Empresários se reúnem dia 9 de março para aprovar o estatuto social e o acordo de acionistas
Empresários se reúnem dia 9 de março para aprovar o estatuto social e o acordo de acionistas | Foto: Roberto Custódio



Um grupo de empresários de Londrina está se reunindo para formar uma empresa de investidores anjo. O objetivo é investir em projetos inovadores que estejam sendo desenvolvidos na região. O grupo, chamado de Smart Value, é formado, por enquanto, por dez empresários de diversas áreas de negócios. A ideia é reunir até 15 empresários que deverão investir, juntos, R$ 1,5 milhão a R$ 2 milhões pelos próximos dois anos em startups com projetos inovadores.

A seleção será feita em parceria com o ecossistema de inovação de Londrina, começando pela aceleradora Hotmilk, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), que deve ser inaugurada em Londrina até o final do primeiro semestre. Logo na inauguração, a aceleradora deverá lançar o edital de seleção de projetos e a Smart Value se colocará à disposição para investir nos negócios que apresentem potencial. A preferência será dada a startups regionais. O primeiro edital deverá ser aberto a projetos de todas as áreas, mas a ideia é que os editais seguintes sejam "temáticos", voltados a áreas como o agronegócio. "Agro é a principal área em que temos interesse, até pela característica da região. Somos uma região agropecuária muito forte. Mas estamos abertos a áreas de saúde educação, logística, fintechs", declara Moacir Vieira dos Santos, do Grupo Value, sócio administrador do grupo.

A Smart Value fará parte da comissão avaliadora e da equipe de mentores dos projetos para aceleração na Hotmilk. Se selecionado, o projeto passa por uma etapa de pré-aceleração, que dura de quatro a cinco semanas, e então é avaliada novamente. Se aprovado, vai para a fase de aceleração propriamente dita, que dura cerca de três meses. No final, caso apresente potencial de mercado, o negócio pode vir a receber o aporte de capital do grupo de investidores anjo. Vieira lembra que o grupo atuará em conjunto com todo o ecossistema da região, não se limitando à aceleradora da PUC-PR. "Queremos transitar e ter parceria com todo o ecossistema local, UEL, PUC, UTFPR... Onde houver bons projetos, temos interesse em investir."

O capital anjo é voltado ao "primeiro round" de investimentos a fim de viabilizar o lançamento de um produto ou serviço de uma startup a partir de um produto viável mínimo (Minimum Viable Product – MVP). A taxa interna de retorno (TIR) mínima esperada pelo grupo de investidores dos negócios inovadores é de 33%, valor que eles consideram baixo no mercado de startups, uma vez que se trata de um investimento de alto risco. Em compensação, a cota de investimento para cada investidor do grupo é baixa, o que diminui o prejuízo no caso de a startup não ter sucesso. "Está muito claro que esse é um negócio de alto risco, por isso não queremos expor muito o dinheiro do investidor. O valor da nossa cota é baixo, mas que se somado de 10, 12 pessoas, se torna um volume considerável", explica Vieira.

Aceleradora sai neste semestre
A Hotmilk, aceleradora da PUC-PR, está em fase final de adequação estrutural e a previsão é que, entre o final de abril e o início de maio, já esteja pronta para receber as startups, afirma Cristiano Teodoro Russo, coordenador do Núcleo de Empreendedorismo, Inovação e Tecnologia (NET) da PUC-PR e coordenador da Hotmilk em Londrina. A estrutura da aceleradora ficará localizada em duas salas alugadas localizadas em um prédio em frente ao campus da instituição na cidade, com 200 m² a 290 m².

No processo de aceleração, as startups mais maduras, que já possuem um produto mínimo viável, um protótipo, têm a oportunidade de receber o impulso para ganhar escala com mentorias específicas para o seu plano de negócio e abertura de canal de investimentos.
A seleção para a Hotmilk será aberta para toda a comunidade de startups do País e passará por fases de inscrição on-line, envio de vídeo e de projeto escrito e de avaliação por banca composta por mentores, dentre os quais estão os investidores da Smart Value. Serão selecionadas de três a cinco startups, afirma Russo. "Avaliamos que era importante estarmos inseridos no ecossistema de inovação em Londrina, que é rico e forte", declarou o coordenador da Hotmilk em Londrina. Conforme ele, o modelo de aceleradora que será instalado em Londrina é inédito. "O modelo de Londrina será inovador porque o projeto já vai contar com mentorias de quem faz parte do grupo de investidores. Isso não é algo comum de acontecer." (M.F.C.)

Pioneirismo marca projeto
De acordo com Fabrício Bianchi, consultor do Sebrae Londrina, com o grupo, a regional Norte passa a ser a primeira das seis regionais do Sebrae Paraná a ter um grupo que quer investir em negócios inovadores na dinâmica de "smart money". "Esse é um grande ganho para nós, que passamos a ter um grupo disposto a investir em empresas de base tecnológica e podemos avançar nos projetos de forma consistente."

Por "smart money", entende-se um investimento que não se resume apenas ao aporte financeiro, mas que também envolve a contribuição dos investidores para o projeto, seja com conhecimento técnico, seja com know-how de negócios. "Um dos cuidados que nós tivemos foi convidar para o projeto não apenas pessoas que têm dinheiro, capital. Quisemos pessoas que têm o que a gente chama de ‘smart money’, que de alguma forma possa contribuir para o projeto ou com conhecimento técnico, ou com networking", explica Vieira. "Para nós, como investidores, o interesse é que o projeto prospere, a ideia se transforme em um negócio, e o negócio se torne um grande negócio", ele continua.

O sócio administrador conta que a ideia do grupo nasceu da oportunidade oferecida pela região, rica nas áreas de inovação e de startups. "Vimos uma oportunidade na nossa região de investir não só em mercados tradicionais. Londrina é uma região muito próspera, muito rica na área de inovação, de startups. Mas nós percebemos que havia uma carência muito grande relacionada a investidores." Para Bianchi, o capital inovador é hoje um dos principais gargalos no ecossistema de inovação da região.

Chrystian Teodoro Scanferla, da Arandu Sistemas, é um dos empresários da Smart Value. Para ele, a empresa traz uma forma de investimento em grupo mais sistematizada e mais heterogênea, com parcerias que podem contribuir para diminuir o risco e aumentar as chances de os negócios terem sucesso. "É uma outra forma de investimento e uma maneira de colocar a cabeça fora d´água, de sair um pouco de dentro de nosso próprio negócio e até trazer outros negócios para agregar valor ao nosso."

Vera Lúcia Ramos Antunes, sócia-proprietária da empresa de limpeza Centrallimp, também resolveu fazer parte do grupo de investidores para oferecer o seu conhecimento como empreendedora. "Sempre tive tendência a descobertas, estou sempre buscando novidades. Claro que a gente vislumbra prosperidade e sucesso, possibilidade de ganhos no futuro. Mas sabemos que isso é um passo a passo, que a gente vai chegar lá." (M.F.C.)