O número de mulheres que ocupam cargos de comando no esporte brasileiro tem aumentado, mas a presença feminina ainda é pequena na comparação com homens que desempenham funções como técnicos, dirigentes e árbitros.

Silvana Vieira é técnica de atletismo da equipe de Londrina e da seleção brasileira: "não queremos tomar o lugar dos homens, mas somar"
Silvana Vieira é técnica de atletismo da equipe de Londrina e da seleção brasileira: "não queremos tomar o lugar dos homens, mas somar" | Foto: Assessoria de Imprensa/Divulgação

A participação das mulheres é baixa até mesmo em competições femininas. No Campeonato Brasileiro Feminino A1 do ano passado, a principal divisão nacional, dos 16 clubes participantes, apenas quatro eram dirigidos por mulheres. Entre os grandes clubes do país, somente o Atlético Mineiro tinha uma mulher no comando. Os outros eram Ferroviária (SP), Kindermann (SC) e Real Brasília (DF).

Também na política, poucas mulheres participam das decisões que norteiam o esporte nacional. Ana Moser, craque do vôlei brasileiro, ficou apenas nove meses como ministra do Esporte e foi demitida pelo presidente Lula para agradar as bases do governo no Congresso Nacional. André Fufuca (PP-MA) assumiu o cargo. Ana Moser foi a ministra do Esporte que menos ficou no cargo desde a criação do ministério em 1995.

Neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, a FOLHA conversou com londrinenses que são protagonistas nas suas modalidades e relata os desafios e os obstáculos que estas mulheres enfrentam no dia a dia para fazer a máquina do esporte girar.

Márcia Aversani é presidente da Federação Paranaense de Ginástica, coordenadora do Comitê Técnico de Ginástica Rítmica da Confederação Brasileira e membro do Comitê Técnico de GR da Federação Internacional de Ginástica. A dirigente lembra que a equidade de gênero que existe entre os atletas nos Jogos Olímpicos, por exemplo, não é a realidade nos cargos de gestão.

"Na gestão esportiva, nos conselhos federais, nas confederações não há a mesma preocupação em dividir o poder. Somos poucas, muitas vezes temos uma mulher sozinha em uma mesa com vários homens. A mudança que tem acontecido aos poucos é pela vontade das mulheres em mudar, pela luta incansável das mulheres", aponta.

"Tem toda uma questão cultural preestabelecida de alguns esportes terem domínio masculino. Não é fácil quebrar estes paradigmas, esta resistência e isso limita a presença de mulheres", afirma Jayne Borim, técnica do Londrina Futsal
"Tem toda uma questão cultural preestabelecida de alguns esportes terem domínio masculino. Não é fácil quebrar estes paradigmas, esta resistência e isso limita a presença de mulheres", afirma Jayne Borim, técnica do Londrina Futsal | Foto: Jefferson Bachega/LEC

Jayne Borim jogou futsal por Londrina em um tempo em que a modalidade era quase exclusiva para homens. As mulheres ganharam espaço com a "bola pesada" e o trabalho comandado por Borim e Vanda Sanches à frente da equipe londrinense é um dos mais respeitados e vitoriosos do futsal feminino do Brasil.

"Tem toda uma questão cultural preestabelecida de alguns esportes terem domínio masculino. Não é fácil quebrar estes paradigmas, esta resistência e isso limita a presença de mulheres. Mas não é o gênero que define a capacidade e a eficiência e sim o conhecimento e o trabalho. E hoje temos muitas mulheres, apesar de tudo, desempenhando um trabalho de eficiência", comenta.

Ex-atleta, Silvana Vieira é hoje uma das técnicas da equipe de atletismo de Londrina, uma das mais vitoriosas do país. Vieira constantemente também integra comissões técnicas da seleção brasileira em competições internacionais da base e adulto.

A treinadora revela que no atletismo hoje já existem várias mulheres em posição de comando, como técnicas e dirigentes, mas a proporção ainda é menor em relação aos homens. "Aos poucos temos conquistado um espaço, mas não é para tomar o lugar dos homens, mas para somar", ressalta.

A londrinense foi a primeira treinadora a chefiar uma seleção brasileira de atletismo em 2021. Apesar dos avanços, os desafios ainda são enormes. "Eu já ouvi assim de um treinador: 'Não imaginava que você podia conduzir tão bem um atleta'. Eu só pensei: você não sabe de nada mesmo. Não discuti, mas continuei mostrando o que sei fazer. Muitas vezes, as mulheres se sentem até intimidadas com este tipo de comentário", frisa. "Foram anos para conseguir chegar onde estou e, apesar dos apoios e dos incentivos, ser técnica de seis seleções do Sub-18 ao adulto, foi por mérito meu."