Gramado, RS, 15 (AE) - A história de um garoto que trabalha numa máquina Xerox e apreende o mundo pelos fragmentos de textos que reproduz é o tema do primeiro longa-metragem do gaúcho Jorge Furtado. O filme, que tem por título "O Homem que Copiava", entra agora na fase de captação de recursos e deve começar a ser rodado no segundo semestre do ano que vem. Furtado é o talentoso autor de "Ilha das Flores" e da série "Comédias da Vida Privada", que fez para a "Rede Globo". No meio cinematográfico brasileiro havia uma pergunta constante, que não queria calar: "Quando Jorge Furtado vai fazer um longa-metragem?" Essa pergunta começa a ser respondida agora.
Na verdade, ele já tinha um projeto anterior para longa, Anchietanos, título que remete ao colégio onde estudou. Por dificuldades seguidas para levantar a produção, o projeto foi sendo adiado. Até que o diretor, cansado, resolveu adaptá-lo para "Comédias da Vida Privada". Era a história de um grupo de amigos de escola, politicamente de esquerda, e que, depois de formados, curva-se ao realismo da vida prática. Um balanço de geração, agridoce, um tanto nostálgico e muito denso. Quem viu o programa, ficou surpreendido de que a televisão, por uma vez, tivesse alcançado um nível como aquele. Sintomaticamente, foi o último programa da série.
O diretor diz que está desenvolvendo o projeto de "O Homem que Copiava" faz cinco anos. O personagem é André, que trabalha numa papelaria de bairro. Enquanto tira cópias, encontra tempo para ler pequenos trechos de documentos. "Essa é toda a sua cultura, sua visão de mundo, fragmentada, precária, sem começo, meio ou fim." Furtado acha que a sua geração (ele acabou de fazer 40 anos) já foi criada pela televisão. As gerações seguintes são as do controle remoto. Vêem o mundo estruturado como um indefinido zapping. E não apenas isso. O tipo de conhecimento flutuante, que vem da Internet, induz a esse tipo de apreensão do mundo por fragmentos. Metonímico. A parte pelo todo.
Além de André, existem na trama outros três personagens. A namorada do homem que copiava, Sílvia; Marinês, colega de André na papelaria e que namora Cardoso. Ele tem uma problema: parou de fumar e sente muita falta do cigarro. O elenco ainda não está definido. Mas Furtado tem uma preferência: "O personagem que abandona o cigarro não tem esse nome por acaso; eu o criei pensando no Pedro Cardoso."