Após ser criticado por prefeitos e lideranças políticas da região por não ter comparecido à última reunião da Amepar (Associação dos Municípios do Médio Paranapanema), em 6 de outubro, o secretário estadual de Infraestrutura e Logística, Sandro Alex, esteve em Londrina nesta quarta-feira (11) acompanhado de membros de sua equipe. Em uma tentativa de apaziguar os ânimos e em resposta a recorrentes reivindicações dos municípios da Região Norte, prometeu que o governo do Estado irá concluir a duplicação da PR-445 até Mauá da Serra e pediu apoio dos prefeitos para pressionar o governo federal com o intuito de incluir o Contorno Leste no pacote de concessões das rodovias paranaenses.

A reunião desta quarta-feira estava marcada para as 10 horas, mas começou pouco depois das 11 horas. Segundo Alex, o atraso ocorreu por questões que envolviam a segurança do voo que o trouxe a Londrina. Além de chegar atrasado, o secretário apressou a sua saída da sede da Amepar para atender ao pedido de entrevista de uma emissora de TV, o que gerou mais críticas de alguns prefeitos que deixaram o encontro sem poder esclarecer todos os seus questionamentos.

O não comparecimento de Sandro Alex à reunião da Amepar na semana passada foi interpretado por boa parte dos presentes, na ocasião, como desdém e um reflexo do que consideram como descaso a forma como o governo estadual tem olhado, desde o seu primeiro mandato, para as demandas do interior. A insatisfação dos prefeitos da Região Norte com a atitude de Alex chegou aos ouvidos de Ratinho Junior, que no último final de semana conversou com o prefeito de Londrina, Marcelo Belinati, para entender o “climão”, como definiu o próprio Belinati, que participou da reunião de forma remota.

Nesta quarta-feira, os prefeitos dos 22 municípios representados pela Amepar adotaram um tom mais apaziguador, chegaram a fazer um “mea culpa” em relação à falta de organização e união dos gestores municipais e evitaram criticar Ratinho Junior, embora não tenham poupado os integrantes do primeiro escalão do governo. “Eu queria que os secretários fossem iguais ao governador, que é muito prático. Alguns secretários enrolam muito para responder, para falarem o que vão fazer. Temos que olhar o Estado como um todo, não posso fazer obras estruturantes em uma região e não fazer em outra. Não acho que está havendo privilégio, só acho que outras regiões estão mais organizadas do que a nossa”, disse o presidente da Amepar e prefeito de Arapongas, Sérgio Onofre.

“Não acredito em uma falta de atenção com o interior. Quem se organiza, sai na frente. (Aqui na região), falta organização dos deputados, dos prefeitos, da Comissão de Infraestrutura e da sociedade civil organizada para definir quais as prioridades para que o governador entenda os caminhos que quer seguir e ter equidade na distribuição dos recursos”, afirmou o prefeito de Cambé, Conrado Scheller. “Temos que ver o que atende mais a coletividade e qual projeto está mais pronto e elencar as nossas prioridades. E esperamos que o secretário ouça as nossas prioridades.”

O prefeito de Ibiporã, José Maria Ferreira, também apontou a falta de organização ao reivindicar obras e recursos ao governo do Estado. “O que estamos observando e constatando é que falta investimento aqui. O que precisamos, por outro lado, enquanto prefeitos, lideranças regionais, da área de produção, é nos unirmos mais. Outras regiões têm se articulado melhor para atingir a finalidade de seus pleitos. Precisamos de uma movimentação mais assertiva nesse sentido.”

Alex iniciou a reunião dizendo não ter sido convidado para a reunião da Amepar, na semana passada, e desculpando-se pelo “desencontro de informações” e, em seguida, apresentou aos presentes as obras de infraestrutura consideradas prioritárias para a Região Norte pelo governo do Paraná. Entre elas, o secretário destacou os contornos Leste, Norte, Sul e a conclusão da duplicação da PR-445 entre Londrina e Mauá da Serra, incluindo os 23 quilômetros entre Irerê e Lerroville, cuja execução ainda não foi iniciada.

