Imagem ilustrativa da imagem Dívida da Sercomtel se aproxima do valor da receita bruta anual



A dívida consolidada do grupo Sercomtel chegou a R$ 238,9 milhões em dezembro de 2016, valor muito próximo da receita anual bruta da companhia, de R$ 251,3 milhões. Ou seja, para quitar seu passivo, a empresa teria de desembolsar quase todo faturamento bruto do ano passado. É o que apontam as demonstrações financeiras da operadora referentes ao exercício de 2016 publicadas na edição da última quinta-feira da FOLHA. O prejuízo consolidado do grupo, que inclui a subsidiária Sercomtel Participações, foi de R$ 17,1 milhões.

Na tarde desta segunda-feira, a empresa vai realizar uma reunião com os funcionários. Vão participar o presidente Luiz Carlos Adati e o prefeito Marcelo Belinati(PP). Na sequência será realizada uma coletiva de imprensa.

A reportagem apurou que a direção da empresa e o Município - sócio controlador com 55% das ações - pretendem mostrar o cenário real das finanças, sem maquiagem, como forma de chamar a atenção dos colaboradores e da sociedade. Só assim, acreditam que haverá chances de reverter a situação e impedir que a companhia vá à falência. Por enquanto, ninguém falará em privatização. A avaliação é de que não haveria investidores interessados diante de uma situação financeira tão complicada.

O grupo Sercomtel apresenta prejuízos acumulados de 175,6 milhões - mais que o dobro do patrimônio líquido consolidado registrado no balanço do ano passado, de R$ 70,8 milhões. Só para se ter uma ideia, em 1998, ano em que o Sistema Telebras foi privatizado, o patrimônio líquido da Sercomtel era de R$ 288,3 milhões. O encolhimento é de mais de quatro vezes, sem considerar uma inflação, medida pelo Índice e Preços ao Consumidor Amplo (IPC-A), de mais de 200% no período.

Por força de lei municipal, para vender ações da empresa, ainda que parcialmente, a Prefeitura precisa realizar um plebiscito. Em 2001, sob comando do então prefeito Nedson Micheletti (PT), o sócio majoritário tentou vender a Sercomtel Celular (na época, a empresa era dividida em duas: a Celular e a Fixa). Por 52,7%, os londrinenses rejeitaram a proposta. Desde então, nunca mais a privatização foi tratada oficialmente. E as contas da companhia só se deterioraram.

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DÍVIDA
A Sercomtel praticamente não deve para bancos. Empréstimos e financiamentos de curto e longo prazos da companhia, segundo o balanço de 2016, somam apena R$ 5 milhões, ou 2% do passivo.

A principal dívida é com o Fisco. A empresa "empurrou com a barriga" R$ 61,8 milhões em imposto, 25% do total. São parcelamentos permitidos por lei, mas que um dia terão de ser pagos. O segundo maior item do passivo é a "provisão para contingências". São R$ 59,2 milhões anotados no balanço para pagamento de ações, a maior parte delas trabalhista. O valor corresponde a outros 25%.

Em terceiro lugar, vêm os "benefícios pós-emprego", com R$ 27,9 milhões, ou 12%. Trata-se de compromissos da empresa com as aposentadorias de seus colaboradores. Juntos, os três itens correspondem a 62% do passivo.

SUBSIDIÁRIAS
Segundo o balanço de 2016, as subsidiárias Sercomtel Contact Center - empresa de call center antes chamada de Ask! - e a Sercomtel Iluminação tiveram lucro no ano passado. O call center teve um faturamento bruto de R$ 18,9 milhões. Deduzindo os custos, as despesas administrativas, impostos e um resultado financeiro negativo em R$ 142 mil, ela apresentou lucro de R$ 781 mil. Já a Sercomtel Iluminação teve uma receita bruta total de R$ 9,8 milhões. Mas, na última linha da demonstração do resultado do exercício, sobraram apenas R$ 465 mil de lucro.

CHOQUE DE REALIDADE
Na reunião desta segunda-feira, a direção da Sercomtel vai apresentar um rombo ainda maior que o previsto no balanço. Conforme apurou a FOLHA, a empresa pretende mostrar que o total de ações judicais ultrapassa R$ 216 milhões. No balanço entram apenas os processos considerados "prováveis" de serem perdidos pela operadora. Junto com outras pendências e o prejuízo acumulado de mais de R$ 175 milhões, a direção quer mostrar aos colaboradores e à sociedade que o rombo poderia, em última instância, chegar aos R$ 800 milhões.

A reportagem pediu entrevistas na Sercomtel e na Prefeitura, mas as assessorias disseram que tanto o presidente, Luiz Carlos Adati, e o prefeito, Marcelo Belinati, só vão se pronunciar na entrevista coletiva.