Conforme mostrou a FOLHA nesta segunda-feira (20), a Sercomtel tem um passivo acumulado de R$ 218,5 milhões, sendo a maior parte, mais de R$ 78 milhões, ou 36%, referentes a impostos não pagos e parcelados para curto e longo prazos. Há também um grande volume, R$ 52,7 milhões, de provisões para contingências de longo prazo. Praticamente todo o recurso foi provisionado para pagar ações judiciais. Outro grande volume é de benefício pós-emprego (para pagar aposentadorias de funcionários): R$ 23,7 milhões (ver quadro).
Jaime Cardoso, presidente do sindicato que representa as empresas de contabilidade, o Sescap, diz que a situação da telefônica é muito difícil. Com base nos balanços publicados no site da Sercomtel, ele calculou alguns indicadores. O Índice de Liquidez Corrente (ICL) da operadora caiu de 1,80 para 0,82 de 1998 a 2015. "Esse índice mostra que, em 1998, para cada real de dívida, a empresa tinha R$ 1,80 no caixa. Já em 2015, para cada real de dívida, tinha apenas 82 centavos."
Outro indicador que preocupa é o Índice de Endividamento Geral (IEG). Saiu de 10,3% para 71,2% no período. "Qualquer empresa que esteja numa situação desta tem de buscar recursos. Precisa de fazer um chamado de capital para que volte a ser solvente e recupere a liquidez."
Mas, para ele, o certo seria os sócios venderem a empresa. "O setor de telecomunicações é uma atividade de risco muito grande, que deve ficar na mão do capital privado. Essa é minha opinião particular. Não é a do sindicato", ressalva.
Geraldo Sapateiro é voz dissonante. Presidente do sindicato que representa os contadores, o Sincolon, ele acredita na viabilidade da Sercomtel como empresa pública. "Sou suspeito para falar. Sou cliente de longo tempo. O serviço é muito bom. Já tive telefone de outras operadoras e elas não têm a mesma qualidade." Mas, admite que a situação é difícil. "Os ativos de curto prazo estão diminuindo e os passivos de curto prazo estão aumentando. Está aumentando o valor da dívida e o dinheiro disponível em caixa para saldá-la está sendo insuficiente."

REEQUILÍBRIO
Por meio da assessoria de imprensa, o presidente da empresa, Luiz Carlos Ihity Adati, descartou a venda. "Não existe nenhum outro pensamento agora que não seja o de reequilibrar financeiramente a Sercontel". Segundo ele, a "alavanca para o crescimento" serão parcerias e novos modelos de negócios. A reportagem tentou ouvir o prefeito Marcelo Belinati (PP), mas ele não retornou a ligação. (N.B.)