Curitiba - A nova alta da taxa básica de juros - a Selic - que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) promoveu na última quarta-feira foi considerada como uma medida necessária para conter a inflação, mas não deveria ser o único instrumento do governo federal para conter a elevação de preços de vários segmentos no País. A opinião é compartilhada pelos especialistas ouvidos pela reportagem da Folha. Para o consumidor, o reflexo deve ser imediato.
‘’O governo descarrega o controle de preços sobre a política monetária porque não utiliza outros recursos como o controle dos gastos públicos’’, disse o diretor de pesquisa do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), Julio Suzuki. Por este motivo, os juros sobem. Ele disse que o Banco Central não tinha alternativa neste momento e acredita que cortar os gastos públicos do governo vai ficar mais difícil com a proximidade das eleições de 2014.
Ele ressaltou ainda que há um descompasso entre a oferta e a demanda, aí gera a inflação. ‘’Consome-se mais do que se produz no País’’, disse. Suzuki lembrou que o cenário futuro para os juros não é muito otimista. Um levantamento realizado pelo Banco Central mostrou que a Selic pode chegar a até 12% no final de 2014. A Selic iniciou o ano em 7,25% e foi em um processo de escalada até atingir 10% neste mês.
Para o economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Fabiano Camargo da Silva, a nova alta dos juros vai limitar o crescimento econômico do País. Ele lembrou que no segundo semestre deste ano já iniciou um cenário de redução da taxa de inflação em comparação ao primeiro semestre. ‘’O governo fez um grande esforço para aumentar os juros, mas os reflexos disso podem chegar em um momento que a inflação estará menor’’, afirmou.
O economista e professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e da Faculdade Estácio, Daniel Poit, também defendeu que a inflação deveria ser freada com um controle maior das contas do governo e estímulos ao investimento industrial. Segundo ele, a indústria brasileira usa muito a importação de matérias-primas. Como o dólar subiu, este custo na indústria também foi responsável por alimentar a inflação.
Os especialistas acreditam que os efeitos do aumento dos juros serão praticamente imediatos para o consumidor final, mas não preveem que isso interfira muito nas vendas de Natal. ‘’Devemos ter um Natal bastante razoável porque o emprego está em alta’’, disse Suzuki.
Silva acredita que o aumento da Selic vai refletir em crédito com taxa de juros mais elevada. ‘’Isso reduz o crescimento do País e não atinge as causas da inflação’’, disse. Ele recomenda que o consumidor pesquise, avalie bem o consumo e faça um planejamento para comprar à vista e não a prazo.
Poit destacou que quando acontece uma redução na taxa Selic, o reflexo não é tão imediato para o consumidor. Ele acredita que o aumento dos juros não vai trazer um impacto tão direto para o Natal porque as festas de fim de ano já estão muito próximas e o consumidor já fez o planejamento de compras.
As principais dicas dele para o consumidor são estar vigilante com as taxas, procurar as condições mais favoráveis e ser o menos emocional possível na hora de decidir por uma compra. Além disso, ele recomenda que as pessoas evitem cair no rotativo do cartão de crédito e no limite do cheque especial.