Nomes de batismo como Bianca, Fabrizia, Raffaelle e Vittoria - assim como Carlo, Enzo e Luca têm em comum a origem italiana. Atemporais, são até os dias atuais escolhas de muitas famílias - seja pelas raízes, pela sonoridade ou simpatia.

Em 2024, a imigração italiana completa a 150 anos no Brasil e o Paraná acolheu imigrantes em busca de trabalho, abrigo e novas perspectivas. Em Londrina há representatividade e, de modo natural, ao longo das gerações, muitas tradições se conservam em um sinal da grande herança cultural proveniente da Itália.

Diretora executiva e fundadora da I Bravíssimi, Hylea Ferraz considera que os nomes de batismo, por exemplo, representam uma continuidade às origens. "Muitas famílias ainda fazem as reuniões para almoços típicos de domingo."

Ferraz destaca uma tradição em Londrina, que são as missas celebradas na língua italiana. "No ano passado, algumas dessas missas receberam mais de 100 pessoas aqui na cidade. E sem contar o turismo e como se organizam para viajar e conhecer a terra dos antepassados", enumera.

UM CORAÇÃO PARA DOIS MUNDOS

Gloria Magnani, 14 anos, nasceu na Itália, região da Emília-Romagna. "Desde que nasci minha família e eu nos dividimos entre o Brasil e a Itália. Nossa cidade na Itália se chama Cesenatico, região central da Itália, às margens do Mar Adriático. Meu pai, Massimo Magnani é natural de Cesenatico e minha mãe, Dagmar Maciel Magnani tem origem Veneta", narra.

Nos dias atuais, está em Londrina, onde cursa o Ensino Médio. "Após anos conciliando meus estudos aqui no Brasil com os meus estudos na Itália, no ano passado felizmente conclui o Fundamental II tanto lá quanto aqui. Foi um ano muito intenso com formatura em junho na Itália e depois formatura em dezembro aqui em Londrina", explica.

Glorinha, como é tratada, explica que no último final de ano o pai veio para o Brasil. "Passamos aqui e eu e minha mãe iremos para lá provavelmente em meados de junho".

A estudante é feliz por ter a possibilidade de viver em dois países. "Meus amigos, tanto daqui quanto os de lá já se habituaram com esta rotina diferente e mantenho contato com eles mesmo quando estou distante. Alguns são curiosos, me fazem todos os tipos de perguntas", diverte-se

Gloria Magnani, na foto com os pais, nasceu na Itália mas também estuda em Londrina mantendo uma relação profunda entre dois países
Gloria Magnani, na foto com os pais, nasceu na Itália mas também estuda em Londrina mantendo uma relação profunda entre dois países | Foto: Divulgação

No cotidiano, a jovem afirma que vive a cultura e os hábitos da Itália e do Brasil. "Estão presentes em minha vida de modo muito natural e não me dou conta. Mas confesso que sinceramente gesticulo bastante, falo alto e minha alimentação é influenciada pela culinária italiana: adoro principalmente as massas e o 'gelato”, sorri.

Entre outros costumes, ela assiste a filmes italianos e admira artistas como Mina, Celentano e Andrea Bocelli. "Também gosto dos atuais, por exemplo Alessandra Amoroso, Annalisa e Tiziano Ferro", cita. Glorinha participa de muitas iniciativas da Associação “ I Bravissimi” , entre elas a missa em italiano. "Para mim é importante manter este vínculo com a minha origem. O trabalho que a Associação faz nos aproxima e valoriza a cultura italiana", reflete.

"Muitos me perguntam se prefere o Brasil ou a Itália. Se gosto mais daqui ou de lá? Não tenho preferência, pois em meus dois mundos tenho ótimas oportunidades, conheço pessoas maravilhosas e me relaciono muito bem", alegra-se.

MESA GENUINAMENTE ITALIANA

Mais do que um jantar fora de casa, o restaurante Vittorio Emanuele II, em Londrina, oferece uma experiência gastronômica e cultural a seus convidados. O modo de servir, conforme a tradição italiana – está entre as características que conferem autenticidade à unidade.

