Assim como outros setores da economia, o mercado bilionário de fusões e aquisições no Brasil está mais animado e acreditando que a crise acabou. Os números consolidados mais recentes ainda são do primeiro semestre. Foram 385 negócios em todo o País, segundo a KPMG. Mantido a mesma quantidade no segundo semestre, será possível superar as 740 fusões e aquisições de empresas de 2016. O mercado vinha em queda desde 2014. Tinham sido 818 transações naquele ano e 773 em 2015.
A maior parte das fusões e aquisições nos primeiros seis meses do ano foram de empresas de internet (48), seguidas das de Tecnologia da Informação (47) e serviços de empresas (29), Na sequência, vieram as de alimentos, bebidas e fumo, entre elas a londrinense Belagrícola, cujo controle acionário foi vendido em maio para o grupo chinês DKBA.
Sócio da KMPG, Luís Motta diz que o cenário é de estabilidade. "Uma transação leva de seis a sete meses para ser concluída. Com um ambiente de risco demora mais", afirma. Para ele, os investidores voltaram a prospectar negócios, apesar a instabilidade política que ainda persiste no País, e as perspectivas do mercado para os próximos meses são positivas.
Motta ressalta que as fusões e aquisições são importantes para a economia porque fazem empresas crescerem e gerarem empregos. "Num primeiro momento, quando uma empresa é comprada, há uma tendência de enxugamento. Alguns empregos podem ser cortados. Mas quando um investidor compra uma empresa, ele está esperando retorno, ou seja está esperando o desenvolvimento de negócios e o crescimento delas."
De acordo com a KPMG, dos 385 negócios do primeiro semestre, 216 tiveram como compradores investidores estrangeiros.

Imagem ilustrativa da imagem Otimismo chega ao mercado de fusões e aquisições



BOUTIQUE
"Nossa leitura é que neste semestre o mercado acelerou", afirma Fernando Kireeff, sócio da boutique de fusões e aquisições JMD Advisors, de Londrina. "Nos últimos três meses sentimos uma mudança boa. Estamos neste momento em fechamento de três negócios", conta. São empresas das áreas de agronegócio, tecnologia e metalmecânica.
Outros duas transações, segundo ele, já estão fechadas, uma com processo em fase de aprovação pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e outra aguardando restruturação societária da empresa. De acordo com Kireeff, são empreendimentos dos setores de alimentos e imobiliário. "O ritmo está bem diferente do primeiro semestre", avalia.
O trabalho da JMD é buscar investidores para as empresas que procuram a boutique interessadas em serem vendidas ou fundidas. "Elas nos demandam e nós buscamos fundos de investimentos ou outras empresas interessadas em fazer negócio",conta.
Com clientes no Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo e Nordeste, a boutique foi responsável pela venda do controle acionário da transportadora londrinense Sotran para um fundo de investimento do grupo norte-americano Arlon, no final do ano passado.

COMPRADOR
Vice-presidente da Equity Brazil Capital e gestor do BR Brazilian Investors, com sede em Londrina, Israel Lucas Góis também está otimista em relação aos negócios. "Temos boas perspectivas. Acreditamos na retomada forte da economia", afirma. Ele está no outro lado do balcão, na condição de comprador. O fundo da família Góis, com capital de R$ 108 milhões, está de olho em quatro empresas do setor de grãos.
São 15 cotistas, sendo oito da família, dois amigos e cinco investidores estrangeiros – quatros norte-americanos e um chinês. "88% do capital do fundo está investido em seis empresas. "Além delas, temos ações de companhias como a Klabin, Suzano, Vale", explica.
De acordo Góis, o fundo se dedica a investir em negócios com faturamento de R$ 10 milhões por ano. "Compramos entre 60% e 80% dessas empresas e vendemos quatro ou cinco anos depois."
O gestor diz estar em busca de novos investidores no Brasil. A cota custa R$ 2 milhões. A ideia é recomprar as participações dos estrangeiros e vendê-las a brasileiros. "Os estrangeiros querem muitos relatórios, exigem auditoria e quando a gente investe numa startup, por exemplo, nem auditoria tem. É 100% de risco", alega.
Segundo Góis, no ano passado, o fundo vendeu a parte que havia comprado quatro anos antes da Fox Eletro, e-commerce de autopeças. "Compramos por R$ 2,5 milhões e vendemos por R$ 11 milhões". Também há quatro anos, adquiriu a JM Agro, de Assaí. "Ainda não a vendemos, mas já obtivemos uma rentabilidade expressiva", garante.
Questionado sobre o bom desempenho do fundo mesmo num cenário de crise, ele responde. "A crise, infelizmente, foi muito ruim para a sociedade de um modo geral. Mas para nós foi um período bom porque foi possível comprar ativos muito baratos. Empresas que valiam R$ 100 milhões foram vendidas por R$ 40 milhões."