"No lugar dos temporários, os lojistas tendem a tentar completar essas horas ou a pagar hora extra"
"No lugar dos temporários, os lojistas tendem a tentar completar essas horas ou a pagar hora extra" | Foto: Gustavo Carneiro



As tradicionais vagas temporárias de trabalho de fim de ano, que normalmente garantem renda aos desempregados, devem minguar neste ano devido à crise econômica, que reduz a perspectiva de receita no comércio. Um estudo feito pelo Banco Nacional de Empregos (BNE) aponta que a expectativa de postos abertos cairá quase que à metade no País, ou 48,7% menos do que no mesmo período do ano passado. Em Londrina, cidade forte no setor de varejo, a expectativa de analistas de mercado é de números semelhantes.
Para chegar à estimativa, o BNE considerou vagas abertas por agências de trabalho temporário cadastradas no site da entidade entre janeiro de 2014 e agosto de 2016, que foram 10.511.301. Ainda, o estudo reuniu informações sobre remuneração, cargos mais ofertados e média de salários ao ano. Ganhos que diminuíram em 36,5% no período e que podem chegar a 46,1% até o fim de 2017. "Fizemos a comparação com reajustes anuais e, em muitos casos, não foi o bastante nem para cobrir a inflação", diz o estatístico do BNE, Raul Valdera Junior.
A previsão é que o próximo ano, no entanto, apresente ao menos estabilidade no número de vagas, com o início da recuperação da economia. O estatístico do BNE diz que, se houver crescimento na oferta, será mínimo, ao menos diante das perspectivas econômicas atuais.
Ele lembra que o emprego temporário funciona como porta de entrada para o mercado de trabalho e é um indicativo da economia. "É uma modalidade de emprego mais sensível às variações do mercado e sua retomada acontece antes das contratações efetivas, já que é uma boa opção para momentos de incerteza econômica", explica Valdera Junior.
Consultor econômico da Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil), Marcos Rambalducci lembra que a indústria, que tradicionalmente contrata no terceiro trimestre do ano para atender às necessidades do comércio nos três meses seguintes, já demonstrou menor contratação e número de pedidos abaixo do esperado. "O setor de varejo está reticente sobre contratações porque já conta com uma equipe ociosa. No lugar dos temporários, os lojistas tendem a tentar completar essas horas ou a pagar hora extra", diz.
Rambalducci diz que há uma vantagem para os comerciantes neste ano, já que parte dos desempregados são oriundos do setor e já estão treinados, o que diminui custos com treinamento. "Por isso, muitos também vão deixar para contratar na última hora."
Por outro lado, o economista da Acil alerta sobre o risco da menor contratação de temporários. "Se todos agirem assim, não se gera dinheiro para ser gasto no comércio e diminui a receita", completa Rambalducci.
A Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) também soltou nesta semana uma pesquisa que aponta que somente 27,9% dos comerciantes pretendem investir para o período de Natal. O indicador é inferior aos 32,8% de 2015, conforme o levantamento feito em parceria com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil).
Somente 13,9% dos lojistas pretendem aumentar o quadro de funcionários para o período de fim de ano. Isso porque, na média, os comerciantes esperam uma redução de 1,8% no volume de vendas da época mais lucrativa do ano na comparação com 2015. Ainda, 11,7% relataram que já demitiram nos últimos três meses, com o objetivo de reduzir os gastos com a folha de pagamento.
Para os economistas do SPC Brasil, a baixa intenção de investimentos reflete o desânimo e a baixa confiança provocada pelos resultados ruins da economia brasileira nos últimos anos. "Os empresários sabem que os efeitos da recessão impactam diretamente no bolso dos consumidores. Com a economia ainda fragilizada pela inflação alta, pela diminuição dos postos de trabalho e pela queda no poder de compra das famílias, o comércio varejista não espera uma reação muito positiva nas vendas deste Natal", diz a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
Para o economista da Acil, a mudança de perspectiva costuma demorar ao menos seis meses. "Uma melhora na confiança ocorre apenas depois que se concretizam os primeiros resultados positivos, para aí se levar a uma expectativa positiva", diz Rambalducci.