Robinson Borba: "Gosto do que me causa ‘espanto’,é isso que me move o tempo todo, em qualquer área"
Robinson Borba: "Gosto do que me causa ‘espanto’,é isso que me move o tempo todo, em qualquer área" | Foto: Ricardo Chicarelli



Robinson Borba: ora está enveredado na música, ora na engenharia. Ora, em ambas as áreas, ainda que cause estranheza. Sempre foi assim, desde a adolescência, quando começou a "inventar" música com os amigos Paulo Barnabé, Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção, Mário Lucio Cortes e Antonio Carlos Tonelli, mas se preparava para ingressar na faculdade de Engenharia Civil. O grupo foi responsável pela chamada Vanguarda Paulista e não Paulistana, como ele faz questão de frisar, na década de 70, época em que a música independente deu seu grito. "Nós fazíamos experimentações sonoras, muito bem feitas, por sinal. Criávamos o tempo todo e pensávamos música como inovação", lembra, em conversa com a reportagem durante visita recente à Londrina. Criação, inclusive, é a palavra que norteou e seguiu presente em toda sua vida. "Prefiro dizer que gosto do que me causa "espanto". É isso que me move o tempo todo, em qualquer área".

Aos 67 anos e aposentado, mas não parado das atividades de consultoria e aulas de engenharia em instituições de ensino, Borba acaba de entrar em estúdio para gravar quatro músicas inéditas ao melhor estilo blues caipira, sua definição para um gênero que considera genuinamente brasileiro. "É um som que nasceu aqui, com a influência dos violeiros. Duas dessas composições existem há anos e já toquei em shows, as outras foram feitas há menos tempo". A ideia de tirar do papel veio com o ritmo menos acelerado e a vontade de retomar as atividades artísticas como prioridade. "O amigo guitarrista Emílio Mizão me contou que vários artistas estavam produzindo em um estúdio na cidade de Piracaia, interior de São Paulo, dentro de um sítio. Fui conhecer o produtor Ricardo Prado e fiquei encantado com o local e o trabalho dele. Enquanto gravava, ouvia sons de galinha, de pato do lado de fora", ri. O disco deve ser lançado em vinil em meados do segundo semestre de 2018.



LONDRINA PRESENTE
Nascido em Londrina, Borba tem uma relação forte e marcante com a cidade, tanto que a ponte Londrina-São Paulo-Curitiba sempre foi corriqueira. Foi "embora" em 1969 para cursar na UFPR (Universidade Federal do Paraná), em Curitiba, mas manteve as atividades com os amigos da Vanguarda, alguns já em São Paulo neste período. O primeiro grande feito do grupo culminou no lendário evento musical que marcou a história cultural de Londrina, "Boca do Bode", lotando o teatro Filadélfia por três dias no ano de 1973. "Fizemos o evento na raça, por conta própria, sem nenhum apoio público ou privado. Os londrinenses têm disso, de realizar as coisas doando o sangue, do tipo visceral mesmo. Em Londrina se faz, não se teoriza." À essa época, "Mente Mente", composta por ele em 1972 começava a fazer sucesso. Em 1975, lançava "Coração de Árvore", com arranjo de Arrigo Barnabé, gravada por Eliete Negreiros no álbum "Outros Sons".

Porém, nesta efervescência de produção, um hiato de cinco anos mudou provisoriamente sua rota musical. "Depois que me formei, o plano era trabalhar como engenheiro e tentar ganhar dinheiro por um tempo. Foi quando comecei os primeiros trabalhos na área de planejamento urbano", lembra. Circulou por alguns órgãos como Amepar (Associação dos Municípios do Médio Paranapanema) realizando projetos para soluções e desenvolvimento urbanístico. "Tive mais um "espanto" na vida. Me interessei demais por este tema, ao qual me dedico até hoje". Juntou dinheiro e decidiu voltar com força total, agora, com know how das Exatas. "Trabalhar como engenheiro me ajudou a ser produtor. O primeiro projeto foi com Neuza Pinheiro e, em seguida, o disco 'Clara Crocodilo', com Arrigo Barnabé e a Vanguarda". Este, primeiro álbum de Arrigo com & Banda Sabor de Veneno, que marcou a história da música popular brasileira.

Borba investiu tudo o que tinha e teve sucesso nos projetos. "Mas é difícil ter retorno financeiro nessa área. Precisava lançar meu trabalho autoral antes que a grana acabasse, não dava para apostar mais". Era hora de criar o álbum "Rabo de Peixe", trabalho que também recebeu diversos elogios da crítica especializada. "Havia um lado A, com músicas inspiradas em Londrina. É um rock norte-paranaense, pé vermelho. E um lado B, o Peter Pan...k.", enumera. Fazem parte desse álbum composições que sintetizam as sonoridades de viola como "Café Caipira", "Blue Sertanejo" e "Lua". Também trazia "Mente Mente", agora um hit absolut, que ganhou versões na voz de Ney Matogrosso e Simone Mazzer nos anos seguintes. A boa repercussão, no entanto, era o prenúncio de mais um hiato e o engenheiro entrava em cena de novo. De lá para cá, investiu no mestrado e doutorado, passou pela política - até mesmo em Londrina – mas sempre com o pé na música. "Voltar a gravar é mais um "espanto" em minha vida".

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