o Promic tem para a vida e a história dessa cidade. É um programa de referência no Brasil inteiro e sem ele não teria conseguido editar meu livro. Londrina é uma cidade ligada à vanguarda, à cultura e às artes e reconhecida internacionalmente, inclusive. E a gente verifica que muitas vezes essa história e conquistas todas que temos dentro do campo da cultura são fragilizadas por comentários e pela transitoriedade de políticas. Vejo que muitas vezes esse programa e a cultura da cidade são colocados em xeque e questionados. Que esse prêmio sirva de incentivo para mostrar a qualidade das ações culturais produzidas na cidade", reforça.

Lançado em 2016, "Samba de uma Noite de Verão" é o primeiro livro de Forin Jr. Para quem tiver interesse em comprar o livro, o valor de capa é R$35 e pode ser adquirido diretamente pelo whatsapp (43) 99979-3349 ou na Funcart (Rua Senador Souza Naves, 2380)

Encontro entre psicanálise e literatura
Fruto de uma tese do curso de mestrado , o livro "O Terceiro Tempo do Trauma: Freud, Ferenczi e o Desenho de um Conceito", publicado pela Editora Perspectiva, colocou o psicanalista londrinense Eugênio Canesin Dal Molin na lista dos finalistas do Prêmio Jabuti 2017 na categoria Psicologia, Psicanálise e Comportamento. A publicação é resultado de uma pesquisa rigorosa na qual o autor utiliza linguagem acessível e exemplos da literatura que contemplam não só os psicanalistas como o público em geral. Entrelaçando momentos e histórias, ele parte do diálogo de Sigmund Freud e Sándor Ferenczi sobre os soldados traumatizados na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e chega aos dias de hoje considerando, inclusive, casos clínicos sob sua responsabilidade.

Dividindo seu tempo entre atividades profissionais realizadas em Londrina e São Paulo, Dal Molin afirma ter ficado muito feliz por estar na lista dos finalistas da premiação nacional. "A lista dos dez finalistas da categoria contém autores que realizaram ótimos trabalhos, alguns são amigos e professores; ou seja, é uma satisfação estar entre eles. Alguns colegas entraram em contato e a editora avisou sobre a divulgação da listagem. Tinha uma vaga esperança, tão vaga que ao saber da notícia fiquei surpreso", relata.

"O Terceiro Tempo do Trauma: Freud, Ferenczi e o Desenho de um Conceito" é o primeiro livro lançado por ele. "É um reconhecimento, a meu ver, enorme, de um modo de pensar o trabalho clínico e de pesquisar. E o fato de ser um livro oriundo de um mestrado mostra que a academia também dá liberdade de escrita ao pesquisador. Vou continuar trabalhando, atendendo em duas cidades, como tenho feito há dez anos, e agora com o incentivo desse reconhecimento", enfatiza. (M.R.).

Sucesso na contramão do mercado
Na contramão do mercado editorial brasileiro que normalmente privilegia publicações produzidas em grandes centros, a editora londrinense Kan conseguiu a proeza de ter dois títulos indicados como finalistas ao Prêmio Jabuti nos últimos anos: "Experiências Extraordinárias", de Rodrigo Garcia Lopes, em 2015, na categoria poesia, e agora "Samba de uma Noite de Verão", de Renato Forin Jr., em 2017, na categoria adaptação. "Para uma editora pequena como a Kan, sediada numa cidade do interior no Paraná, que publica poucos livros por ano, trata-se de uma conquista, e claro, fruto de muito trabalho. Mas, além disso, oferece a constatação de que a editora está produzindo, num mesmo grau de qualidade que as grandes editoras do país, livros indicados entre os melhores no Brasil", afirma o coordenador editorial Marcos Losnak, que é também colaborador da FOLHA.

Ele salienta que no mercado editorial brasileiro as grandes editoras só apostam em livros que podem ter um retorno monetário certo, rápido e exato, a lógica de qualquer grande empresa. "Nesse contexto, novos autores, ou escritores pouco reconhecidos, ficam à deriva. As pequenas editoras vêm, há anos, publicando esses autores. Depois que eles passam a ser conhecidos e reconhecidos, começam a ser publicados pelas grandes editoras", exemplifica.

Na avaliação de Losnak, a indicação do Prêmio Jabuti garante maior visibilidade. "Principalmente para os autores iniciantes, que geralmente são pouco conhecidos. Um dos desafios de um livro é conseguir aparecer entre as centenas e centenas de títulos lançados anualmente pelo mercado editorial brasileiro. O Jabuti tem esse papel. Para se ter uma ideia, foram inscritos 2.346 livros editados no ano de 2016 para concorrer ao prêmio", ressalta.

Ele ainda salienta que há ótimos escritores produzindo em Londrina. "Autores com anos de estrada e autores dando os primeiros passos. Mas é preciso levar em conta que um livro, enquanto objeto de leitura, não se faz apenas com palavras. É preciso produzir livros com profissionalismo que favoreçam uma leitura agradável, levando em consideração a edição, a revisão, o papel utilizado, a tipologia, o design gráfico, enfim, todos os elementos que potencializam as palavras. Londrina tem um longo caminho nessa direção", conclui. (M.R.)