No salão de beleza, aquecedor e manta térmica para as clientes que fazem as mãos e os pés garantiram um maior movimento
No salão de beleza, aquecedor e manta térmica para as clientes que fazem as mãos e os pés garantiram um maior movimento | Foto: Saulo Ohara


Uma gangorra começa no comércio de rua com a chegada do inverno. De um lado, muitos estabelecimentos aproveitam para faturar na comercialização de produtos que têm mais "a cara" da estação. Por outro, é hora de muitos empresários se desdobrarem para manter o movimento de negócios que sofrem com a queda nas vendas e serviços. Momento de usar a criatividade, boas estratégias, planejamento, e claro, manter as portas abertas a qualquer custo, enfrentando uma economia que não está lá aquelas coisas.

O consultor do Sebrae em Curitiba Osmar Dalquano Junior bate numa tecla importante: quem atua no varejo precisa entender a sazonalidade do negócio e, principalmente, se antever ao que está por vir. "No plano estratégico de vendas está a adequação de serviços e produtos. É preciso antever esses momentos, já chegar (no inverno) com diferenciais que agreguem valor ao negócio. Não dá para pensar em algo do dia para noite".

Dalquano cita exemplos interessantes que já viu na capital do Estado: padarias que vendem sopa, restaurantes de comidas leves focando em produtos de maior sustância e sorveterias se adaptando a receitas quentes. "Uma ideia interessante é perguntar aos clientes se determinada ação no inverno seria aceita. Assim, o empresário consegue ter um posicionamento melhor de como o mercado irá se comportar".

Aquecedor no salão

É impressionante a perspicácia dos comerciantes no momento de se reinventar. Que o diga Rachel Sacca Prado, proprietária do Studio Jardins, salão de beleza localizado no centro de Londrina. No ano passado, ela tomou uma decisão importante para seu negócio: deixou o espaço de um pequeno shopping e alugou uma casa maior com o intuito de ampliar o negócio.

O que ela não previa é que o novo ambiente seria tão gelado no inverno, o que acabou refletindo diretamente na queda do movimento das clientes durante a estação. Os serviços mais afetados foram o de manicure e, principalmente, pedicure, com retração de 50% no movimento. "Nesta estação, as clientes tendem a não se arrumar no salão, porque acaba sendo um pouco incômodo pela temperatura e pelas chuvas", salienta.

Neste ano, entretanto, Rachel mudou o cenário e nem precisou investir tanto assim. A empresária comprou dois pequenos aquecedores e quatro cobertas de microfibra, gastando pouco mais de R$ 300. Foi o suficiente para aquecer as clientes na hora de fazer pé e mão e, consequentemente, manter o movimento elevado. "Nenhuma cliente desmarcou mais o serviço, principalmente pedicure. Além disso, comprei uma garrafa térmica grande para manter a água bem quente, já que no lavatório não consigo segurar a temperatura tão alta".

Com ou sem inverno, o fato é que o negócio do salão cresceu de um ano para o outro. Apesar do cenário econômico, ela contratou três cabeleireiros e uma esteticista neste período. "Sem dúvida, vou fechar 2017 melhor do que o ano passado".

Sorveteria faz pequenos ajustes

Há 16 anos no mercado de sorveterias, o empresário Maicon Totti, da Totti Sorvetes, já fez de tudo para passar pela estação. Já apostou em café, bebidas quentes e outros alimentos, mas no caso específico do seu negócio, percebeu que o melhor era manter o foco no sorvete, com pequenos ajustes. "Pelo custo e o pequeno período de inverno na cidade, para mim não vale a pena apostar nesses produtos que não fazem parte da nossa essência".

A ideia então foi criar sabores que atraem mais no inverno, como é o caso da paçoca, doce de leite ou "Ferrero Rocher". "Também apostamos nas tortas geladas com calda quente, que acabam atraindo os clientes. Nesta época, reduzimos o horário de atendimento, porque à noite é um pouco mais frio e o movimento tem queda drástica. No verão, entretanto, vamos até de madrugada".

Mesmo com 40% de retração de movimento neste período, Maicon não tem do que reclamar. "Mesmo com o frio, é só abrir um 'solzinho' que o pessoal já vem pra sorveteria. Nos últimos seis anos, percebo que o consumo de sorvete no inverno cresceu bastante". (V.L.)