Imagem ilustrativa da imagem AOS DOMINGOS PELLEGRINI - Londrina pioneira: casos espantosos
| Foto: Reprodução


Em sólida e viva narrativa de nossos tempos pioneiros, o fundador de Rolândia, Osvald Nixdorf, conta casos espantosos, às vezes em apenas um parágrafo, em "Um Pioneiro na Selva Brasileira" (Editora da UEL). Seu livro revela notável escritor e os desafios incríveis enfrentados pelos primeiros pés-vermelhos:
"Quem nunca passou pela experiência de cavalgar na mata, no escuro, debaixo de um furacão, não tem noção do barulho infernal que é produzido. Galhos e copas de árvores quebram e vão ao chão. Rapidamente a passagem pela picada fica impossível. Temos de usar os facões para nos livrar de cipós e trepadeiras, e confiar cegamente no instinto de localização dos burros, que mantém a direção de casa. Há muito tempo perdemos os chapéus, as roupas estão rasgadas. Para não perdermos o contato, temos de gritar uns aos outros para sobrepujar o rugido da tempestade."
"Há muito me desvencilhei de meus sentimentos coloniais racistas. Uso a parte de cima de um beliche numa cabana de folhas de palmeiras. Na parte de baixo dorme um negro muito forte e corpulento. Quando tento me acomodar, com meus quase dois metros de altura, o estrado desmorona e caio sobre o negro. Despertado de profundo sono, ele se assusta e pensa estar sendo atacado. Agarra sua espingarda e, por um triz, não puxa o gatilho em minha direção."
Com o isolamento causado pela revolução paulista de 1932, "a situação dos suprimentos está ficando cada vez mais difícil. Primeiramente se sente a falta de fumo, mas a situação fica ruim mesmo com a falta de sal. Os gêneros alimentícios principais são arroz, feijão e aqui e ali um naco de carne de porco, isso quando Carlos Strass arranja um porco para matar. O palmito é preparado cozido, frito e como salada. Dr. Willie despacha pessoas competentes com animais de carga que, em jornadas de semanas, trazem víveres através de desvios pelas matas. Os fósforos acabam. Os fogões tem de ser mantidos acesos."

Um menino "falece aos quatro anos de idade, depois de muito sofrimento. O tempo está frio. Sua irmãzinha mais nova está na cama com pneumonia, tendo os pais passado a noite em vigília. De madrugada, a crise passa e eles se deitam para dormir um pouco. O menino acorda e pede algo para beber. Morta de sono, a mãe diz a ele para ir à cozinha tomar água. Ela se esquece de que sobre a mesa há uma garrafa de pinga aberta. Mais tarde, quando se levantam, o garoto jaz morto no chão. Bebeu todo o conteúdo da forte bebida e morreu intoxicado de álcool."
"Numa noite de chuva intensa, somos acordados com o choro das crianças. Um chiado estranho nos espanta e um pinicar afogueado nos arranca da cama: estamos sendo atacados por formigas de correição. Arrancamos as crianças de suas camas e, de pijamas como estamos, fugimos para fora. Todo o interior da casa foi invadido por milhares e milhares de formigas. Esperamos na chuva, empoleirados num tronco caído. Ao amanhecer os bichos desaparecem, mas não há mais nada comestível na casa. Do toucinho resta apenas o couro."
Em viagem a São Paulo, "minhas orelhas, têmporas e pescoço estão pretos de ferroadas de borrachudos, pois cada picada desse inseto deixa um pequeno ponto preto. Percebo que, no bonde, as pessoas se afastam de mim. Certamente pensam que tenho uma doença contagiosa."
"O pessoal encontrou um barreiro na mata. Ali os animais da floresta se reúnem e vivem em harmonia. As crianças e eu nos alegramos com esse cenário notável: aves e animais, grandes e pequenos, encontram-se ali. Os maiores inimigos convivem, vê-se a onça lambendo ao lado do veado, o puma ao lado do porco do mato, o cachorro do mato ao lado do preá. Proíbo meu pessoal de caçar nesse paraíso."

[email protected]