Aposentado há 17 anos, Jair Pereira continua atuando como delegado de jogos de futebol em Londrina para unir o útil ao agradável
Aposentado há 17 anos, Jair Pereira continua atuando como delegado de jogos de futebol em Londrina para unir o útil ao agradável | Foto: Saulo Ohara



Um a cada três aposentados permanece trabalhando mesmo depois de obter o benefício, justamente na faixa etária mais afetada pela onda de desemprego que assola o País. As conclusões tomam como base levantamento da Câmara Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) com Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), conforme a Carta de Conjuntura 32, publicadas nesta semana.
O SPC entrevistou 619 aposentados, dos quais 33,9% ainda exercem alguma atividade econômica. Destes, 46,9% o fazem para complementar a renda. O estudo ainda mostra que 95,7% auxilia nos custos do lar e 59,7% são os principais responsáveis pelas despesas. O levantamento também indica que 30,1% dos entrevistados atrasaram pelo menos uma conta nos últimos doze meses, 35,1% fizeram empréstimo, usam o limite bancário ou o cartão de crédito para honrar compromissos e 30,3% estiveram com o nome inserido em sistemas de proteção de crédito.
O presidente estadual do Sindicato Nacional dos Aposentados, Antônio Lobato, afirma que a defasagem das aposentadorias, em descompasso com os reajustes do salário mínimo, levou ao empobrecimento e à necessidade de retornar ao mercado de trabalho.
Além disso, a liberação de créditos consignados também corroeu os proventos dos aposentados – classificados pelo presidente sindical uma "armadilha". Lobato afirma que a maioria dos empréstimos é feita a pedido de algum familiar que, depois, não repassa o valor das prestações.

Complemento
Aposentado desde 1999, Jair Rodrigues Pereira atua como delegado de jogos da Liga de Futebol de Londrina (LFL) e Federação Paranaense de Futebol. Também consegue atuar em alguns jogos da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). "Isso vem desde antes da aposentadoria. É coisa que gosto de fazer", diz. Ele ainda trabalha voluntariamente como dirigente sindical.
Pereira recorda que, no momento da aposentadoria, seu benefício alcançava cinco salários mínimos. Atualmente, não chega a três. Com os trabalhos, complementa valores da aposentadoria, podendo chegar ao dobro do que ganha atualmente. Ele admite que nunca contribuiu para ter um complemento de renda após a aposentadoria. "Apenas poupança normal, para alguma emergência", afirma.
A situação é parecida com a de Hamilton Nunes Fontes, de 73 anos. Ele se aposentou em 1996, após 34 anos de registro em carteira de trabalho, e hoje presta serviços para a LFL e FPF. "Faço isso há mais de 30 anos e continuo para complementar renda", conta. Os antigos cinco salários mínimos que recebia "hoje não chegam a dois", argumenta, e a atuação como delegado de jogos rende até R$ 1 mil a mais. Ele também admite que nunca contribuiu para a previdência complementar, o que mudaria esse cenário. "Mas também gosto muito. Estou unindo o útil ao agradável."

Valor garantido
O Ipea identificou que a faixa etária acima dos 59 anos foi a mais afetada pelo avanço do desemprego. Apesar de o grupo de jovens entre 14 e 24 anos ter a maior fatia dos desempregados, o percentual se manteve estável nos primeiros dois trimestres do ano. Enquanto isso, a faixa de maior idade variou mais, registrando crescimento de 44% no número de desempregados no segundo trimestre do ano, em comparação com o primeiro.
Antônio Lobato argumenta que o brasileiro se aposenta relativamente cedo justamente pela instabilidade no emprego. "Quem tem família se preocupa. O valor da aposentadoria pode até ser baixo, mas é garantido, e a pessoa corre atrás para garantir a comida. Mas, se houvesse segurança, é claro que íamos querer trabalhar", argumenta.