Pedro Almodóvar: "Seria um enorme paradoxo que um filme premiado não pudesse ser visto em salas de cinema"
Pedro Almodóvar: "Seria um enorme paradoxo que um filme premiado não pudesse ser visto em salas de cinema" | Foto: Valery Ache/ AFP



Cannes, França - O presidente do júri do Festival de Cannes, o espanhol Pedro Almodóvar, afirmou na quarta-feira (18)que seria um paradoxo que um filme premiado com a Palma de Ouro não pudesse ser visto nos cinemas, em relação à polêmica presença de dois filmes do Netflix na competição oficial.

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"Seria um enorme paradoxo que uma Palma de Ouro (...) ou qualquer outro filme premiado não pudesse ser visto em salas" de cinema, disse Almodóvar, convocando as plataformas em streaming a "aceitar as regras do jogo".

Os dois filmes do Netflix, "Okja", do diretor sul-coreano Bong Joon-Ho, e "The Meyerowitz Stories", do americano Noah Baumbach, não poderão ser vistos nos cinemas da França por causa da regulamentação nacional.

A questão provocou tamanha indignação entre as salas de cinema da França que os organizadores do festival se viram obrigados a mudar a regra para as próximas edições. Desta maneira, a partir de 2018 apenas filmes com o compromisso de passar nas salas francesas serão selecionados em Cannes.

O diretor espanhol afirmou, embora "as plataformas digitais representem uma nova forma" de oferecer conteúdo pago, algo que é "bom e enriquecedor", estas "devem assumir e aceitar as regras do jogo", respeitando "as distintas formas de exibição e as obrigações de investimento que atualmente regem na Europa".

Almodóvar fez as declarações na entrevista coletiva ao lado dos outros membros do júri, incluindo os atores americanos Will Smith e Jessica Chastain, assim como o diretor sul-coreano Park Chan-Wook, antes do início da 70ª edição do Festival de Cannes.

Smith adotou uma postura conciliadora com a Netflix, ao assegurar que seus filhos assistiam filmes na plataforma e também no cinema. Trata-se de duas formas "completamente diferentes de entretenimento", declarou o ator.

Dezenove filmes - a maioria de diretores já consagrados em Cannes - estão na mostra oficial. Um dos favoritos é "Happy end", do austríaco Michael Haneke, que pode se tornar o primeiro cineasta vencedor de três Palmas de Ouro, após os triunfos de "A Fita Branca" e "Amor".
Sofia Coppola é uma das três mulheres na disputa, com "O Estranho que Nós Amamos", inspirado em um filme de 1971 protagonizado por Clint Eastwood.

O longa-metragem é protagonizado por Nicole Kidman e Colin Farrell, dupla que também está presente em "The Killing of a Sacred Deer", do grego Yorgos Lanthimos. A atriz vencedora do Oscar, de 49 anos, é o grande nome desta edição do festival, pois também está presente em outras duas produções: "How to Talk to Girls at Parties", que será exibida fora de competição, e a série de TV "Top of the Lake", da diretora neozelandesa Jane Campion.

"Les fantômes d'Ismael", do francês Arnaud Desplechin, com Marion Cotillard, foi selecionado como filme de abertura do festival."Talvez eu não deveria dizer isto, mas não é fácil ser um diretor francês em Cannes", afirmou Desplechin."Há uma tensão, uma pressão com a imprensa, os espectadores... Há menos indulgência com os cineastas do país".

Pela primeira vez em 15 anos, nenhum filme iberoamericano competirá pelo prêmio máximo, apesar de estarem em destaque nas mostras paralelas filmes como "La cordillera", de Santiago Mitre, com Ricardo Darín e Elena Anaya, e "Las hijas de Abril", do mexicano Michel Franco.

Os 19 filmes que disputam a Palma de Ouro
Cannes - Dezenove produções estão na competição pela Palma de Ouro da 70ª edição do Festival de Cannes, que será entregue em 28 de maio pelo júri presidido por Pedro Almodóvar.

