A temporada de divórcios nacionais e internacionais envolvendo celebridades continua. Primeiro foram William Bonner e Fátima Bernardes, agora os holofotes se voltam para os estelares Brad Pritt e Angelina Jolie. Imagino o quanto é desconfortável ser uma celebridade nesta hora, porque ninguém sai impunemente de um divórcio por mais que não se queira mais, não se ame mais e a gente tenha certeza que o caminho acabou. No caso dos famosos não faltam especulações sobre o "pivô da separação", a "terceira pessoa", embora nem sempre isso corresponda à verdade.
O divórcio só diz respeito ao casal e, apesar da fama, não é difícil perceber o quanto incomodam as especulações; o quanto é negativo o ambiente de fofoca que se tornou um espaço social e cultural no qual a maledicência é o foco, acima das emoções, ilusões e sonhos das pessoas.
Divórcio é um momento esquisito, é quando a pessoa que um dia você amou se torna quase uma desconhecida. Porque a gente não conhece uma pessoa quando se casa com ela, mas quando se separa. Fora isso, há sensações privadas que acompanham o"desmonte do lar", isso acontece bem longe dos juízes que não têm nada a ver com emoções sutis. Não à toa, um dos instrumentos do juiz é o martelo.
As sensações íntimas perpassam seu dia de divorciada quando você abre o armário e dá de cara com aquelas xícaras que vocês compraram em Porto Alegre e que agora não passam de louça trincada como a relação que um dia existiu.
As sensações íntimas perpassam sua noite de divorciado quando você se esforça para ocupar toda a cama e ainda se descobre limitado a um lado como um daqueles jogadores que não dominam inteiramente a ponta esquerda ou direita do campo e, ainda assim, precisam fazer um gol. O gol se dá quando você relaxa e um dia descobre que já pode dormir com pernas e braços esparramados sem que ninguém te cutuque porque você avançou o sinal, sem que ninguém apite porque você cometeu uma "falta".
Longe daquele ideal de "dormir de conchinha" há muitos cutucões, roncos e insônias que não aparecem nos filmes, nem nas fotos postadas nas redes sociais. Fora do flash, há muita queixa em relação àquilo que não fazia parte do script quando vocês disseram sim, mas faz parte da vida prosaica dos casamentos.
Então, depois do divórcio resta desejar felicidades aos novos solteiros da turma e poupá-los do diz-que-diz e dos venenos que permeiam a vida social de um ex-casal. Troquem o veneno por uma dose de uísque ou uma caneca de chope, brindem à nova vida que sempre aparece depois dos dias invernais – ou infernais – de decepção e lamúrias.
Afinal, a vida segue sempre como um rio, e cada um decide se deseja ou não se apegar às pedras, se agarrar aos galhos, amarrar o barco num porto falido que não tem mais nada a ver com aquelas louças de Porto Alegre que trincaram depois de anos de viagem. Aproveitem que vem aí o verão que não exige cobertas e, espertos, estiquem as pernas e braços, ocupem a seu modo o meio da cama numa relação de conforto com o seu próprio travesseiro, sem pesadelos com roncos ou ursos da Gronelândia. Não se importe muito se o "seu casamento não deu certo", uma relação que hoje dura dez anos corresponde à "eternidade" dos tempos de nossos avós. Na vida há um tempo de ficar e um tempo de partir, isso funciona para todas as coisas, o resto é adaptação entre opostos nem sempre complementares. Assim como o divórcio, o amor, às vezes, é um acidente de percurso.