Brasília - O ministro Nelson Barbosa assume o comando da Fazenda em substituição a Joaquim Levy com um discurso de que manterá o ajuste fiscal adotado até aqui e buscará ainda aprovar reformas estruturais no Congresso Nacional. A necessidade de tais reformas foi uma das críticas feitas pelo então ministro Levy na véspera de sua saída do governo federal, confirmada ontem em nota oficial pelo Palácio do Planalto. O agora ex-ministro vinha ainda colocando em dúvida o compromisso do governo da presidente Dilma Rousseff com um controle rígido das contas públicas.
"A política fiscal e econômica como um todo continua na mesma direção: de buscar o equilíbrio fiscal, o controle da dívida pública, e elevar o resultado primário da União", afirmou Barbosa no final da tarde de ontem, em sua primeira entrevista no cargo. "Na medida em que ficar cada vez mais claro que o governo continua na direção do equilíbrio fiscal e o controle de inflação, essas oscilações vão se dissipar", prosseguiu ele em referência ao aumento do dólar e queda da bolsa brasileira no dia de ontem (veja indicadores na página 2).
"Tenho plena confiança de que a economia brasileira tem capital humano, capital físico e expertise para superar os desafios. Se cada um fizer sua parte, vamos conseguir superar os desafios de hoje muito mais rapidamente do que as pessoas esperam", afirmou Barbosa. O novo titular da Fazenda anunciou que o governo vai adotar medidas adicionais para cumprir a meta de superavit primário de 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto) aprovada pelo Congresso Nacional. O ministro, no entanto, preferiu não detalhar quais serão as ações.

PLANEJAMENTO

O novo ministro do Planejamento, Valdir Simão, que estava à frente da Controladoria Geral da união (CGU), ponderou que o ajuste "não é por si só suficiente" para o equilíbrio fiscal e, por isso, são necessários "ajustes estruturais", especialmente nas despesas obrigatórias. De acordo com o Palácio do Planalto, Carlos Higino assume interinamente a CGU.

DESPEDIDA

A decisão da presidente Dilma Rousseff de trocar o titular da Fazenda foi apressada após Levy fazer um discurso de despedida em reunião interna no Ministério. Ele já havia combinado a saída com a presidente, mas ficaria de confirmar sua exoneração no início de janeiro.
Levy divulgou nota afirmando que ele e a equipe fizeram o que foi proposto em janeiro, quando assumiu o cargo, pelo menos naquilo que dependia deles. No documento apresentado como balanço de fim de ano, em clima de despedida do governo, ele disse que chegou ao fim de 2015 preocupado com a situação do país, particularmente com a da economia. Além disso, os reflexos negativos da crise na atividade econômica e na geração de empregos poderão se estender por 2016.
Ao falar sobre seu legado, disse que "o tempo saberá mostrar os resultados que se colherão de tudo que foi feito até agora" e responsabilizou a turbulência política pela maior parte da crise.
"Seria uma injustiça comigo, com minha equipe e com a presidente Dilma Rousseff achar que o país enfrenta uma recessão pelo fato de termos proposto e, em alguma medida, já implementado um ajuste fiscal. Um ajuste pelo qual ela tem se empenhado", afirmou.
"Boa parte da queda do PIB decorre de processos políticos, que tiveram importante impacto na economia, criando incerteza e multiplicidade de cenários que levaram à retração da atividade de empresas e indivíduos." Levy disse ainda que ninguém quer o impeachment como primeira opção, "especialmente se o governo mostrar como serão as políticas econômicas nos próximos três anos."