Henrique Gambaro, coordenador do curso de Administração e Tecnólogos da Unopar: "As pessoas querem trabalhar, mas não estão demonstrando competências laborais e comportamentais"
Henrique Gambaro, coordenador do curso de Administração e Tecnólogos da Unopar: "As pessoas querem trabalhar, mas não estão demonstrando competências laborais e comportamentais" | Foto: Ricardo Chicarelli



Imagine a seguinte cena. Seu dia não começou bem, onde tudo parece dar errado e coincidentemente é seu último dia para entregar uma meta. Ao chegar no trabalho, a sensação é de que nada vai dar certo e o estresse e a ansiedade tomam conta do seu humor. Quem nunca se viu nessa situação?

Não é nada arriscado apostar que muitos já passaram ou passa neste exato momento por uma condição semelhante. E é bem provável que isso terá um impacto na assertividade, na sensação de autonomia, no controle de impulsos para tomada de decisões ou mesmo na busca de soluções para os problemas.

É claro que todo mundo tem episódios que afetam o emocional, mas o mercado de trabalho está cada vez mais aberto para quem tem consciência sobre isso, isto é, que tenha habilidades socioemocionais.

Tais habilidades podem ser definidas como Inteligência Emocional. É a percepção que a pessoa tem de todos os recursos internos que ela utiliza para se relacionar com outras pessoas e consigo mesma. É a consciência sobre como ela gerencia e expressa suas emoções.

Uma pesquisa da Six Seconds aponta que 54% dos fatores de sucesso de uma pessoa são previstos pela Inteligência Emocional, independentemente da área de atuação. "O mercado evoluiu e, além disso, as pessoas estão cada vez mais preocupadas em fazer algo que tenha valor para si mesmas, mas também para a empresa e a sociedade", reflete Paulo Aziz Nader, especialista em soft skills, de São Paulo.

Considerando essa realidade, instituições privadas de ensino como o Albert Einstein, Insper e Kroton Educacional vêm incorporando em suas grades curriculares conteúdos que visam desenvolver tais habilidades para a nova geração de profissionais.

"Hoje, não estamos só preocupados em formar alunos, mas em dar uma condição de empregabilidade a eles, isto é, colaborar para que o mercado de trabalho queira empregá-los", avalia Henrique Gambaro, coordenador do curso de Administração e Tecnólogos da Unopar, unidade Boulevard em Londrina.

A universidade faz parte do grupo Kroton Educacional e tem ampliado o conteúdo para outras áreas e não apenas nas correlatas. "Sabemos que há 12 milhões de desempregados no País e que 90% das empresas estão com dificuldades de contratar. Então, as pessoas querem trabalhar, mas não estão demonstrando competências laborais e comportamentais", afirma.

Imagem ilustrativa da imagem Competências emocionais em alta



Impacto
Gambaro comenta que a própria sala de aula é uma organização e os docentes podem se apropriar disso para trabalhar o comportamento positivo. "Ter uma postura positiva vai desde o gesto de dar bom dia até adotar atitudes otimistas. Isso em uma empresa, resulta em mais produtividade, equilíbrio e o alcance dos objetivos de forma mais fluída", acrescenta.

Além dessa fluidez, ter habilidades socioemocionais vai impactar diretamente na busca de melhores resultados. Nader que é consultor em desenvolvimento organizacional da LeverageCoaching, explica que quando o executivo ou colaborador adota uma postura mais adaptativa, isto é, quando ele se permite ser vulnerável, ele consegue pensar em soluções alternativas.

"Isso inclui, por exemplo, experimentar novas soluções, resolver problemas e testar diferentes realidades. Às vezes, a gente acha que está muito certo ou muito errado e dependendo das nossas condições emocionais vamos ter uma maior ou menor capacidade de colocar tudo isso em prática", completa.

O especialista ainda lembra que essas competências também são fundamentais no gerenciamento do estresse e nas relações interpessoais, que atualmente colocam a empatia em evidência.

Considerando os futuros profissionais, o consultor Nader diz que os docentes devem colocar os alunos em contato com situações que os façam refletir sobre como é a autopercepção deles.

"É botá-los em situações que exercitem competências interpessoais. Acho que tudo isso deve ser inserido aos poucos, em soluções práticas no dia a dia, simulando situações de trabalho mais simples para ir ganhando tração aos poucos, pois a maioria não tem a vivência profissional", salienta.

Testes emocionais ajudam na avaliação
Características como empatia, Inteligência Emocional e capacidade de argumentação impulsionam qualquer conhecimento técnico adquirido, mas não devem ser critérios únicos para a contratação de profissionais.

Essa é a visão do especialista em soft skills, Paulo Aziz Nader, que ressalta que não se pode ter uma garantia 100% de que os candidatos às vagas na empresa tenham essas habilidades.

"O processo de contratação poderá avaliar aqueles com inteligência emocional mais apurada e, assim, alinhar com os interesses da corporação", afirma. Nader aponta, por exemplo, a aplicação de um teste emocional que seja reconhecido tecnicamente.

Outro ponto muito importante, segundo Nader, é treinar os entrevistadores. "Tanto para perceber se o candidato tem essas habilidades, mas também para ter clareza se atendem à proposta da empresa. É muito comum os profissionais darem um peso muito grande para essas competências, sendo que a vaga a ser preenchida é para uma área que exige preferencialmente uma habilidade técnica, por exemplo", ressalta. (M.O.)