Curitiba – A conta de água do próximo mês deve diluir ainda mais o poder de compra dos paranaenses que, para a mesma quantidade consumida, vão precisar desembolsar, em média, 8,53% a mais para saldar a tarifa. O aumento autorizado e publicado no Diário Oficial do Estado em abril pela Agência Reguladora do Paraná (Agepar) à Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) é resultado da primeira Revisão Tarifária Periódica dos serviços de saneamento.

Mais sete revisões anuais estão programadas com o objetivo de até 2024 aplicar integralmente o índice de 25,63% do reposicionamento tarifário definido para o cumprimento das metas de universalização dos serviços de água e esgoto estipuladas pelo marco regulatório do saneamento básico no Brasil.

O diretor de Relações Institucionais da Agepar, João Batista Peixoto Alves, reconhece o quão inapropriado é esse reajuste diante do momento econômico. "Na reunião do colegiado foi ponderado o contexto, por isso que não houve o repasse de uma única vez dos 25,63% que a Sanepar teria direito de cobrar, uma vez que será cobrada pela universalização dos serviços de esgoto, hoje em 70%. De água, o atendimento já é 100%", observa. "Nosso papel como agência é conciliar os três lados envolvidos, da prestadora de serviços, no caso a Sanepar, que terá custos para cumprir as metas e será fiscalizada, dos municípios, que são os titulares do contrato de prestação, e os consumidores, que pagam a conta", esclarece.

Segundo o que foi acordado na primeira revisão, os demais reajustes serão de 2,71%, mais a atualização da inflação do período e de uma taxa média ponderada de financiamentos diários apurados no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic). "Como em todo parcelamento, há juros. Ao final desses oito anos, a Agepar precisa garantir à Sanepar e aos investidores esses 25,63%", reconhece.

Imagem ilustrativa da imagem Com alta na tarifa, poder de compra dos paranaenses vai por água abaixo



Faixas de cobrança
O reajuste médio de 8,53% não é a única novidade da revisão. Foram ampliadas de três para seis faixas de cobrança condicionadas pelo consumo. A menor tarifa a partir de junho será de R$ 59,21 para um consumo até 5m³ no mês. Até maio, a tarifa mínima era de R$ 60,73 para o consumo de até 10 m³. "Isso era considerado injusto por subsidiar quem consumia mais. A ideia é que pague menos quem consome menos", ressalta o diretor da Agepar. Cerca de 171 mil economias (termo técnico de unidades de consumo) têm um consumo mensal de 5m³ no Paraná. Da última faixa, dos que consomem mais de 30 m³ de água no mês, o reajuste será de 12,9%. "Para 44% da população, falamos em um universo de 246 mil pessoas, que consomem na faixa de 8 m³, o reajuste ficará em 6,6%", assegurou Alves.

Margem achatada
A professora de Economia da Universidade Positivo Leide Albergoni avalia que o reajuste afeta diretamente o já pressionado orçamento familiar. "É um serviço essencial em que não só afeta o consumidor residencial diretamente, pagando mais, mas nos custos dos serviços e produtos", comenta. O diretor executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Paraná (Abrasel-PR), Luciano Bartolomeu, explica que já há um consenso entre o setor de não repassar o aumento para a clientela. "Não há como repassar o reajuste para o cardápio com toda essa crise, pois vai afugentar ainda mais as pessoas", constata. Segundo Bartolomeu, o consumidor tem sinalizado essa contenção nos gastos no congelamento da variação no ticket médio no almoço, de R$ 20 a R$ 50 e, na noite, de R$ 30 a R$ 75. "Não há espaço para repassar qualquer variação em nosso custo. Tanto que a concepção do Festival Brasil Sabor, que no Paraná está acontecendo em mais de 60 estabelecimentos entre Londrina, Curitiba e Maringá até o dia 4, tem por mote o prato em dobro, para atrair mais pessoas aos estabelecimentos e demonstrar essa compreensão do momento para os fregueses", destaca. Segundo ele, os insumos respondem por 30% a 40% de cada refeição servida e os participantes do festival já achataram ainda mais a margem visando aumentar o movimento. "Menos margem e muita criatividade na elaboração de pratos com novas texturas e produtos". Dá para consultar quais são os estabelecimento integrantes do festival no site http://www.brasilsabor.com.br/festival/evento.html