André Gomyde, presidente da Rede Brasileira de Cidades Inteligentes, diz que Londrina acerta ao unir forças em torno do conceito: "o primeiro passo a ser dado é a infraestrutura"
André Gomyde, presidente da Rede Brasileira de Cidades Inteligentes, diz que Londrina acerta ao unir forças em torno do conceito: "o primeiro passo a ser dado é a infraestrutura" | Foto: Roberto Custódio



O ponto de partida para que Londrina passe a fazer a gestão interligada de informações e políticas públicas, para se tornar uma cidade inteligente, é a adoção de uma PPP (parceria público-privada) de gestão tecnológica para o sistema de iluminação viária. O serviço permitirá a coleta de dados também sobre questões como trânsito, segurança e pavimentação, entre outras, para orientar o uso de recursos de forma racional e direcionar esforços para bairros mais problemáticos.

O conceito foi tema da discussão "Cidades Inteligentes e Humanas", no 1º Fórum em Debate organizado pelo Fórum Desenvolve Londrina, na sexta-feira, 22, na sede da regional londrinense da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Cerca de 100 participantes puderam conhecer o potencial da ideia, que deve ser levada a autoridades para implantação em médio e curto prazos.

Um dos palestrantes do evento, o presidente da Rede Brasileira de Cidades Inteligentes, André Gomyde, afirma que o órgão oferece toda a modelagem para uma PPP de iluminação, o que facilita o processo. Ele cita que o formato de parceria permite maior rapidez para a adoção de novas tecnologias, que seria feita pelo setor privado, e a continuidade da política por várias gestões, sem que cada prefeito decidisse reiniciar tudo do início a cada eleição. "Londrina começou da maneira correta, juntando os atores da cidade e sinto que, aqui, está todo mundo convencido de que esse é o caminho. A coisa pode andar rápido e é só dar o primeiro passo, da infraestrutura", diz.

Gomyde entende que luminárias inteligentes farão a coleta de dados, mas que é o uso das informações de forma integrada que poderá fazer com que a cidade se torne também inteligente. "As prefeituras não têm acesso a todas as informações, mas, quando têm, não sabem usar porque não fazem cruzamento de dados. A tecnologia vem para ajudar nisso", completa.

Um exemplo dado pelo palestrante é a escolha de quais buracos de vias precisam ser tapados primeiro, diante de uma realidade de recursos escassos e pressões de moradores de vários bairros ao mesmo tempo por soluções. Gomyde considera que a iluminação de led, ligada a câmeras, permite privilegiar as vias que realmente estão em piores condições, e não necessariamente próximas à residência de moradores com maior força política. "Outro exemplo é na educação. Temos estudos que mostram que a falta de vagas em escolas, muitas vezes, ocorre porque uma pessoa matricula o filho em dois lugares diferentes, com medo de não conseguir em uma. Com um sistema inteligente, isso será evitado e pode ser que, onde havia falta, passará a ter sobra de vagas", explica.

Mais que ferramentas
Outro palestrante do fórum, o professor de geoprocessamento Abimael Cereda Junior, da Unicamp, afirma que todos os processos da gestão pública precisam se comunicar. "Arrecadação, saúde, educação, segurança, habitação, são todas dimensões de políticas que precisam estar integradas em uma plataforma."

Para ele, é preciso superar a ideia de que um software ou uma empresa fará todo o serviço. "Não existe fórmula mágica. Vivemos um novo momento, de transformação digital, e não é a implantação de um software que fará diferença, mas de uma cultura de gestão", diz o professor.

Frente no Congresso busca atualizar leis
Ex-prefeito de Sorocaba e presidente da Frente Parlamentar de Cidades Inteligentes, o deputado federal Vitor Lippi (PSDB) afirma que o Congresso já debate mudanças na legislação para dar segurança jurídica à implantação de sistemas integrados. "Toda cidade tem a taxa de contribuição sobre iluminação pública, mas a lei diz que serve para manutenção do fornecimento de energia elétrica, não para ser usada para incorporação tecnológica", conta. "Isso está sendo superado, com a participação dos tribunais de contas", completa.

Ele defende que a PPP (parceria público-privada) é a melhor forma de contratação do serviço. "É exigência a integração de muitas tecnologias em um sistema aberto, em constante atualização, e se for usar a lei de licitações, fica difícil que a administração pública possa comprar tudo", cita Lippi.

O deputado cita vantagens até mesmo na assistência social por meio do conceito, com base em ações que tomou quando era prefeito de Sorocaba. "No planejamento que fizemos, uma das questões era melhorar a inclusão, para que as pessoas que tinham maior vulnerabilidade social pudessem ter melhores condições, autoestima, participação. Fizemos investimentos integrados de diversas secretarias para transformar locais, com iluminação melhor, concluindo pavimentação, fazendo regularização fundiária e levando escolas em tempo integral para esses locais que mais precisavam", explica. (F.G.)