As constantes chuvas que atingiram o Paraná desde meados de dezembro prejudicaram o início da colheita de feijão, o que tende a reduzir a oferta e elevar os preços no mercado. Com cotação abaixo da média para o período depois de uma boa terceira safra no ciclo anterior, os agricultores paranaenses enfrentaram preços que nem mesmo cobriam os R$ 106 de custo de produção, segundo levantamento no Deral (Departamento de Economia Rural) da Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento). Há preocupação, porém, com a qualidade do grão, que é ruim para 11% e média para 35% das lavouras.

A cotação para o feijão carioca ficou em torno de R$ 95 até o dia 15, quando começou a se aproximar mais dos R$ 100. No entanto, nos últimos dias a média voltou a ficar mais próxima de R$ 90. No fechamento de ontem do Deral, o carioca ficou em R$ 93,81, com mínima de R$ 70 e máxima de R$ 120. Para o preto, o valor marcou R$ 102,51, entre R$ 95 e R$ 115.


As condições ideais de ciclos anteriores não se repetiram para a primeira safra do feijão neste ano
As condições ideais de ciclos anteriores não se repetiram para a primeira safra do feijão neste ano | Foto: Arquivo Folha



As condições ideais de ciclos anteriores não se repetiram para a primeira safra do feijão neste ano. Houve estiagem em regiões produtoras do Paraná após o plantio e, justamente no início da colheita, excesso de chuvas, condições que devem reduzir a produtividade. O presidente do Ibrafe (Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses), Marcelo Lüders, diz que a tendência para os próximos quatro meses é de elevação nos valores. "Houve perdas de feijão pronto para colher, seco ou cortado, que foi perdido. Depois, os produtores fizeram o tratamento antifúngico e voltaram ao trabalho, mas ocorre que a previsão é de chuva até o dia 18", afirma, sobre expectativas para os arredores de Castro, Ponta Grossa e Guarapuava.

Ele considera que as cotações devem subir nos próximos quatro meses, até o início da colheita da segunda safra. "Independentemente das chuvas desses dias, a base de preço estava muito baixa. Só em um ano desde 2012 entramos em janeiro com a saca a menos do que R$ 100, como neste ano", diz Lüders.

O Deral foi a campo para averiguar as condições nas propriedades produtoras, mas há relatos de problemas nos Campos Gerais e no Sudoeste. O diretor do órgão estadual, Francisco Simioni, afirma que é preciso cautela ao tratar do grão, sujeito a constantes variações de preços. "Tivemos reclamações pontuais de perdas, que pararam quando voltou o sol e o pessoal voltou a colher", conta. "Vimos que as chuvas afetaram as vagens da parte de baixo da planta, sem atingir do meio para a cima, então teremos trabalho para fazer o levantamento."

Lüders, por outro lado, acredita que o aumento de preços servirá para o mercado entrar em equilíbrio. Ele conta que a saca já chegou a ser vendida por R$ 80 no dia 22 e já vemos correção para R$ 110 nos últimos dias. "Uma saca a R$ 150 é confortável para o produtor, para o empacotador e para o consumidor, porque um valor muito baixo desestimula o plantio e afeta a ponta final", diz. "Com esse preço, o quilo no supermercado fica entre R$ 3,50 e R$ 4", completa o presidente do Ibrafe.

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Em revisão
A expectativa no Deral até 18 de dezembro era de que a primeira safra do feijão praticamente empatasse os resultados do ciclo 2016/17. A área plantada aumentou 2%, de 194 mil para 198 mil hectares (ha) neste ano, mesma variação esperada para a produção, com projeção que iria de 368,2 mil para 374,8 mil toneladas (t). Já havia, portanto, uma percepção de produtividade 1% menor, de 1.897 para 1.886 quilos/ha.

Cultivar de escurecimento lento favorece armazenagem

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A produção da terceira safra de feijão no ciclo 2016/17 mais do que dobrou em relação a 2015/16 no Paraná, o que fez com que os produtores tivessem mais grãos a oferecer neste fim de ano. O volume aumentou de 2,1 mil para 4,5 mil toneladas entre os dois períodos. Ainda, a maior utilização de cultivares de feijão de escurecimento lento permite que o agricultor espere por melhores ofertas de preço.
"É cedo para avaliarmos, mas vimos nos últimos três anos um incremento de cultivares que permitem o armazenamento, que é de até 60% do feijão do Paraná", afirma o presidente do Ibrafe (Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses), Marcelo Lüders.
A área de feijão colhido ou perdido soma 17% do previsto no Paraná, segundo levantamento até o último dia 2 do Deral (Departamento de Economia Rural) da Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento).