O Copom realiza, nesta terça (19) e quarta-feira (20), a segunda reunião do ano para discutir os rumos da taxa básica de juros, a Selic. As decisões do Comitê de Política Monetária influenciam toda a economia e a política monetária nacional e a expectativa do mercado é que diante de fatores econômicos bastante favoráveis, o Banco Central reduza em mais 0,5% a taxa, baixando para 10,75% ao ano.

Desde que assumiu a presidência, em janeiro de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou uma queda de braço com o Banco Central e em diversas ocasiões criticou o posicionamento do Copom, que mantinha os juros em um dos maiores patamares do mundo. Desde agosto de 2022, a taxa Selic vinha sendo mantida em 13,75%. A leitura do governo era de que um percentual tão elevado impedia maiores avanços na economia.

A situação começou a mudar a partir de agosto do ano passado, quando pela primeira vez, em 12 meses, o Copom decidiu pela redução dos juros e definiu a taxa em 13,25%. A partir de então, houve uma redução gradual, de 0,5%, a cada reunião do comitê. Na última reunião, em janeiro, a taxa foi fixada em 11,25%. A expectativa do boletim Focus do Banco Central é que até dezembro a Selic caia para um dígito. A previsão é fechar o ano em 9%.

Para estipular a taxa básica de juros o Copom avalia diferentes aspectos econômicos, como a inflação, a atividade econômica, as contas públicas e o cenário externo. A Selic é o principal instrumento do Banco Central para o controle inflacionário e as decisões do comitê ditam os rumos de toda a política monetária nacional, com influência no valor de mercadorias e serviços, no poder de compra da população e no valor da moeda brasileira.

Em razão dos impactos no nível macroeconômico, o cidadão comum demora a perceber os efeitos da redução dos juros, mas após um ano e meio de movimento decrescente, a população em geral já consegue tirar proveito das decisões do Copom. “A redução em si, mês a mês, por si só, tem um peso muito pequeno, imperceptível para quem compra um bem a prazo. Mas como vêm vindo várias reduções, o consumidor já encontra condições de crédito muito melhor”, apontou o diretor executivo da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), Miguel José Ribeiro de Oliveira.

O diretor executivo destacou ainda que os consumidores já observam o aumento do poder de compra, decorrente da alta do salário mínimo, da inflação sob controle, associadas a uma política de juros mais branda. “Juros menores significam empresas com menos juros. O país cresce mais, sobra mais dinheiro para o consumo, o governo paga menos juros para financiar a vida pública, é um resultado para a economia muito positivo.”

A aposta da Anefac é de que no início da noite desta quarta-feira o Copom anuncie uma nova queda, de 0,5%, e por essa razão, Oliveira aconselha a adiar até o final da semana a compra de bens de maior valor, como automóveis e geladeira, por exemplo. “Quem puder esperar até depois da reunião do Copom, vai se beneficiar porque a taxa de juros do financiamento é fixada pelo percentual vigente na data do contrato e mesmo que a Selic caia, o valor financiado não se altera. Por isso, convém esperar.”

COMÉRCIO

Além da taxa de juros, o presidente da Faciap (Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado do Paraná), Fernando Moraes, chama a atenção também para a queda na inadimplência, o que avalia como uma consequência do programa Desenrola Brasil, do governo federal, e para o aumento dos postos de trabalho no Estado.

Um levantamento feito pela Faciap com base nos dados do SPC Brasil mostrou queda de 1,80% no índice de inadimplência no Paraná em fevereiro de 2024 quando comparado com igual período do ano anterior. O dado ficou abaixo da média da Região Sul, que teve variação positiva de 0,51%, e da média nacional, que cresceu 2,79%. “Temos uma pontualidade maior de pagamentos no Paraná e, na semana passada, saiu uma pesquisa da Fecomércio-PR (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Paraná) mostrando que cresceu bastante o endividamento no Estado, o que é bom. O que não pode é essa dívida resultar em inadimplência”, comentou Moraes.

Segundo o presidente da Faciap, embora os fatores econômicos positivos ainda não tenham se refletido no volume de vendas da indústria, mas isso é apenas uma questão de tempo. “Já começa a sobrar um pouco mais de dinheiro para o consumidor e a aceleração nas vendas vai acontecer lá na frente. O dinheiro vai ter mais valor e os produtos vão ficar mais baratos.”

O economista e professor do curso de economia da Faculdade Anhanguera, Élcio Cordeiro da Silva, disse que o efeito da redução dos juros no cotidiano dos cidadãos comuns ainda é muito pequeno porque há uma diferença expressiva entre a taxa Selic e os juros cobrados dos consumidores. Para que as decisões do Copom reverberem nos orçamentos domésticos, explicou ele, é necessário que venham acompanhadas, principalmente, da queda no nível de endividamento e inadimplência das famílias e empresas. Mas isso já vem acontecendo.

Silva citou a Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), realizada recentemente pela CNC (Confederação Nacional do Comércio), que indicou recuo no percentual de famílias com dívidas em atraso. “No último Natal, muitas famílias optaram por usar o 13º salário para pagar dívidas ao invés de gastar. Esses dados podem levar à redução do risco de inadimplência, embutido nos juros cobrados ao consumidor, potencializando, assim, o efeito da queda da taxa Selic.”

O economista salientou que a queda da taxa básica de juros auxilia na percepção de melhora da economia. “Esta redução vem acompanhada de uma reação expressiva do mercado de trabalho formal e controle da inflação, por parte do Banco Central. Todos esses fatores melhoram a percepção das famílias e empresas com relação à economia brasileira. Assim, os agentes econômicos passam a se comportar de forma otimista, estimulando o crescimento da economia.”

Apesar de reajustes de preços nos grupos de educação, alimentação e transportes terem provocado o aumento do índice oficial de inflação, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), em fevereiro, Silva ressaltou que esse fator não deverá mudar a direção da Selic, que deverá manter a queda. “A inflação oficial está dentro do limite máximo do Banco Central.”