Os ingredientes e também o ambiente, encarregam-se de acolher quem chega com se estivesse em solo ítalo. "Carpaccio a la piémontaise" e "Penne alla vodka com cubos de filé mignon", são sugestões de Vittorio Emanuele.

Os 14 anos de atendimento ao público formam uma coleção preciosa de pareceres sobre os diferenciais do estabelecimento que também conserva dois prêmios consecutivos concedidos pelo governo italiano, o Marchio Ospitalità Italiana. Os prêmios são de 2016 e 2017 e, de acordo com o proprietário, chef Alessandro Saba, são vários os requisitos para alcançar a condecoração.

É necessário contar com um chef genuinamente italiano na cozinha. "Manter no salão do restaurante pessoa que converse em italiano e usar produtos italianos." Com visitas às cegas ao restaurante, o chef lista e confirma que não foi ao acaso o reconhecimento. "Os produtos são 99% italianos e importamos a farinha, os azeites e o pinoli”, cita.

Saba acumula experiência no restaurante da família, o Embarcadero Alghero, na Ilha de Sardenha, na Itália. Criar para ele é uma satisfação. Um exemplo é antepasto do chef, feito para surpreender um cliente assíduo. “Tornou-se nosso carro-chefe”. Leva abobrinha, berinjela, azeite e bacon, é também uma maneira de ficar na memória dos clientes e criar laços”, alegra-se.

O chef Alessandro Saba, do restaurante Vittorio Emanuelle II, oferece uma experiência gastronômica genuinamente italiana a seus clientes
O chef Alessandro Saba, do restaurante Vittorio Emanuelle II, oferece uma experiência gastronômica genuinamente italiana a seus clientes | Foto: Roberto Custódio

LITERATURA ITALIANA EM LONDRINA

Pesquisar a cultura italiana é um trabalho que move a professora Márcia Rorato. Há 30 anos, ela estuda profundamente essa influência em Londrina e nas cidades vizinhas. A estimativa é que representantes de mais de 30 etnias vindas de várias partes do mundo desembarcaram em Londrina na época da colonização da cidade.

Anúncios de grandes lotes de terra vermelha e fértil vendidas a preços baixíssimos no município que estava sendo construído no norte do Paraná serviram de atrativo e o maior número de imigrantes veio da Itália, de onde saíram cerca de 770 famílias.

Com o objetivo de valorizar a produção de autores italianos ou de seus descendentes, a professora Márcia Rorato - do Departamento de Letras Estrangeiras Modernas do Centro de Letras e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Londrina (UEL) - realizou a pesquisa intitulada "A Presença Italiana na Literatura e Outras Artes da Pequena Londres e Cidades Vizinhas".

Em seu trabalho em busca de autores dos anos 70 do século XX em diante, em Londrina e depois região, selecionou famílias londrinenses como Pellegrini, Mascchio e Fabiani.

Em recente viagem de estudo pela Itália, Rorato esteve em Castelraimondo, cidade histórica e na Região Marche, que oferece cursos de língua italiana para estrangeiros.

A reunião de atualização e aperfeiçoamento linguístico e didático para docentes em italiano foi organizada pela Escola Campus Magnolie. O tema desta 6ª edição do evento, "Territórios de Linguagem e Aprendizagem". O evento é um grande ponto de encontro para professores do Brasil, Argentina, México, Canadá, Líbano, Armênia, Polônia, Hungria e República Tcheca.

A professora Márcia Rorato, da UEL, pesquisa a influência italiana em Londrina e região desde a época da colonização até hoje
A professora Márcia Rorato, da UEL, pesquisa a influência italiana em Londrina e região desde a época da colonização até hoje | Foto: Divulgação


HISTÓRIA FAMILIAR E EXPOSIÇÃO

Em parceria com o SESC Cultural, a I Bravissimi está organizando uma mostra de fotos, documentos e objetos de famílias italianas. Para participar, é só entregar o material entre os dias 2 de maio e 30 de junho. Uma comissão especializada irá analisar e classificar os materiais, que serão devolvidos após o término da mostra.

A exposição ficará aberta ao público do dia 01 ao 15 de setembro, de terça a domingo, no SESC Cadeião Cultural. Para inscrições e saber mais, é só mandar uma mensagem para o WhatsApp (43) 99957-7031.