‘As Duas Irenes" conta a história de duas garotas, filhas do mesmo pai e de famílias diferentes, que se encontram na adolescência
‘As Duas Irenes" conta a história de duas garotas, filhas do mesmo pai e de famílias diferentes, que se encontram na adolescência | Foto: Divulgação



Foi outro belo momento do Brasil na Berlinale de 2017. O diretor Fábio Meira mostrou seu longa "As Duas Irenes" para uma plateia formada predominantemente por jovens, na mostra Generation, Geração. Estava acompanhado por suas atrizes, Isabela Torres e Priscila Bittencourt. "As Duas Irenes" são filhas do mesmo pai, mas pertencem a diferentes famílias. Uma descobre a outra, iniciam uma aproximação. E ambas estão em pleno rito de passagem - primeiro beijo, primeiro namorado.

Meira contou que se inspirou numa história de sua família. O avô tinha duas filhas com o mesmo nome. Sua tia nunca quis conhecer a meia-irmã. A história, que ele descobriu aos 13 anos, o perseguiu até quase os 30, quando ele imaginou um roteiro de cinema - e se as duas se encontrassem, o que ocorreria? Foram sete anos de tentativas, e o que nunca mudou foi o desfecho. Aguarde para ver - o desfecho faz a diferença em As Duas Irenes. O filme foi muito aplaudido.

A terça, 14, começou com o filme que talvez venha a ganhar essa Berlinale. O finlandês Aki Kaurismaki tem um jeito todo especial de contar suas histórias. O Homem Sem Passado e O Porto são grandes filmes. Ele conseguiu, de novo. O Outro Lado da Esperança acompanha dois homens - um refugiado sírio que busca cidadania, mas acha que não vai conseguir, e um vendedor cansado de sua vida estável e que resolve comprar um restaurante. As duas tramas juntam-se lá pelos 40 min. (do primeiro tempo). O filme é maravilhoso e com o chileno Una Mujer Fantástica, de Sebastián Lelio, deverá estar na premiação de sábado, 18. Pelo menos é o que se espera. São os melhores filmes até agora.



Aki Kaurismaki, com sua humanidade e humor derrisório, parece um personagem saído de seus filmes. Refutou, na coletiva, a provocação de uma pergunta se havia risco de 'islamização' na Europa. Lembrou os árabes na Espanha, o Alhambra. Citou Jean Renoir, que se decepcionou por não haver conseguido evitar a Segunda Guerra Mundial com seu clássico A Grande Ilusão. "Faço cinema para mudar o mundo", admitiu. "Mas já vou ficar contente se conseguir mudar as três pessoas que, provavelmente, vão ver The Other Side of Hope."

O festival tem apresentado belos filmes fora de concurso - na quarta (15), foi a vez de "I Am Not Your Negro" (Eu Não Sou Seu Negro), de Raoul Peck, que estreia nesta quinta, 16, nos cinemas brasileiros. O filme está indicado para o Oscar de documentário. É poderoso. Peck também está na Berlinale com outro filme fora de concurso - "O Jovem Karl Marx". Tem gente reclamando do foco romântico que ele imprime à sua reconstituição da juventude de Marx e Friedrich Engels, culminando com a redação do Manifesto Comunista. Ambos são grandes caras, amigos. Enfrentam todo tipo de adversidade juntos.

Raoul Peck, que é negro, com certeza não está interessado em ser reconhecido pela vaga conservadora que assombra o mundo atual, como o fantasma do comunismo assombrou a Europa no século 19. Seu filme termina com uma colagem vibrante ao som de "Like a Rolling Stone", de Bob Dylan. O público, diante desse gran finale, não tem feito outra coisa senão aplaudir. O final para cima - uma réplica de Penélope Cruz para o caudilho Francisco Franco - também tem levantado a plateia de A Rainha da Espanha, de Fernando Trueba. O diretor está lavando a alma. Ao receber um prêmio na Espanha, disse que não se sentia espanhol, mas um cidadão da Europa e do mundo, solidário com toda resistência ao neoautoritarismo. As redes sociais reagiram, o filme fracassou na Espanha. Aqui, está sendo um sucesso.