"O Enganado", da americana Sofia Coppola, com Nicole Kidman e Colin Farrell, é uma adaptação de um romance de Thomas Cullinan. Em plena Guerra da Secessão, a vida em um internato feminino se vê alterada com a chegada de um soldado ferido.

"Nelybuov", do russo Andrei Zvyaguintsev, também diretor de "Leviatã", aborda o drama familiar de um casal em fase de divórcio que deve se reconciliar para encontrar seu filho de 12 anos que desapareceu.

"Good Time", dos irmãos americanos Benny e Josh Safdie. O ator Robert Pattinson encarna um assaltante que é preso e tenta escapar durante uma noite carregada de adrenalina.

"The Square", do sueco Ruben Ostlund, vencedor do Prêmio do Júri em Cannes em 2014 por "Força Maior", é sobre um diretor de museu que prepara uma grande exposição, estrelado por Dominic West e Elizabeth Moss.

"You Were Never Really Here", da britânica Lynne Ramsay. Um veterano de guerra tenta resgatar jovens envolvidas em uma rede de prostituição.

"L’Amant Double", do francês François Ozon, suspense erótico com Marine Vacth e Jeremie Renier, sobre uma jovem que namora seu psicanalista.

"Jupiter’s Moon", do húngaro Kornél Mandruczó, vencedor do Prêmio Un Certain Regard em 2014 por "White God", é um filme fantástico sobre um jovem migrante ferido por tiros que descobre que tem um estranho poder de levitação.

"In the Fade", do germano-turco Fatih Akin, diretor de "Contra a Parede", com Diane Kruger. A atriz dá vida a uma mulher que perdeu o marido e o filho em um atentado.

"The killing of a sacred deer", do grego Yorgos Lanthimos, diretor de "O Lagosta", com Colin Farrell e Nicole Kidman. Neste suspense, um cirurgião decide tomar conta de um adolescente perturbado, mas a relação começa a piorar.

"Hikari", da japonesa Naomi Kawase, é um drama sobre um romance entre um fotógrafo que perde lentamente a visão e uma jovem.

"The day after", do sul-coreano Hong Sang-soo. Filme em preto e branco com Kim Min-hee, sobre um dia na vida de um editor que traiu sua esposa com a empregada.

"Le redoutable", do francês Michel Hazanavicius, fala sobre o lendário cineasta Jean-Luc Godard, estrelado por Louis Garrel. Ambienta-se no contexto de maio de 1968 na França.

"Wonderstruck", do americano Todd Haynes, diretor de "Carol". Esta adaptação de um livro para crianças, com Julianne Moore, narra a história de dois jovens surdos.

"Happy End", do austríaco Michael Haneke, fala sobre uma família burguesa do norte da França que vive próximo a um acampamento de imigrantes, com Jean-Louis Trintignant e Isabelle Huppert.

"Rodin", do francês Jacques Doillon, com Vincent Lindon e Izia Higelin, aborda a história do célebre escultor, de quem neste ano comemora-se o centenário de sua morte, e a relação com Camille Claudel.

"120 battements par minute", do francês Robin Campillo, diretor de "Meninos do Oriente", trata sobre o dia a dia da associação Act Up no início dos anos 1990 para sensibilizar a sociedade sobre a epidemia da aids, com Adèle Haenel.

"Okja", do sul-coreano Bong Joon-Ho, com Tilda Swinton e Jake Gyllenhaal, é um filme fantástico sobre a amizade de uma menina com um grande animal, que uma multinacional tenta se apropriar. O filme foi produzido pela Netflix.

"The Meyerowitz Stories", do americano Noah Baumbach, é sobre o reencontro de uma família nova-iorquina. A Netflix adquiriu os direitos do filme.

"A gentle creature", do ucraniano Serguei Loznitsa, diretor de "Na neblina", é a adaptação livre de uma obra fantástica de Dostoiévski sobre uma mulher que quer visitar seu marido preso por um crime que não cometeu.(France Presse)