Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e do Comitê Rio-2016, e Leonardo Gryner, ex-diretor de operações do comitê Rio-2016 e braço-direito de Nuzman, foram presos temporariamente pela Polícia Federal no Rio de Janeiro, na quinta-feira (5), suspeitos de intermediar a compra de votos de integrantes do COI (Comitê Olímpico Internacional) para a eleição do Rio como sede da Olimpíada de 2016 – a cidade brasileira superou Chicago, Tóquio e Madri, vencendo a cidade espanhola na rodada final por 66 votos a 32.

A prisão temporária de Nuzmam e Gryner faz parte da Operação 'Unfair Play – Segundo Tempo' e integra a Lava Jato no Rio de Janeiro. De acordo com a Polícia Federal, realizada em colaboração com a Justiça da França, os dirigentes estariam envolvidos em um esquema do ex-governador Sérgio Cabral para lucrarem com a realização da Olimpíada de 2016 no Rio de Janeiro, tanto com obras, quanto no fornecimento de serviços e até mesmo na entrada volumosa de investimentos, no caso dos empresários.

Imagem ilustrativa da imagem 'Enquanto não mudar o sistema, estaremos reféns de pessoas como Nuzman', dispara Elisângela
| Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil



A londrinense Elisângela Almeida de Oliveira, gestora esportista e medalhista olímpica, enfatizou que a corrupção no esporte somente irá se dissipar quando houver uma mudança no sistema, principalmente, no mandato que deveria ser de quatro em quatro anos. Nuzman é presidente do COB há 22 anos. "Enquanto não mudar o sistema estaremos reféns de pessoas como Carlos Arthur Nuzman. Não tem como deixar um presidente de federação ou confederação por tanto tempo no cargo. Os dirigentes precisam ficar em seus postos no máximo por quatro anos e não por tanto tempo como alguns permanecem. Hoje, para buscarmos recursos junto ao governo do estado ou federal, temos inúmeras burocracias que dificultam o crescimento do esporte no Brasil. No entanto, os dirigentes continuam no poder e destruindo as modalidades com a corrupção e eles só conseguem pois estão no monopólio há muitos anos", criticou a ex-jogadora.

"Como esportista estou envergonhada. A Olimpíada no Rio no ano passado foi uma forma de muitos dirigentes ganharem dinheiro. As praças esportivas se transformaram em 'elefantes brancos' e não são mais utilizados pela população. Estão sendo destruídas pelo tempo e pela falta de cuidado do governo. Infelizmente, o povo brasileiro se acostumou a sofrer com o descaso e com a corrupção e precisamos mudar isso senão futuramente não teremos mais algumas modalidades", complementou.

Fernando Madureira, que já presidiu a Federação Paranaense de Taekwondo e foi técnico da Seleção Brasileira de Taekwondo, também concorda que a gestão dos dirigentes não deve ser por tanto tempo. "Acredito que os presidentes de federações e confederações devem ficar nos cargos no máximo por dois mandatos, ou seja, oito anos. Caso contrário, os mesmos perdem a motivação e acabam não ajudando o esporte. Essa investigação limpará o COB e teremos esses resultados somente nas Olimpíadas de 2024 pois em 2020 acredito que somente os atletas independentes irão ter resultados expressivos", avalia o atual presidente da Fundação de Esportes de Londrina (FEL).

O COI anunciou nesta sexta-feira (6) que o COB está suspenso e afastou Nuzman de suas funções diretivas. O envolvimento de Nuzman no esquema foi anunciado no início de setembro quando foram expedidos mandados de prisão para Arthur Soares, mais conhecido como 'Rei Arthur', e a sócia dele no Grupo Facility, Eliane Pereira Cavalcanti. O Ministério Público Federal (MPF) divulgou que o patrimônio do dirigente cresceu 457% em uma década e, após a deflagração da operação 'Unfair Play', em agosto, Nuzman retificou sua declaração de imposto para "conferir aparência de transparência e licitude a bens que estavam ocultos".