"Com a queda nos estoques, já está cabendo lançamentos na cidade", diz Cléber Maurício de Souza, da Vectra, revelando ao menos três lançamentos  da construtora em 2017
"Com a queda nos estoques, já está cabendo lançamentos na cidade", diz Cléber Maurício de Souza, da Vectra, revelando ao menos três lançamentos da construtora em 2017 | Foto: Roberto Custódio



Estoques elevados, juros poucos atrativos, lançamentos a conta gotas e consumidores nem um pouco dispostos a encarar financiamentos imobiliários. Este foi – em poucas palavras – o ano de 2016 da construção civil. Cenário de sequidão que culminou numa retração de 5,2% do Produto Interno Bruto (PIB) do segmento e 18,2% de queda no Índice Nacional de Atividades da Construção Civil, que baliza as atividades das construtoras formais.

Números que, claro, também representam o mercado londrinense, já que os estoques de produtos prontos estavam elevados, mas nem tanto como capitais como São Paulo e Curitiba. Se o tempo era de seca, parece que 2017 começa, digamos, com uma chuva leve, que se mostra suficiente para iniciar uma movimentação interessante para as construtoras da região. Se no ano passado houve apenas dois lançamentos de empreendimentos na cidade, um levantamento da FOLHA junto ao Sindicato da Construção Civil do Norte do Paraná (Sinduscon Norte-PR) aponta para cerca de 10 lançamentos em 2017, cinco vezes mais o período anterior.

As construtoras que conversaram com a reportagem relatam uma melhor movimentação dos clientes nas centrais de venda (veja box). Além disso, existe uma expectativa muito grande do setor que a taxa básica de juros (Selic) continue em queda, o que é fundamental para um reaquecimento deste ano.

O presidente do Sinduscon Norte-PR, Rodrigo Zacaria, relata que na semana passada esteve em Brasília para uma reunião da Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (CBIC)e a projeção é de que até dezembro a Selic atinja a marca de 9,25%, contra atuais 12,25%. "Se a reforma da previdência for aprovada, projeta-se que a Selic chegue a 8%. Os juros de um dígito são muito interessantes para a construção civil, já que hoje os investidores estão focados no mercado financeiro e não no imobiliário", explica ele.

Zacaria relata ainda que a taxa Selic que está sendo projetada "é natural, e não forçada como aconteceu com os 7% do governo anterior, que depois saltou para 14% rapidamente". "Além disso, hoje os estoques de fato abaixaram consideravelmente na região e o volume de empreendimentos produzidos diminuiu. Acredito que o controle de estoque em Londrina acabou sendo maior do que em Curitiba, por exemplo".

Agora, o que se vê, portanto, são incorporadoras atentas a este novo momento e dispostas a lançar empreendimentos. Para Zacaria é uma estratégia acertada. "Elas não podem arriscar não ter produto para comercializar daqui 3 ou 4 anos e a possibilidade de uma economia reaquecida. É preciso medir o termômetro - e é o que está se fazendo agora. Antes, o consumidor não queria nem passar em frente da central de vendas. Agora já está entrando, dando uma olhada... Outro ponto é que uma construtora não pode ver o concorrente lançar um empreendimento e deixar de acompanhar essa movimentação. É só dessa forma que se consegue entender para onde o mercado está caminhando".

Por fim, Zacaria prefere não fazer projeções de crescimento para este ano na região, mas ele espera percentuais que se mantenham constantes, o que, na opinião dele, é melhor que o chamado "voo da galinha", que decola alto demais e depois é certeza de queda brusca, como aconteceu nos últimos anos. "Todo crescimento é benéfico desde que se mantenha constante e é isso que esperamos. Para 2018, temos um ponto de interrogação por ser ano eleitoral. O grau de incerteza é grande e o mercado fica receoso nesse período".

Barganha para fechar negócios deve diminuir em 2017
Em tempos de cenário turbulento, o comportamento das construtoras mudou consideravelmente nos últimos dois anos no momento de negociar com os clientes e investidores. No aperto econômico, houve mais abertura para fechar negócios, que envolveu, além dos descontos, as incorporadoras aceitarem dos consumidores inclusive imóveis de menor valor e até automóveis, por exemplo.

