Imagem ilustrativa da imagem Copom diminui Selic depois de quatro anos



Pela primeira vez em quatro anos, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu ontem a taxa básica de juros, a Selic. A queda de 0,25 ponto percentual, para 14%, é considerada tímida, mas mostra a reversão de uma tendência de aumentos quase que sucessivos, que vem desde maio de 2013. O relatório não apresenta viés para a última revisão do ano, marcada para 29 e 30 de novembro, o que indica certo receio sobre a situação econômica do País e do mundo.
A retração da taxa era esperada por analistas de mercado, principalmente depois de divulgada a desaceleração da inflação oficial no início do mês, quando o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro ficou em 0,08%. O motivo foi citado no relatório da reunião de ontem, que aponta que a "inflação recente mostrou-se mais favorável que o esperado, em parte em decorrência da reversão da alta de preços de alimentos".
No entanto, as incertezas sobre o crescimento global e sobre a normalização das condições monetárias nos Estados Unidos deixam a entidade do BC cautelosa. No cenário doméstico, há incertezas sobre a aprovação de ajustes na economia propostos pelo governo federal, bem como expectativa de que os preços continuarão a cair.
Para o delegado em Londrina do Conselho Regional de Economia (Corecon), Laércio Rodrigues de Oliveira, faltava segurança ao BC para uma redução maior da Selic. "Ao menos sinaliza uma tendência de estabilizar e cair, mesmo sem viés", diz.
Ele considera, porém, que somente com a aprovação de adoção de medidas de contenção de gastos estatais é que os agentes de mercado entenderão que vale a pena voltar à investir. "Ainda influencia pouco ao consumidor e ao empresário, porque estamos com juros acima de 300% ao ano para o cheque especial e acima de 400% para o cartão de crédito", cita Oliveira.
O professor de Economia Joilson Dias, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), afirma que o Copom demonstra ao mercado que uma variável importante da economia, a inflação, começa a ser administrada. "Não é suficiente para se pensar em investimentos, mas sinaliza algo."
Dias acredita que é preciso que o BC se mostre comedido neste momento, mas não rechaça a chance de nova redução na próxima reunião. "Os preços administrados pelo governo, como gasolina e energia, precisam cair ainda, o que já foi sinalizado com a redução dos preços dos combustíveis."

HISTÓRICO
A última vez que o Copom optou pela redução da taxa foi em 28 de novembro de 2012, quando a Selic foi de 7,50% para 7,25%. A partir de maio do ano seguinte houve altas consecutivas em nove decisões, até maio de 2014, quando foi a 11,00%. Houve novo período de estabilidade por três reuniões e outra sequência de aumentos a partir de dezembro de 2014. O índice de 14,25% foi atingido em setembro de 2015 e continuou nesse nível até ontem.
O professor de Economia diz que os últimos quatro anos foram conturbados politicamente, com sinalizações divergentes do BC, de redução da demanda, e do governo, de promoção da demanda. "A forma de fazer política econômica mudou, ao menos na teoria, já que ainda não sabemos ao certo como será na prática", cita Dias. Ele aponta que falta à União a apresentação de pequenas reformas de gastos, como salários e previdência iguais para os setores público e privado, mas sem atingir necessidades como a saúde e a educação. "Esse ajuste (PEC do Teto de Gastos) não é a ideal, mesmo porque é incompatível com os gastos da Previdência", diz.