Buenos Aires - "O Chaco está em perfeitas condições para receber as seleções da Argentina e do Brasil!". A frase havia sido exclamada há uma semana pelo governador Jorge Capitanich, para ressaltar que a província que governa há mais de meia década estava preparada para um evento de magnitude internacional. No fim, a pequena cidade de Resistencia, que fica a cerca de mil quilômetros de Buenos Aires, foi palco de um vexame mundial. Um apagão deixou o Estádio Centenário sem energia elétrica, impedindo a realização do Superclássico das Américas na noite de quarta-feira.
"Papelão" foi a palavra mais utilizada pela imprensa nesta quinta-feira para definir o apagão que provocou o cancelamento do jogo entre Brasil e Argentina na recôndita Resistencia, cidade sem capacidade hoteleira para atender aos milhares de jornalistas e torcedores que viajaram até ali nos escassos voos que ligam a capital da província do Chaco com Buenos Aires.
O representante da Associação de Futebol da Argentina (AFA), Germán Lerche, afirmou que a entidade, responsável pela organização do jogo em Resistencia, tentaria "reprogramar" o confronto para outra data. Mas admitiu que seria "muito difícil, pelos compromissos de ambos times e a falta de datas disponíveis". Do outro lado, a CBF também já avisou que será complicado remarcar. Assim, a tendência é que o Brasil seja declarado o campeão desta edição do Superclássico das Américas, por ter vencido a primeira partida, em Goiânia, por 2 a 1.
A imprensa argentina não poupou ironias a Capitanich. A escolha de Resistencia para sediar o jogo também foi criticada pela mídia, que ressaltou que havia sido puramente por questões políticas. No entanto, o governo federal sustenta que o motivo de levar o Superclássico das Américas para o Chaco foi a política de "federalização" da presidente Cristina Kirchner - ou seja, levar os jogos de futebol de destaque às províncias que nunca viram de perto os jogadores da seleção.

Explicações
Acabando com uma hipótese que chegou a ser veiculada, Capitanich eximiu o ônibus da delegação brasileira de ter sido culpado pelo apagão que cancelou a partida. "Um cabo se rompeu e desligou a chave dos fusíveis. É um caso em um milhão", disse o governador. "Vamos abrir uma auditoria para identificar por que não se pôde jogar."
Havia uma suspeita de que uma batida do ônibus da delegação brasileira nos trailers onde ficavam os geradores teria causado o primeiro apagão no estádio, segundo o jornal argentino Clarín. O primeiro blecaute realmente ocorreu no momento em que a seleção do Brasil chegava ao estádio. Depois, houve quedas sucessivas de energia que culminaram com o cancelamento do jogo.
Capitanich pediu desculpas aos público e disse que a partir de segunda-feira o clube dono do estádio, o Atlético Sarmiento, irá devolver o dinheiro aos torcedores que pagaram pelos ingressos - os preços variavam de R$ 50 a R$ 150.
Logo após o cancelamento do jogo, a maioria dos torcedores que estavam no estádio passou a protestar contra o fiasco que transformou o Superclássico das Américas. Objetos foram atirados no gramado, como copos de água e até salgadinhos.
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) também se manifestou sobre a hipótese de culpa do ônibus da seleção. "Não é verdadeira a informação de que tenha acontecido um ‘acidente’ com o ônibus da seleção brasileira, antes do jogo contra a Argentina que acabou cancelado, com uma ‘suposta batida’ em um gerador no estádio em Resistencia. O ônibus entrou e saiu do estádio normalmente, como podem atestar todos os ocupantes da delegação", afirma a nota.
Goleiro da seleção brasileira, Jefferson explicou que a decisão de cancelar o duelo entre Brasil e Argentina foi unânime. "Não tinha condições, não foi uma decisão só dos goleiros", disse o jogador do Botafogo. "Os argentinos até brincaram, que já era difícil marcar o Neymar e o Lucas no claro, imagina no escuro".
Jefferson seria o capitão do Brasil no duelo e teria a honra de levantar o troféu do Superclássico das Américas em caso de conquista da seleção. "Não esperávamos sair daqui desse jeito, esperávamos sair com o título e erguer a taça. Isso talvez seja até vaidade, esperar que pudesse levantar a taça", lamentou o goleiro.