Situação que não deve se prolongar para o segundo semestre deste ano, já que o mercado se mostrará mais aquecido e, com lançamentos que estão por vir, os valores estarão atualizados para os novos empreendimentos. O vice-presidente de economia do Sinduscon Norte-PR, Rodolfo Yoshio Sugeta, acredita que estas negociações "mais flexibilizadas" talvez continuem apenas em curto prazo. "Com este cenário econômico mais favorável, a tendência é que isso vá diminuindo. Foi um momento justificado devido a alta taxas de juros, uma alternativa que as incorporadoras viram neste período. Com a Selic em queda, a taxa de financiamentos de imóveis junto aos bancos cai, tornando-se favorável aos compradores e sem a necessidade desse tipo de barganha".

O imobiliarista Raul Fulgêncio confirma a desaceleração dos negócios em 2016 em aproximadamente 30%, "mas 20% melhor do que planejado para passar por este mar revolto". Ele elogia as incorporadoras de Londrina, que não saíram "construindo desvairadamente" na época de bonança como em outras cidades do País, caso de Curitiba e São Paulo. "As construtoras locais atendem os clientes conforme a demanda, acompanhando o dia a dia do mercado. Final de 2015 e 2016 foi um momento de colocar a casa em ordem, sem lançamentos. Assim, os estoques que eram para dois anos foram baixando nesse período. Nada preocupante".

Para aliviar esse estoque, Raul confirma que ficou "mais aberto para negociações" e não demitiu funcionários. "Usamos da criatividade e da flexibilidade. Praticamos mais prazo, oferecemos desconto, voltamos a aceitar carros, imóveis, algo que não acontecia no período de aquecimento. Isso é natural e tivemos que nos adaptar ao mercado. Por outro lado, como as vendas caíram, as locações residenciais aumentaram".

Na expectativa dos lançamentos do Grupo A.Yoshii – construtora parceira de Raul Fulgêncio – o imobiliarista espera um 2017 de "ritmo bom, dentro do que é possível". "Precisamos ter produto para vender porque neste momento os investidores ligam o radar e os juros tendem a diminuir. Hoje, por exemplo, já não praticamos os mesmos descontos que estavam sendo realizados no ano passado, mas ainda é um bom momento para comprar. A procura está aumentando e não podemos esquecer que um produto imobiliário leva de 4 a 5 anos para ficar pronto". (V.L.)

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| Foto: Anderson Coelho
À espera do segundo filho, o casal Taiane e Márcio Ridão querem vender o apartamento para morar em uma casa maior em condomínio horizontal



Otimismo de nova casa também chega às famílias
Em outubro do ano passado, o professor de economia Márcio Ridão e sua esposa, a bancária, Taiane Almeida Ridão, decidiram vender seu apartamento de alto padrão, com 174 metros quadrados de área útil, localizado na Gleba Palhano, região Sul de Londrina. A ideia é construir uma casa num condomínio fechado e dar mais comodidade à família, que está aumentando com a chegada do segundo filho. É um sonho antigo do casal.

Mas concretizar esse negócio não está tão simples assim. Desde que colocaram o imóvel à venda em outubro do ano passado, aproximadamente 15 pessoas foram visitá-lo, sendo que apenas duas ofereceram propostas. "O grande problema é que as propostas envolveram trocas com imóveis de menor valor mais a diferença de valor. Só em dinheiro, não recebemos nenhuma", explicam.

Além da economia desaquecida, outro fator que dificultou a transação no final de 2016 foi a concorrência com alguns apartamentos do próprio prédio que retornaram para a construtora devido a destrato com os clientes. Márcio relembra que quando comprou o imóvel, praticamente todas as unidades foram vendidas, mas muitos clientes não conseguiram entrar no empreendimento na entrega das chaves. "Alguns corretores que nos atendem comentaram que no final de 2016 havia apartamentos aqui sendo vendidos por R$ 780 mil, bem abaixo do preço de mercado. A nossa pedida é de R$ 1 milhão para um apartamento já todo equipado. Ou seja, nosso maior concorrente acabou sendo a própria construtora, que estava querendo acelerar o processo de vendas desses imóveis que retornaram".

