As consequências nem sempre visíveis da destruição ambiental é o tema do novo livro de Luiz Taques, “Triste Relato de Uma Peixinha Miúda”.

Lançado pela editora Maria Petrona, a novela utiliza o antropomorfismo para apresentar a história de um peixe que habita a região fluvial do Pantanal. Uma história que revela o drama dos rios destruídos pelas mãos humanas em nome do progresso.

Narrada do ponto de vista de uma “peixinha” em luta pela sobrevivência, a novela estabelece uma analogia entre a expulsão dos animais de seus ambientes naturais e os humanos expulsos de seus lugares nativos.

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Nascido na cidade de Corumbá, o escritor e jornalista Luiz Taques reside em Londrina há décadas. É autor de “Pedro” (2013), “Um Rio, Uma Guerra (2016), “Mulas” (2019), “Boa Hora de Lembrar de Vivi Bandoleiro” (2020) e “Aposto Que Você Nem Sabia do Namoro Dela Com um Ex-combatente Guerra do Chaco” (2022), entre outras obras.

A seguir, Luiz Taques fala sobre seu novo livro.

A história de “Triste Relato de Uma Peixinha Miúda” é narrada por uma personagem inusitada, uma piranha do pantanal. Por que colocar um peixe como narrador da história?

A narradora da minha novela tem alucinações, mania de perseguição. Nada mais insólito então do que uma peixinha com esse perfil de injustiçada para falar de uma insensatez humana: o soterramento de um braço de rio para a construção e o asfaltamento de uma rodovia federal. Ela acredita que o soterramento do seu habitat foi uma perseguição à sua espécie.

Apesar de ser uma obra ficcional, o livro aborda esse desastre ambiental real ocorrido no pantanal do Mato Grosso do Sul. Que desastre foi esse?

Foi o soterramento de um braço do Miranda, um dos principais rios do Pantanal e afluente do rio Paraguai. O fechamento do fluxo daquelas águas decretou o fim do lugar chamado Buraco das Piranhas. De Corumbá à capital Campo Grande só se chegava de trem ou de avião. A BR-262, no trecho Miranda a Corumbá, não era asfaltado. Carros de passeio ou ônibus não circulavam. O asfaltamento de duzentos e poucos quilômetros que separam as duas cidades ocorreu entre os anos de 1983 e 1986. Atualmente, com as leis ambientais mais rígidas, dificilmente aquela rodovia seria asfaltada sem um estudo sério de impacto ambiental. O asfaltamento facilitou a vida do homem, mas trouxe prejuízo irreparável ao meio ambiente. Todos os dias capivaras e onças são esmagadas quando tentam atravessar a pista. Os animais mortos no asfalto causam uma tremenda revolta. O progresso é responsável pelas mortes precoces de veados, tatus, tamanduás e jacarés.

Você considera que os rios estão sendo destruídos e negligenciados, não apenas no sentido ambiental, mas também no sentido humano naquilo que eles representam culturalmente?

Rios estão secando, nossa sensibilidade também. Parece que nada mais nos atinge ou surpreende. Tem trecho do rio Taquari, um dos mais importantes rios do Pantanal, em que é possível atravessá-lo a pé. Mas não é só no Pantanal que isso ocorre. Veja o sufoco dos rios amazônicos. Alguns até já desapareceram por conta da seca. No passado, o rio era uma das principais vias de transporte. Havia abundância de peixe e outros animais e vegetais aquáticos, os ribeirinhos não passavam fome. A relação do homem com o rio era quase de uma divindade. Hoje, nossos rios estão assoreados, intoxicados por agrotóxico e esgoto. Lá no Rio de Janeiro, não faz muito tempo, o rio Guandu servia para desova de mendigos. O Guandu é o rio que abastece grande parte da Cidade Maravilhosa.

“Triste Relato de Uma Peixinha Miúda” tem um tom de denúncia sobre como a sede pelo desenvolvimento econômico estimula decisões políticas que promovem a destruição do meio ambiente. E a personagem principal, como elemento socialmente mais fraco, vive a total incapacidade em refrear essa sede. “Triste Relato” é uma novela sobre a desesperança?

Não. A minha novela é um grito de socorro de uma peixinha miúda para que outros braços de rios não sejam mais soterrados. O progresso, aparentemente, não trouxe grandes benefícios para a minha cidade natal. Os prédios históricos de Corumbá estão caindo aos pedaços. Até outro dia faltava ambulância para levar justamente pela BR-262 doentes graves a hospitais da capital. Mas acredito que não é uma novela sobre desesperança e, sim, sobre esperança. Apesar de tudo o que a peixinha miúda sofreu, ela conseguiu superar as adversidades e mantém a esperança de que a vida pode melhorar.

Apesar de você residir em Londrina há décadas, os enredos de seus livros estão ambientados nas regiões fronteiriças entre Brasil, Bolívia e Paraguai. Por que a escolha em ambientar suas histórias em regiões de fronteira?

Nasci na fronteira. E aquela fronteira da minha infância e juventude encontra-se com os dias contados. O prazo de validade está se esvaindo. Tenho material para mais um ou dois livros ambientados ali. Após isso, se quiser produzir alguma obra, terei de beber de outras fontes. O meu horizonte literário fronteiriço apagou-se no último 22 de outubro, dia em que a minha mãe se eternizou. Tinha 95 anos. Era ela quem me contava histórias que eu transformava em ficção. Fiquei órfão da sua sabedoria materna. Narrar um livro pela ótica de uma mulher é sempre bom – se essa mulher for sua mãe, é mais gratificante ainda.

Imagem ilustrativa da imagem Histórias de peixe em meio ao drama dos rios do Pantanal
| Foto: Regina Reiko/ Divulgação

SERVIÇO:

“Triste Relato de Uma Peixinha Miúda”

Autor – Luiz Taques

Editora – Maria Petrona

Prefácio – Kimiye Tommasino

Páginas – 80

Quanto – R$ 40

Onde Encontrar – Loja Ciranda (Rua Hugo Cabral, 656) ou pedidos pelo whatsapp (43) 98810-2100