Goldfajn citou leilões programados pelo Tesouro Nacional visando reduzir a volatilidade dos mercados
Goldfajn citou leilões programados pelo Tesouro Nacional visando reduzir a volatilidade dos mercados | Foto: José Cruz/Agência Brasil



Brasília – O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, afirmou nesta quinta-feira (18) que, neste momento de crise política, o trabalho do BC tem que ser "contínuo, sereno e firme". Declarou ainda que o BC e o Tesouro Nacional estão atuando de forma conjunta para acalmar o mercado. "Estamos fazendo nosso papel, que é o papel do BC, que é manter a funcionalidade do mercado, trabalhando de forma serena, de forma firme, usando os instrumentos que a gente tem", afirmou antes de reunião com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
Goldfajn lembrou que a autoridade monetária interveio no mercado nesta quinta através de leilões de swaps, operações que equivalem à venda de dólares no mercado futuro. Mesmo assim, o dólar comercial encerrou o dia com forte alta de 8,16%, para R$ 3,390. Foi a maior valorização desde 5 de março de 2003. O dólar à vista, que fecha mais cedo, teve ganho de 8,68%, para R$ 3,373.
"Estivemos intervindo no mercado de swap em coordenação com o Ministério da Fazenda, com o Tesouro Nacional, que anunciou alguns leilões", disse, referindo-se ao anúncio do Tesouro de que realizará leilões extraordinários de títulos públicos nesta sexta (19), segunda (22) e terça (23) visando reduzir a volatilidade dos mercados.
"Temos vários instrumentos e estamos trabalhando para acalmar o mercado, pra atravessar esse período, e é um trabalho contínuo, um trabalho sereno, um trabalho firme".
Questionado sobre se a política monetária muda a partir de agora, Goldfajn respondeu que essa é "uma questão separada". "A política monetária é uma questão separada. A questão em que estamos atuando hoje não tem relação mecânica com a política monetária, é uma decisão tomada nas reuniões ordinárias do Copom [Comitê de Política Monetária]".

BNDES
A presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos Marques, evitou comentários sobre os impactos na economia da delação dos proprietários da JBS com denúncias sobre o presidente Michel Temer. Disse apenas que "é hora de trabalhar mais, com serenidade".
O banco é foco de investigações da Polícia Federal por aportes feitos na JBS. Na última sexta (12), funcionários da instituição foram alvo de mandados de busca e apreensão e de condução coercitiva.
Nesta quinta, Marques participou da abertura do XXIX Fórum Nacional, tradicional evento promovido pelo ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso.
Em sua palestra, ela enumerou sinais de que a economia brasileira está se recuperando, como a geração de empregos em abril e o crescimento nas consultas sobre financiamento do banco. Citou ainda o resultado de leilões de linhas de transmissão e aeroportos como um sinal de que o ambiente de negócios no País está melhorando.
Mas não fez referências diretas à crise aberta pela delação dos irmãos Joesley e Wesley Batista.
Disse apenas, ao abrir sua palestra, que "neste momento em que a gente está vivendo, é muito importante manter o foco, olhar para o futuro". Ela foi indicada por Temer para o cargo há um ano.
A presidente do BNDES também não quis fazer projeções sobre o impacto nas finanças do banco, que é sócio da JBS. "Estamos acompanhando todas as questões", limitou-se a dizer. Na terça (16), ela havia determinado a abertura de uma comissão para apurar as denúncias. O grupo terá um prazo de 45 dias, renováveis por mais 45, para apresentar suas conclusões.

Setor produtivo quer andamento de reformas
São Paulo - Em dia de turbulência política, as poucas entidades do setor produtivo nacional que decidiram se posicionar clamaram pelo andamento de reformas no Congresso e pela investigação das recentes denúncias de corrupção.
Em uma parte das notas divulgadas pelas entidades, não há referência direta ao presidente Michel Temer (PMDB) e nem ao senador afastado Aécio Neves (PSDB). Ambos foram gravados em conversas com Joesley Batista, e o conteúdo dos áudios faz parte do acordo de delação premiada dos donos da JBS.
A Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) disse que "independente do momento atual vivido no Brasil, o poder legislativo precisa dar continuidade à agenda de reformas". Entre as alterações defendidas estão as reformas previdenciária, trabalhista, tributária e a aprovação da medida provisória que reabre o Refis.
José Carlos Martins, presidente da Cbic (Câmara Brasileira da Indústria de Construção), acredita que as reformas da Previdência e a trabalhista já estão avançadas o suficiente para não dependerem do que vai acontecer com o presidente Michel Temer, e precisam ser tocadas adiante. "Nós brasileiros devemos cobrar do Legislativo para que ele continue trabalhando e resolvendo as coisas do país. Se olharmos as reformas, neste instante, independe do Executivo."
Martins comparou o momento atual, em que Temer balança no cargo, com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, mas avaliou que a situação é ainda mais delicada para a economia e uma nova onda pode atingir os empregos.
"Lá atrás, quando teve o da Dilma, o País estava em dificuldade, mas não estava como agora. O risco que se tem agora é que a corda está esticadíssima. Pode estourar. É por isso que o Congresso tem que ser chamado a sua responsabilidade", afirmou o presidente da Cbic. (Folhapress)