"Eles querem aprender aqueles toques rápidos, aquela habilidade do brasileiro", afirmou o ex-jogador do LEC Zé Roberto, responsável pelo treinamento dos garotos chineses
"Eles querem aprender aqueles toques rápidos, aquela habilidade do brasileiro", afirmou o ex-jogador do LEC Zé Roberto, responsável pelo treinamento dos garotos chineses | Foto: Marcos Zanutto



O futebol multimilionário da China se tornou nas últimas temporadas um dos principais destinos dos craques brasileiros. Além de importar o talento tupiniquim, os chineses também apostam no intercâmbio com o País do Futebol para aprender mais sobre o esporte mais popular do planeta.

Desde o final do mês de janeiro, 25 garotos chineses entre 17 e 18 anos estão treinando em Londrina, no Centro de Treinamento da SM Sports. A parceria entre o clube Shanghai Shang Gang Football Club, a empresa de marketing esportivo Cherry Sports (com sede em Pequim) e a SM Sports possibilitará que os atletas e a comissão técnica permaneçam na cidade por um ano.

Atualmente, eles estão hospedados em um hotel, mas um alojamento no CT deve ser concluído na próxima semana, especialmente para abrigar o clube chinês.

O mundo tem acompanhado com espanto as notícias de contratações milionárias realizadas pelo futebol chinês, principalmente pelas altas cifras dos contratos firmados com jogadores considerados de ponta no futebol mundial, e parte dessas aquisições tem sido realizada pelo Shanghai Shang Gang FC, que segundo a revista americana Forbes, é a terceira equipe mais valiosa da China. O valor de mercado do clube é de R$ 491 milhões, com a receita avaliada em R$ 114 milhões em 2015. O dinheiro é abundante porque o clube faz parte do Shanghai International Porto Group (SIPG), que administra o Porto de Xangai, um dos mais movimentados do mundo.



Para se ter uma ideia, em janeiro de 2015, o Shanghai SIPG contratou o meia argentino Darío Conca por R$ 9,2 milhões. Só depois que o meia sofreu uma contusão grave, ele foi emprestado ao Flamengo. Na época de sua contratação pelo time chinês o salário do jogador foi acertado em mais de R$ 2 milhões mensais, um dos mais altos do futebol mundial. Outra transação milionária aconteceu em junho do ano passado, quando o atacante Hulk trocou o Zenit de São Petersburgo (Rússia) pelo Shangai SIPG por R$ 187, 9 milhões, rendendo R$ 6 milhões de reais por mês de salário ao jogador. Em dezembro do ano passado foi a vez do meia Oscar trocar o clube londrino Chelsea pelo Shanghai SIPG por R$ 208, 2 milhões e um salário de R$ 7 milhões por mês, o terceiro maior do mundo.

O gerente Yang Peng, da Cherry Sports, que reside no Brasil há sete anos, disse que este é o primeiro projeto realizado pelo Shanghai SIPG fora da China. "O clube tem investido muito no futebol, especialmente em jogadores brasileiros, mas hoje considera mais importante criar os seus próprios jogadores. A gente vem aqui para treinar em Londrina com base na relação com o empresário Juan Figer. Foi ele quem indicou o CT e, por isso, criamos esse projeto", recordou.

O treinador principal da equipe sub-17 que está em Londrina, Chen Xufeng, chegou a conviver com Hulk, Oscar e com o argentino Conca no clube chinês e elogiou os atletas. "Quando os brasileiros encontraram nossos meninos, ficaram brincando com eles. Não são como os outros atletas chineses, que não são muito simpáticos com as crianças", destacou.

O treinador afirmou que o objetivo do intercâmbio com a equipe no Brasil é aumentar, rapidamente, o nível do futebol no clube. "O presidente do Shanghai (Chen Xuyuan) espera que a capacidade técnica cresça rapidamente por este intercâmbio para que alguns deles possam subir para o time profissional o quanto antes", revelou.