O trecho foi cedido ao governo federal e incluído no Lote 3 do pacote de concessões das rodovias paranaenses. Entre as lideranças da região, havia o receio de que se ficasse a cargo da concessionária, o término da duplicação da PR-445 se arrastasse até 2030. Com o compromisso do governo do Estado de assumir o projeto, a expectativa é de conclusão até 2026 e à concessionária caberá realizar apenas as obras de manutenção.

Segundo o secretário, valores e prazos serão detalhados em uma próxima viagem a Londrina. “Estamos em andamento com um acordo judicial que tem sigilo de Justiça e ao tempo da divulgação vamos demonstrar por que o governo ganhou esse acordo e o valor que está sendo ressarcido aos cofres do Paraná”, disse Alex.

Ele adiantou, porém, que o Estado poderá utilizar parte desse recurso na duplicação da PR-445. “Independente se vai ser com todo o recurso do acordo judicial ou do cofre do Estado, a execução é nossa e isso pode ser antecipado porque, em caso de acordo judicial, não tem licitação”, explicou.

Contorno Leste

O governador do Paraná, Ratinho Junior, enviou por meio do secretário de Infraestrutura e Logística, Sandro Alex, um documento assinado por ele confirmando o interesse do governo do Estado em incluir a obra no Lote 4. Mas Ratinho Jr. quer que deputados e prefeitos da região endossem a decisão.

A iniciativa de elaborar o documento, uma espécie de abaixo-assinado autorizando o governo federal a incluir o projeto no programa de concessões, partiu do fato de que a obrigatoriedade da execução dessa obra pela empresa vencedora do leilão encareceria a tarifa do pedágio. “O governador já assinou. Se a região acha importante e todos os representantes assinarem, o governo do Estado vai encaminhar ao ministro (dos Transportes, Renan Filho) e vamos ter uma variação no preço. A palavra final é da região”, disse Alex.

O Contorno Leste cria um novo acesso entre a PR-445 e a BR-369 e a obra é considerada importante por algumas prefeituras da região, como a de Londrina, por facilitar a ligação entre o Norte do Paraná e o estado de São Paulo, além de desafogar o trânsito na área urbana do município.

O valor do Capex do Lote 4 é de R$ 8,1 bilhões e a construção do Contorno Leste está orçada em cerca de R$ 800 milhões.

A decisão de tentar dividir com as administrações municipais a responsabilidade por uma provável elevação do preço da tarifa do pedágio deverá ser avaliada em uma próxima reunião dos membros da Amepar. “A iniciativa privada quer, mas quem assina são os políticos. O pedágio se torna um pouco mais caro com essas obras”, disse o presidente da entidade.

Onofre externou sua preocupação com o impacto que a inclusão de uma obra tão cara terá sobre as tarifas do pedágio e disse não considerar justo que todos paguem por um projeto que só beneficiará alguns. “O governador quer que a obra exista, nós da região, também. Mas por que o governo federal não faz a obra sem impactar o bolso das pessoas que já pagaram? O pedágio que está saindo daqui recebia antecipado e não executou as obras. Ele recebeu grandes obras das BRs. Por que agora temos que pagar uma coisa que já foi paga?”, questionou. “Depois que assinou e colocou a obra dentro do pacote, acabou, já começa a pagar a tarifa. Mas será que é justo pagar a tarifa por quem não vai usar? Não acho justo.”

O deputado estadual Tiago Amaral (PSD) apoiou a inclusão do Contorno Leste nas obras do Lote 4, mas defendeu que o documento encaminhado pelo governador seja assinado por mais atores, além de representantes do Executivo e do Legislativo. “É uma demanda importante que tem a ver com uma nova oportunidade de desenvolvimento. Essa discussão temos que fazer aqui, assumir a responsabilidade”, disse. “A assinatura do governador (no documento), não tenho dúvida nenhuma que fecha a discussão e vamos ver o que a gente sonhava para o futuro”, disse o deputado estadual Tercílio Turini (PSD).

Atualizada às 18h45