Para Maitê Uhlmann, diretora de Turismo da Codel, Londrina tem potencial para impulsionar economia criativa, mas ativos que precisam ser olhados com olhar mais estratégico
Para Maitê Uhlmann, diretora de Turismo da Codel, Londrina tem potencial para impulsionar economia criativa, mas ativos que precisam ser olhados com olhar mais estratégico | Foto: Mie Francine Chiba - Grupo Folha

A economia criativa movimenta US$ 40 bilhões ao ano, o correspondente a 2,6% do PIB brasileiro, gera um milhão de empregos e R$ 10 bilhões de impostos, com crescimento de 4,6%, segundo a consultoria PwC. O potencial desse tipo de economia é alto e precisa ser aproveitado em Londrina, que já conta com um ambiente extremamente favorável para isso. A conclusão do Fórum Desenvolve Londrina, que lançou nesta quinta-feira (28) o caderno “Economia criativa para o desenvolvimento sustentável de Londrina”, elaborado com base em estudos realizados ao longo de 2018. A economia criativa foi tema do Fórum no ano passado.


Maitê Uhlmann, diretora de Turismo da Codel (Instituto de Desenvolvimento de Londrina), destacou que Londrina é um celeiro de startups, um polo de software e audiovisual, tem gastronomia forte - reflexo de todas as etnias que fizeram parte da fundação da cidade –, 13 festivais, turismo de eventos e negócios e 50 mil estudantes nas universidades.


No entanto, Londrina apresenta alguns problemas que impedem que a economia criativa se desenvolva na cidade. Dentre os problemas identificados pelo Fórum Desenvolve Londrina estão a falta de articulação entre setores público, privado e universidades; eventos culturais e roteiros turísticos fortes, mas que não estão “nas prateleiras”; espaços públicos pouco frequentados e espaços privados inadequados para o mercado; patrimônio cultural pouco valorizado como ativo importante da cidade; turismo sem políticas públicas; e falta de patrocínio na cultura, por exemplo.


O estudo também propõe soluções para promover a economia criativa em Londrina, como a articulação entre os setores público e privado; a capacitação de agentes públicos; uma agenda integrada de eventos; ocupação de espaços públicos; criação de políticas públicas; integração entre diferentes áreas da economia por meio da inovação; e um investimento maior nos projetos culturais pela iniciativa privada, por exemplo.


“Faltava para Londrina reunir todas essas informações e todo esse ativo circulante que tem na cidade que a gente não consegue ver sob um olhar estratégico”, comentou Maitê Uhlmann. “A gente vê que tem tanta coisa, as startups, o polo audiovisual, o polo de software, os festivais, a presença das universidades, de toda essa massa pensante da cidade, os centros de pesquisa como Embrapa Soja, Iapar, e não transforma isso efetivamente em produto. A gente não se posiciona. Nós somos ótimos, mas não contamos para ninguém.” Para a diretora, isso primeiro tem que partir de um sentimento de pertencimento, de orgulho do londrinense pela cidade.


Os ativos intangíveis da cidade, como o talento e a criatividade, na opinião da diretora, são a economia do futuro, sustentável e “sem chaminé”. É preciso, portanto, saber como aproveitar esses ativos para atrair negócios para a cidade e converter a economia criativa em qualidade de vida para a população. “O que sempre foi valorizado foi o chão de fábrica. Não que não tenha esse valor, mas nunca foi pensado de forma mais estratégica o intangível.”


Levantar indicadores da economia criativa da cidade é um passo importante para atrair investimentos para esse segmento. “A gente não sabe, por exemplo, qual o impacto dos nossos 13 festivais, do audiovisual na cidade. Quanto efetivamente gera os eventos das áreas de negócios na cidade. A gente tem que começar a tangibilizar tudo isso para propor ações estratégicas - redução do ISS de 5% para 3%, colocar essas ideias dentro do Master Plan, atrair investidores para o centro de convenções”, exemplifica Uhlmann.



COMITÊ

A criação de um Comitê Municipal de Economia Criativa, que será formada por lideranças diretamente ligadas à economia criativa, dos setores público e privado, irá contribuir para colocar as proposições do Fórum em prática, observou Leandro Magalhães, doutor em História e coordenador do Projeto Educação Patrimonial em Londrina. “Esse comitê vai possibilitar que aquilo que discutimos, levantamos no Fórum Desenvolve Londrina, possa ser executado. Londrina tem todas as condições para isso, já é uma cidade criativa. Precisamos ter esta marca e o comitê vai ajudar a encaminhar isso para fortalecer a ideia de que Londrina é uma cidade criativa.”


Conforme Uhlmann, a partir das informações levantadas pelo Fórum, o comitê irá escolher algumas ações estratégicas para trabalhar a economia criativa na cidade. “Esse comitê vai alinhar ações estratégicas a partir das ações prioritárias levantadas pelo Fórum Desenvolve para trabalhar Londrina como sendo uma cidade criativa.”


“A criatividade é um dos principais ativos da cidade há muitos anos. Londrina já vivencia a economia criativa no dia a dia. Precisamos nos organizar em torno da temática”, afirmou Caio Cesaro, secretário de Cultura de Londrina. A Secretaria de Cultura e a Codel farão parte do Comitê.


Para a presidente do Fórum Desenvolve Londrina, Cláudia Romariz, a primeira contribuição do Fórum para a economia criativa em Londrina foi despertar os londrinenses para o tema e fazer com que eles percebam que, mesmo sem saber, já promovem esse tipo de economia na cidade. “A segunda contribuição que penso é a articulação entre as pessoas. Esse comitê que está sendo criado por decreto pela Prefeitura e a Secretaria da Cultura com movimento da Codel também vai dar um passo importante para as pessoas conversarem de uma forma prática, unir entidades e pessoas envolvidas com os vários segmentos”, ressalta Romariz.


IDENTIDADE
Para a presidente do Fórum, Londrina não tem uma identidade específica por ter muita diversidade de etnias. “É difícil na diversidade encontrar uma identidade.” Entretanto, ter uma identidade é importante para “vender” a cidade como um ativo cultural mundo afora. “Talvez a identidade seja a diversidade. Se as pessoas não pensarem conjuntamente, fica difícil vender a cidade como um ativo cultural para que o mundo lá fora consiga enxergar Londrina e investir nela. Esse quadro tem que ficar claro para os londrinenses, para empresas, para o poder público e para quem possa investir na cidade”, explica a presidente do Fórum.


HACKATHON
Outra ação decorrente do Fórum Desenvolve Londrina foi a idealização do 1º Hackathon de Economia Criativa, ainda sem data marcada, com o apoio do APL (Arranjo Produtivo Local) de TI de Londrina, Sebrae, Senai, entre outras identidades. “O hackathon vem ao encontro com o que o governo fala muito hoje, de digitalização da economia”, comentou Gilmar Machado, presidente da APL de TI de Londrina.


MESAS DE DISCUSSÃO
Em paralelo ao lançamento do Caderno de Estudos, o Fórum Desenvolve Londrina realiza até esta sexta-feira (29), no período da tarde, um seminário com mesas de discussão a respeito de temas da Economia Criativa. Nesta sexta, os temas são Mídia Digital e Tecnologias, às 14h, e Mundo das Artes e Cultura, às 16h. As inscrições para participar podem ser feitas pelos links bit.ly/2HHRJyj e bit.ly/2WcUATF.