Treinos intensos

A rotina é desgastante e o treinador ressalta que ainda não teve tempo para se divertir no Brasil. "Quando volto ao hotel fico escrevendo artigos e notas que são repassadas ao clube na China, porque uma das missões determinadas pelo clube é que a comissão técnica chinesa aprenda como os brasileiros trabalham", explicou.

O técnico Zé Roberto, que está treinando os garotos, possui muita experiência no futebol. Ele foi meio-campista do Londrina nos anos 80 e chegou a integrar a seleção brasileira de juniores de 1983. Recentemente, Zé Roberto dirigiu a equipe do Londrina na Copa São Paulo de Futebol Júnior. Ele explica que a rotina dos chineses tem sido normal como acontece no futebol brasileiro em geral. "Eu tenho colocado a programação de acordo com o que a gente tem trabalhado no Brasil. Procurei observar o treinamento deles e não tem diferença do que a gente trabalha aqui. A diferença é a malandragem do brasileiro, essa questão de jogar com mais alegria. Eles vêm atrás disso. É um algo mais", ressaltou.

O treinador acredita que os chineses buscam o talento que admiram pela televisão. "Eles querem aprender aqueles toques rápidos, aquela habilidade do brasileiro. Tanto que um dos jogadores, o Liu Guobo, disse ser bastante fã do Neymar", comentou.

Imagem ilustrativa da imagem Vai e vem no mundo da bola
| Foto: Marcos Zanutto



Dois atletas estão na seleção sub-17

O Shanghai SIPG é famoso na China por investir nas categorias de base. Um de seus times chegou ao 4º lugar da China League One (segunda divisão) em 2009 com jogadores até 20 anos de idade e sem atletas estrangeiros em seu plantel, fato que foi muito comemorado. Naquele ano, a equipe ficou a uma vitória de conseguir subir para a primeira divisão chinesa. O time conquistou o direito de disputar a primeira divisão a partir de 2013. O treinamento dos jogadores chineses em Londrina faz parte dessa filosofia e o gerente do projeto, Yang Peng, da Cherry Sports, elogiou o ambiente profissional da SM Sports. Segundo ele, a Cherry Sports visa que alguns desses atletas possam jogar pela seleção chinesa principal. "Ainda estamos no início desse projeto. Todos esses jogadores são da categoria de base do Shanghai SIPG e esperamos que alguns deles conquistem uma vaga na seleção", aponta.

Segundo o técnico principal do grupo, Chen Xufeng, dois dos atletas já fazem parte da seleção chinesa sub-17: Huang Wenzhuo e Huang Zhenfei. Eles chegaram a ser convocados recentemente pela Associação Chinesa de Futebol (CFA), mas acabaram sendo dispensados por estarem realizando o treinamento em Londrina.

Huang Wenzhuo destacou que a marcação no Brasil é mais forte que na China. "O físico dos jogadores também é muito forte", respondeu. Ele assistiu o jogo entre o Londrina e o Rio Branco pelo Campeonato Paranaense e destacou a velocidade dos jogadores em campo. "Jogaram muito rápido. Eu acho que os atletas do Brasil representam o melhor em todas as forças do campo. Tem muito contato de corpo e é um jogo mais firme que o futebol chinês", observou.

Huang Zhenfei, por sua vez, disse que ainda está se acostumando por causa das diferenças culturais, entre elas, a alimentação. "É uma comida que dá muita energia. Com ela é possível treinar adequadamente", afirmou. O técnico Xufeng lembrou que todos chegaram com medo que a comida fosse muito diferente. "Quando chegamos percebemos que é muito bom, muito gostoso", comemorou.

Além da dupla da seleção, Zé Roberto também elogiou o habilidoso Liu Guobo. "Ele tem um perfil esguio, rápido. Tem a característica do jogador brasileiro. Ele e o Zhenfei se destacaram em um amistoso contra o Arapongas. Os dois fizeram os dois gols da partida", apontou.


Imagem ilustrativa da imagem Vai e vem no mundo da bola