Agora, com a chegada de Otávio em abril segundo filho do casal – eles deram uma freada no recebimento de propostas e devem aguardar alguns meses até voltar a negociar. "Estamos tranquilos e sem pressa. Acredito que para o segundo semestre deste ano a economia estará mais aquecida, as taxas de juros tendem a continuar caindo e, com isso, conseguiremos fechar um negócio satisfatório", complementa o professor .(V.L.)

Construtoras preparam novos empreendimentos
As construtoras que atuam em Londrina, de forma geral, têm percebido uma melhora de movimentação de clientes em suas centrais de venda nos últimos meses. Depois de um período conturbado – com algumas confirmando retração entre 20% e 30% nas vendas – agora existe uma expectativa de novos lançamentos e, claro, comercialização desses produtos, já que o estoque diminuiu consideravelmente. Os consumidores devem ficar atentos que os preços desses imóveis serão atualizados, com aumento dos valores comparados aos que estão disponíveis no mercado neste momento. A expectativa é uma média de três lançamentos por empresa na cidade.

O diretor comercial da Vectra, Cléber Maurício de Souza, relata que ano passado as vendas de imóveis junto a incorporadora caíram entre 20% e 25%. "A procura continuou, mas os clientes buscavam descontos e vantagens que eram difíceis de atender. Aproveitamos para colocar a casa em ordem, reorganizar a empresa e se adequar a esse novo mercado". Para este ano, com uma melhora de 10% a 20% na movimentação de clientes na central de vendas da Vectra desde novembro, Souza acredita que haverá ótima procura dos ao menos três lançamentos programados pela incorporadora à partir de junho. "Com a queda nos estoques, já está cabendo lançamentos no mercado da cidade".

Ele complementa dizendo que os valores dos empreendimentos vêm atualizados, afinal, "são novos orçamentos, com terreno, mão de obra e valor de materiais de acabamento". "O que se encontra hoje no mercado é mais em conta. É estoque e está pago. Vamos buscar entregar produtos diferenciados, que agreguem valor e desejo, para que as pessoas tenham interesse. Os descontos de seis meses atrás já não são mais encontrados hoje", complementa.

O gerente regional do Grupo Plaenge, Olavo Batista, relata que em 2016 a empresa "fez o dever de casa, bem conservadora e com visão de longo prazo", mas claro, enfrentou retração que gira em 20% a 25%. Mesmo assim foram 17 lançamentos em todo o grupo (contra 35 em 2013/14), sendo cinco no quarto trimestre do ano (dois em Londrina: os únicos na cidade), percebendo assim uma tendência de reação para 2017, principalmente devido à queda da Selic e previsão de um agronegócio com "supersafra". "Atravessamos esse cenário econômico com menos solavancos. 2016 foi um período de capitalização, entramos o ano com um caixa bem robusto e fizemos aquisições muito boas de terrenos, inclusive na Gleba Palhano".

Na central de decorados do grupo, Batista não tem dúvidas de que o termômetro de movimentação está mais aquecido neste momento. "Temos projetos sendo encaminhados para a prefeitura. Lançamentos ocorrerão, mas dependemos, além da liberação, do ticket que o mercado estará pagando naquele momento, para saber se o produto será A, B ou C. Não posso dizer um número, mas no radar de 2017 todas as nossas unidades de negócios vão trabalhar com produtos novos".

O diretor de incorporação do Grupo A.Yoshii, Silvio Muraguchi, prefere não comentar os números da empresa em 2016, mas salienta que os bancos retraíram "muito" a concessão de crédito no último biênio. Para este ano, Muraguchi salienta que a empresa identificou algumas oportunidades de mercado. "Pretendemos atender esta demanda com pelo menos quatro projetos, já levando em consideração a nova fase para lançamento de empreendimentos em atendimento aos anseios identificados na leitura de mercado".

A maior estabilidade do ambiente econômico faz o Grupo A.Yoshii acreditar num aquecimento da demanda por imóveis, tanto para os clientes que buscam a primeira moradia, quanto no caso de "upgrade". "Os indicadores econômicos nacionais apontam o fim da queda, o que chamamos na construção civil de ‘último subsolo’ da crise. Neste sentido, e de uma maneira geral, acreditamos sim em uma melhora no ambiente de negócios e numa preparação para o crescimento. Falando especificamente do Grupo A. Yoshii, consideramos que haverá aquecimento nas vendas tendo em vista as novidades e lançamentos previstos para breve", complementa o diretor. (V.L.)