Relatório da OMC compara os períodos de 2000 a 2009 e de 2000 a 2015 para indicar uma desaceleração da produtividade na agricultura brasileira
Relatório da OMC compara os períodos de 2000 a 2009 e de 2000 a 2015 para indicar uma desaceleração da produtividade na agricultura brasileira | Foto: Ivan Bueno/Agência Estadual de Notícias


A participação de produtos agropecuários brasileiros no mercado internacional caiu de 7,3% em 2012 para 5,1% em 2015. Segundo o exame das políticas de importações e exportações brasileiras da Organização Mundial do Comércio (OMC) divulgado na segunda-feira, 17, a perda de espaço do País se deve a uma oferta de capital que não exige contrapartidas de evolução tecnológica aos agricultores, além de falta de eficiência em infraestrutura para elevar a competitividade.

A falta de formação de acordos bilaterais com mais países e blocos econômicos também foi alvo de críticas de analistas ouvidos pela FOLHA. Porém, assim como representantes do governo brasileiro, eles contestaram a ideia de que o crédito agrícola é mais subsidiado por aqui do que, por exemplo, na União Europeia (UE).

Apesar de um maior período de bonanças do que de prejuízos no campo neste milênio, o relatório compara os períodos de 2000 a 2009 e de 2000 a 2015 para indicar uma desaceleração da produtividade na agricultura brasileira. O avanço, que era de 4,08% na primeira década, encolheu para 3,99% quando considerados os 15 anos. Ainda, a OMC considera que a produtividade do trabalho rural é quase quatro vezes inferior a dos demais setores da economia.

Para a OMC, o governo brasileiro subsidia pouco os produtores nacionais, mas oferece taxas de juros administradas, linhas de crédito e mecanismos de preço, além de seguros. Mesmo com a ressalva de que o nível da dívida rural no País seja alto, a entidade questiona a eficiência do crédito dado para os agricultores, que geraria riscos de "oferta em demasia".

Interferência

Por isso, o órgão sugere a redução de empréstimos para o capital de exploração, a simplificação de regras e uma mudança de orientação para apoiar investimentos condicionados à inovação. "Queria que a OMC apontasse qual país tem subsídio menor do que o brasileiro, sendo que o Brasil oferece taxas mais baixas no crédito e a União Europeia, por exemplo, subsidia o preço do alimento produzido internamente, o que gera uma interferência até maior no mercado", diz o professor de economia rural Eugenio Stefanelo, da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e da FAE.

Ele considera que o auxílio do governo em financiamentos rurais chegue a ser até 20 vezes menor do que o oferecido por Estados Unidos, Japão e UE. Para Stefanelo, o maior problema foi o fato de o Brasil buscar menos acordos bilaterais e plurilaterais com países e blocos econômicos. "Deixamos de lado grandes importadores, como China, Europa e Estados Unidos. É óbvio que o Mercosul é importante para o Brasil, mas esse viés ideológico traz reflexos agora."

O gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), Flávio Turra, também considera que as políticas adotadas se deram em um momento de crise internacional, em que o Brasil se voltou para dentro. "O consumo interno cresceu com a elevação de renda e nossa produção aumentou, mas ficou aqui", conta, não sem criticar a falta de atuação no exterior. "Tínhamos uma grande preocupação em ter adidos agrícolas lá fora, mas isso não foi implementado pelo governo, embora a iniciativa privada também tenha de estar antenada para buscar novos mercados", completa.

Stefanelo lembra que a crise de 2008 também fez com que nações importadoras impusessem barreiras aos produtos brasileiros. "O Brasil apostou todas as fichas na rodada multilateral para negociar tarifas e a abertura de mercados, mas essa rodada não ocorreu e outros países desenvolvidos ou em subdesenvolvimento buscaram firmar acordos, mas o Brasil não andou nisso", diz o economista.

Segundo Stefanelo, o Brasil tem três acordos bilaterais e 12 multilaterais, a maioria com importadores menores. "Por incrível que pareça, a eleição do Trump abriu a possibilidade de o Brasil fazer novas negociações e agora precisamos fazer o dever de casa." (Com informações da Agência Estado)

'Porteira para fora' diminui competitividade

O aumento da produtividade agropecuária no Brasil não é problema, mas os custos causados por tributação, legislação e falta de infraestrutura prejudicam a competitividade nacional no exterior. A opinião no mercado é que o desempenho da porteira para dentro pode melhorar, ainda que esteja alinhado com o que há de melhor em inovação e tecnologia no mundo. Da porteira para fora, porém, gasta-se bem mais no País do que em outras nações exportadoras.

O professor de economia rural Eugenio Stefanelo, da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e da FAE, considera que o agronegócio sustenta o comércio exterior nacional nos últimos sete anos. "De 2008 a meados de 2016 ainda fomos ajudados pelos altos preços das commodities, que, no geral, compensaram o câmbio mantido abaixo do ponto de equilíbrio pelo governo", diz.

Contudo, ele diz que a agropecuária tem crescido abaixo do potencial porque não fomos agressivos nas políticas externas. "Se mantivermos a política econômica com taxa de câmbio coerente com o mercado, retirarmos o imposto para exportações, que não faz sentido, e melhorarmos a infraestrutura de logística, temos condições de ampliar a produção e exportação", diz Stefanelo.

Para o gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), Flávio Turra, a demanda é antiga e avançou pouco. Ele lembra, por exemplo, a possibilidade de produtores do Centro-Oeste de exportar pelo Norte do País. "A competitividade depende de infraestrutura logística, o que não se resolve em curto prazo, mas tem de estar em qualquer pauta desde já."