Existem hoje cerca de 52 milhões de usuários de cartão de crédito no Brasil, mas quase a totalidade (96%) não sabe quais os juros embutidos no pagamento mínimo da fatura. Esta é a conclusão de uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pelo portal Meu Bolso Feliz. Dos entrevistados, 38% afirmaram já terem efetuado apenas o pagamento mínimo do cartão.
Apesar do uso massivo do cartão de crédito – 53% dos entrevistados na pesquisa afirmaram possuir um -, a falta de informações sobre este meio de pagamento é preocupante. O estudo mostrou ainda que um terço dos pesquisados não sabe qual é o limite do seu cartão. A falta destas informações, na visão da SPC Brasil, pode culminar em problemas financeiros.
"Caso a pessoa tenha um limite muito alto, vai gastar sem perceber, chegar ao limite e ter dificuldade de pagar a fatura. Se pagar o mínimo, vai entrar em um dívida que quadruplica a cada ano", explica a economista chefe do Serviço, Marcela Kawauti.
Os juros do cartão de crédito são considerados os mais caros e crescem no atual cenário econômico. No último dia 27, o Banco Central divulgou o juro médio cobrado no cartão de crédito, que aumentou 2,3 pontos percentuais de março a abril e chegou a 81,4% ao ano. O juro do rotativo é o mais elevado e atingiu a marca dos 347,5% em abril, aumento de 1,7 pontos em um mês. A taxa do parcelado chegou a 114,6%, com alta de 3,1 pontos.
Por isso, o risco de não ter consciência dos juros que recaem sobre o cartão de crédito e a falta de planejamento no seu uso pode ser muito alto, afirmam os economistas. "O risco de não ter planejamento é simplesmente ter uma conta impagável", alerta o economista e professor de finanças da Isae/FGV, Sérgio Itamar. "Hoje, o empréstimo de dinheiro, de maneira geral, é muito complicado. Os bancos ficaram cautelosos ao emprestar dinheiro." Isso explica, segundo ele, a alta dos juros no cartão de crédito.
Para ele, com os juros altos, os preços inflados e o emprego caindo, o País corre ainda o risco de enfrentar "uma onda de não pagamento, de calote". Neste momento, é hora de "deixar o cartão de crédito em casa", diz. "Tem gente que tem o costume de carregar dois, três cartões de crédito. Este tempo acabou. Não dá mais para usar e não pagar o total da fatura. Os juros estão um absurdo e só vão crescer."
"Apesar de sempre ter sido muito grande, não me lembro de um momento em que esteve tão alto quanto agora", declara, também, o economista e professor Márcio Massaro, do campus Londrina da PUC-PR. Estas pessoas que não têm ideia da proporção dos juros do cartão de crédito, de acordo com ele, "vão começar a aprender isso agora e da pior forma possível". Daqui para frente, diz o economista, o acesso a este tipo de crédito ficará ainda mais restrito e caro.
A recomendação é usar este recurso da forma como ele foi originalmente pensado: apenas para emergências. A pesquisa da SPC, entretanto, mostra que os consumidores a utilizam da maneira oposta - para comprar roupas (48%) e calçados (44%), por exemplo. "O cartão de crédito existe para prestar socorro em um momento que o consumidor está sem dinheiro. Está longe de ser um instrumento de uso diário. Cada vez mais as pessoas terão que ser seletivas no uso do cartão de crédito", finaliza Massaro.