Imagem ilustrativa da imagem Indústria paranaense gera mais empregos no interior
| Foto: Sergio Ranalli


A participação da Região Metropolitana de Curitiba (RMC) no total de empregos gerados pela indústria paranaense caiu 17% nas últimas duas décadas. Em 1996, a RMC concentrava 36,7% das 98,3 mil vagas do setor. Em 2015, essa participação havia baixado para 30,3% dos 215,5 mil postos de trabalho na indústria. Já a concentração do número de fábricas na região da capital diminuiu menos no período, de 33,2 para 31,1%, o que indica uma presença maior de estabelecimentos de pequeno porte. O levantamento foi feito pela FOLHA no Cadastro Central de Empresas (Cempre), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).

O processo de industrialização do interior não foi homogêneo. Além da RMC, outras três das dez mesorregiões do Estado tiveram redução na participação de empregos. No Sudeste, de União da Vitória, localizavam-se 4,8% das vagas em 1996. No final do período analisado, esse índice havia caído para 2,9%. O Centro Sul, de Guarapuava e Umuarama, também perdeu participação (de 3,9% para 3,2%). Assim como o Centro Oriental, de Ponta Grossa, onde a participação foi de 7,2% para 6,3.

O grande destaque na geração de emprego industrial nessas duas décadas foi a mesorregião Oeste, de Cascavel, que quadruplicou as vagas - de 21,1 mil para 88,9 mil. Com isso, a participação no total do Estado foi de 7,8% para 12,5%. Já o número de indústrias no Oeste teve um aumento de participação bem menor, de 10,5% para 11,4,%, revelando que a mesorregião foi capaz de atrair grandes empresas do setor.

O Noroeste, de Paranavaí e Cianorte, também quase quadruplicou o número de vagas, de 18,2 mil para 68,7 mil. Sudoeste, de Francisco Beltrão e Pato Branco, e o Norte Pioneiro são outras regiões que ganharam participação (ver quadro).

Segunda mesorregião em número absoluto de vagas, o Norte Central, de Londrina e Maringá, teve sua participação nos postos de trabalho da indústria paranaense estabilizada em 23%. Já a participação no número de indústrias foi a que mais cresceu no período, de 22% para 26%, revelando a proliferação de empresas de menor porte.

ANÁLISE
O economista da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Roberto Zurcher, conta que a indústria de alimentos é a responsável pela geração de empregos no Oeste. "Ali, se processa grãos. O grande pulo do gato do Oeste é transformar a riqueza agrícola em proteína animal", afirma referindo-se ao fato de a região produzir grãos e transformá-los em ração para a indústria avícola com forte presença local.

Zurcher diz que a mesorregião Noroeste foi uma das últimas a receber investimentos industriais. E que lá destacam-se o processamento de alimentos como cítricos, carnes e mandioca. "Temos ainda a forte presença da indústria têxtil em Cianorte", ressalta.
Segundo o economista, a industrialização de uma região depende da vontade política de seus líderes e de um planejamento bem feito. E não ocorre da noite para o dia. "Pato Branco (Sudoeste) não tinha nada. Criaram escolas e faculdades tecnológicas e hoje parte da indústria eletrônica migrou da região de Curitiba para lá, em busca de mão de obra qualificada e mais barata", conta.

Para ele, a industrialização do interior é uma realidade, mas ocorre de forma distante do desejável. O economista elogia o programa Paraná Competitivo do governo estadual, que visa atrair novos investimentos para o Estado, mas diz que é preciso mais que isso para levar indústrias às regiões mais pobres. "Quando trouxeram a Volvo para Curitiba, a prefeitura se comprometeu a comprar ônibus da montadora durante determinado tempo", exemplifica.
O economista e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Alexandre Porsse, diz que a descentralização da indústria dos grandes centros urbanos é uma tendência nacional. Ele afirma que, em São Paulo, esse processo ocorreu de forma mais intensa que no Paraná. Por outro lado, conta que o Estado roubou participação nos empregos industriais do Sudeste, principalmente de São Paulo. "Em 1996, o Paraná tinha 6,2% das vagas existentes no País, e chegou a 8,6% em 2015", ressalta.

