Curitiba - Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostrou que hoje as famílias comprometem cerca de 15% do orçamento familiar com transporte urbano. O levantamento apontou que os gastos com transporte privado, como carros e motocicletas, são cinco vezes maiores do que os realizados com transporte público. Em cidades do interior do País, o gasto com tranporte privado chega a ser nove vezes maior.
A pesquisa ''Gastos das famílias das regiões metropolitanas brasileiras com transporte urbano'' revelou que a média familiar mensal de custos com transporte é de R$ 92,22 para quem usa transporte público - como ônibus e metrô - e de R$ 451,86 para quem usa transporte privado. Na conta do transporte privado entram o custo do carro, a manutenção, o combustível, impostos, gastos com estacionamento e pedágio.
''Quanto maior a renda, maior é o gasto com transporte privado'', disse o pesquisador do Ipea Carlos Henrique Ribeiro de Carvalho. Isso acontece principalmente na camada da população que está acima dos 40% mais pobres. Ele destacou que o grande problema é que, hoje, as grandes cidades já não estão comportando um número tão grande de carros.
Carvalho acredita que o que levou o consumidor a gastar mais com transporte privado foram o aumento da renda da população e as políticas do governo federal voltadas para o incentivo de consumo de automóveis, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). A pesquisa destaca que itens do transporte privado subiram menos que a inflação. Entre 2003 e 2009, o preço do carro novo subiu 19%, da motocicleta 12,1%, da gasolina 27,5%, enquanto a inflação (IPCA) foi de 41,8%.
Já a tarifa de ônibus urbano ficou 63,2% mais cara. Ele explicou que quanto menos pessoas utilizam os ônibus, mais caro fica o serviço. Além disso, houve um aumento dos insumos utilizados no transporte público como diesel e mão de obra. ''Quanto mais demorado o trajeto dos ônibus, devido ao trânsito, maior é a necessidade de aumentar a frota, contratar funcionários e mais elevado é o gasto com combustível'', disse.
Carvalho disse que, do ponto de vista do bem estar individual, é bom o aumento do número de carros. No entanto, isso provoca mais poluição e um número maior de acidentes. Ele defende o estímulo ao uso racional de automóveis e motocicletas como no modelo europeu. A ideia seria ampliar as tarifas de cobrança em estacionamentos e pedágios urbanos e melhorar a qualidade do transporte público.
O pesquisador esclareceu ainda que, como a renda do brasileiro cresceu, amorteceu um pouco o comprometimento dos gastos com transporte. Mas a tendência para os próximos anos é que as elevações de custos do transporte privado comprometam mais o orçamento familiar. A previsão também é que, quanto maior a renda, maiores sejam os gastos com transporte.
O documento do Ipea coletou dados das famílias residentes em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Recife, Fortaleza, Salvador e Belém. Os dados utilizados têm como base as duas últimas edições da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) de 2003 e 2009.

Imagem ilustrativa da imagem Transporte compromete 15% do orçamento familiar