O futebol é, de longe, o esporte com menos mudanças ao longo dos tempos. Com mais restrições e maior controle, sempre houve muitas objeções em mudar e se atualizar. Nem sempre atualização está diretamente ligada a uma melhora, mas continuamente foi uma unanimidade ao redor do mundo o exagero da Fifa (diga-se International Board) no controle das regras.

Mesmo assim algumas mudanças vêm acontecendo e agora uma nova punição para jogadores está em discussão: o cartão azul. Somaria ao amarelo e vermelho para classificar o nível de determinada infração cometida dentro do campo de jogo. Enfim, mais uma atribuição ao já castigado árbitro pelas mudanças anuais nas regras subjetivas do esporte.

O novo cartão permitiria ao jogador não ser excluído diretamente, como o vermelho, mas teria uma “pena” um pouco maior que o amarelo: ficaria fora da partida por um tempo determinado e depois voltaria.

A possibilidade não é um absurdo, mas não é algo que possa melhorar muita coisa. A questão é para onde está indo o futebol com tantas mudanças? Que produto queremos ter num futuro próximo? Dentro da essência do esporte, o que realmente está sendo cuidado e protegido para que continue atrativo?

As regras são iguais no mundo todo? Sim, são. Mas a interpretação não é. E o novo cartão será também interpretativo. E interpretação é cultural, é empírica, e sempre será particular, mesmo que este particular esteja em consenso com um “todo” maior. O jeito de apitar na Alemanha não é igual no Japão, e assim em muitas outras “culturas”. Punir é uma maneira de controle, então por que não ser mais duro com os dois cartões já existentes para controlar melhor o que deve ser punido?

Mais um cartão no futebol, para mim, parece a atitude do pai que tem um filho levado e avisa: se não fizer o dever de casa não vai poder brincar; se tirar nota vermelha não viaja de férias. Então, o filho faz o dever, tira nota azul, mas mata aula. E pai dá uma nova punição: agora você não vai pular o Carnaval. E assim vai aumentando as punições, e a educação se perdendo na arte de ludibriar.