Para Porsse, há infraestrutura no Paraná suficiente para uma desconcentração maior. "Temos como levar mais investimentos para o interior. Mas é preciso implantar políticas públicas complementares. Sem elas, vai demorar muito tempo para haver uma desconcentração maior", aponta.

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Maringá e Londrina se destacam em lista
Londrina e principalmente Maringá se destacam numa lista de dez médios municípios da região Sul, São Paulo e Minas Gerais, quanto à criação de empregos na indústria. A Cidade Canção é a segunda do ranking. Tinha 18.039 vagas em 1996 e passou a 47.420, aumento de 162%. A paulista São José do Rio Preto foi a que apresentou maior crescimento, de 20.778 empregos foi para 54.980 (164%). Londrina vem em terceiro lugar, tendo aumentado os empregos da indústria em 153%, de 20.695 para 50.345.

Duas outras sulistas do grupo, Caxias do Sul (RS) e Joinville (SC), geraram proporcionalmente menos empregos, 102% a primeira e 90%, a segunda. Mas, em já tinham um parque industrial bastante consolidado em 1996, quando a gaúcha gerava 69.834 empregos e a catarinense 70.167. Passaram a 141.136 e 133.510, respectivamente, liderando o ranking quando se olha apenas para os números absolutos. Na lista, ainda estão as paulistas Ribeirão Preto e Sorocaba, que aumentaram o número de empregos na indústria em 115% e 110%, respectivamente. De 31.660 para 68.066 a primeira e de 60.647 para 127.683, a segunda.
Já a mineira Uberlândia tinha 16.246 vagas industriais e passou a 31.812 (95%). Por fim, a paulista Jundiaí foi de 41.304 para 75.968 empregos no setor (84%). (N.B.)

Microrregiões de Apucarana e Astorga ganham participação no Norte
Da mesma forma que no Estado, o desenvolvimento industrial do Norte Central se dá de forma pouco homogênea. As microrregiões de Maringá e Londrina concentram a maior parte dos empregos, mas perderam participação no total da mesorregião. As oito microrregiões tinham 62.108 vagas na indústrias em 1996. E, em 2015, chegaram a 165.165 – aumento de 166%. Londrina tinha 33,3% do total e passou a 30,4%. Maringá saiu de 29% para 28,7%.
Apesar de menos empregos (47.420), a micro de Maringá tinha mais indústrias (3.668) que a de Londrina em 2015 (3.584 indústrias e 50.345 vagas). Isso indica que na região da Cidade Canção há mais empreendimentos de pequeno porte.

Como é natural, as microrregiões com presença insignificante de empregos industriais em 1996 tiveram maior crescimento proporcional no período. A participação que mais cresceu, 127%, foi a da microrregião de Floraí. Lá, haviam apenas 179 empregos no início do período e, em 2015, eram 1.084. As micros que mais roubaram participação de Maringá e Londrina foram as de Apucarana e Astorga. Na primeira, o número de empregos era de 12,9 mil e passou a 36,9 mil. O crescimento em Astorga foi de 6,9 mil para 19,7 mil. Ambas tiveram ganho de participação de 7% dentro da microrregião.

O economista da Fiep, Roberto Zurcher, afirma que a industrialização de Londrina se deu antes que a de Maringá. E cita a Cacique de Café Solúvel, fundada na cidade há 58 anos. Mas, na visão do economista, Londrina estagnou na área industrial porque priorizou o desenvolvimento do setor de serviços. "Já Maringá vem apostando forte na industrialização em vários setores, na indústria alimentícia, metalúrgica e de vestuário, por exemplo."

Para ele, o trecho entre Londrina e Bandeirantes (Norte Pioneiro) tem um potencial muito grande a ser explorado pela indústria por estar equidistante de dois grandes polos consumidores, São Paulo e Curitiba. "Além disso, há boas estradas na região, que precisa ser mais bem explorada." (N.B.)