Brasília - A queda do dólar ajudou a piorar as contas externas em abril. Gastos recordes no exterior e aumento nas remessas de lucro levaram o País a fechar o mês com um deficit em suas transações acima do esperado pelo governo. As despesas com bens e serviços importados superaram as receitas em moeda estrangeira em US$ 8,3 bilhões no período, segundo o Banco Central, maior valor para meses de abril desde 1947. A instituição projetava resultado negativo de US$ 7,8 bilhões.
O câmbio é apontado pelo BC como responsável pelo resultado. A queda do dólar nos últimos meses incentivou a compra da moeda estrangeira, tanto pelas pessoas que vão viajar como pelas empresas que precisam remeter lucros para fora do País.
Para o BC, os números do primeiro quadrimestre confirmam a principal previsão oficial para o ano: o deficit externo deve registrar uma pequena queda em relação a 2013, de US$ 81 bilhões para US$ 80 bilhões, o equivalente a 3,6% do PIB.
A instituição afirma que o deficit se estabilizou nesse patamar desde o final do ano passado, depois da piora verificada nos últimos dois anos por causa da balança comercial. E deve continuar assim até dezembro, se a expectativa de melhora no comércio exterior se confirmar.
No setor privado, a maioria das previsões aponta para um resultado um pouco pior, fator capaz de pressionar o câmbio um pouco mais para cima. O risco de crise cambial, no entanto, é descartado pelos analistas. No acumulado em quatro meses, o resultado negativo cresceu 2% em relação ao mesmo período de 2013, para US$ 33,5 bilhões.
O Investimento Estrangeiro Direto (IED), direcionado ao setor produtivo, segue financiando cerca de 80% do resultado negativo neste ano. O restante tem sido coberto com empréstimos externos e aplicações em títulos públicos, fluxos considerados mais voláteis, mas que cresceram com a alta da taxa básica de juros.
"Isso (maior dependência de capitais mais voláteis) incorre em uma leve piora dos indicadores de endividamento externo brasileiro", diz a consultoria Rosenberg Associados, ressaltando, contudo, que "nem de longe" se espera uma crise no balanço de pagamentos.

Viagens
Os brasileiros gastaram US$ 2,3 bilhões em viagens ao exterior em abril, recorde para todos os meses da série histórica. O chefe do Departamento Econômico da instituição, Tulio Maciel, atribuiu o resultado, principalmente, à queda recente do dólar. Ele disse que o número está fora do padrão observado no primeiro trimestre, período em que essas despesas estavam desacelerando.
Segundo Maciel, ainda não é possível avaliar se o resultado de abril é algo pontual ou o início de uma tendência. O BC continua apostando na primeira explicação.
"O câmbio contribui para esse resultado (no mês), mas viajar para fora continua mais caro do que no mesmo período do ano passado", afirmou Maciel. No acumulado deste ano, essas despesas aumentaram 2%, para US$ 8,2 bilhões.

Imagem ilustrativa da imagem Gastos com viagens pioram as contas externas em abril