A arte pode provocar transformações na alma e, por que não, no bolso. O mercado de obras de arte no Brasil ultrapassou a marca de R$ 250 milhões em 2015, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No mundo todo, o setor atinge cifras da ordem de R$ 50 bilhões por ano. O IBGE projeta uma tendência de expansão de 15% do mercado nacional, puxada pelos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, mas com contribuições de outras unidades da federação, incluindo o Paraná.

O mercado das artes é dividido em primário e secundário. O primário envolve a negociação com o artista ou seus herdeiros. Trata-se da primeira vez que a obra é comercializada. As galerias e os galeristas ou marchands acertam um percentual com os artistas sobre a venda. A galerista de Curitiba Zilda Fraletti, no mercado desde 1984, não só realiza a venda convencional, mas também organiza em sua galeria homônima grupos de investimentos, com 10 integrantes, que mensalmente investem R$ 300, durante 10 meses, para adquirir uma obra do estabelecimento. "O início de tudo foi assim. Eu e o meu então marido encontramos uma forma de começar a adquirir obras de arte reunindo os amigos igualmente interessados nesses grupos. É uma espécie de poupança forçada e com a vantagem que, hoje, essas reuniões são uma forma de trocar conhecimentos, pois sempre trazemos um profissional do setor para aprofundar a formação de todos", explica Zilda.

Quadro da artista Andrea Horn vale R$ 4 mil
Quadro da artista Andrea Horn vale R$ 4 mil



Também é possível negociar no mercado primário diretamente com o artista, como é o caso do artista plástico e tatuador Humberto Tutti (Humberto Pereira Júnior). "A internet é uma grande galeria, democratizou o acesso e a visibilidade do que está sendo produzido. Por isso comercializo trabalhos prontos ou encomendas pelas redes sociais", afirma.

Dependendo do tamanho e da complexidade da obra, ele dispende de seis meses a um ano de trabalho, em uma jornada de 12 horas por dia. "Tem produções mais rápidas, mas o processo criativo consome muitos estudos e visitas aos nossos bancos de imagens e referenciais diversos. Esse tempo de pesquisa entra no cálculo do custo da obra", esclarece. As telas dele variam R$ 1,5 mil a R$ 3 mil, dependendo do material usado. "Já empreguei até folhas de ouro com óleo e acrílico em um trabalho."

Tela é leiloada pela Mazo Leilões, de Curitiba: obras vão de R$ 3 mil a R$ 1 milhão
Tela é leiloada pela Mazo Leilões, de Curitiba: obras vão de R$ 3 mil a R$ 1 milhão | Foto: Divulgação



O mercado secundário é representado pelas casas de leilões e feiras de arte. "Os leilões exercem um papel fundamental desde a Roma Antiga para garantir liquidez ao patrimônio artístico das famílias", comenta o diretor da Mazo Leilões, Guilherme de Assis. Por se tratar de obras consolidadas, a tendência é de que as aquisições sejam acima do preço praticado no mercado primário. "E o mundo está olhando e valorizando a produção brasileira. Os artistas nacionais estão ganhando valor nas feiras e leilões mundo a fora", ressalta Mazo.

A Mazo Leilões, em Curitiba, está captando obras para o próximo leilão, que está previsto para o final de maio, com obras de grandes nomes do modernismo brasileiro, os mestres acadêmicos paranaenses e os destaques da arte contemporânea nacional. Segundo a organização, o leilão deverá contar com 60 peças, com valores entre R$ 3 mil e R$ 1 milhão.

PÚBLICO
Existem profissionais que tentam ampliar o público consumidor de obras de arte. A consultora e responsável pela De Boca em Boca Eventos, Cassandra Garrido Joerke, se mostra satisfeita com o resultado dessa estratégia. "Na última exposição, no Shopping Jardim das Amércias, em Curitiba, vendemos uma tela de R$ 18 mil e tivemos um bom público, o que é um resultado ótimo no setor", afirma. A exposição "Poesia, impressões e movimentos", organizada por Cassandra, trouxe obras de Andrea Horn, Marc Breyer e Roberto Rodrigues. "Como profissional desse mercado considero um excelente negócio investir nas telas com técnica do mosaico de tintas de Andrea Horn, pois ela participará de quatro exposições internacionais neste ano e a tendência é que as telas dobrem de valor até o final do ano", recomendou Cassandra, que é representante da artista no Brasil e na América do Sul.

Imagem ilustrativa da imagem Arte para transformar e rentabilizar



Economista compra telas há 54 anos
Alheio a modismos e colecionador há 54 anos, o economista curitibano Ario Taborda Dergint, 85 anos, recomenda o investimento em obras de arte. "Porque a vida fica mais colorida com esse atributo que nem todos possuem. Nem todas pessoas pintam ou desenham bem, somente os artistas."

Ele ressalta que, escolhendo as obras "com discernimento", é possível obter bom rendimento. Há telas de sua propriedade que valorizaram mais de 1.000% em cinco décadas. "Tenho mais de 300 telas", comenta.

O economista recomenda aos investidores comprarem aquilo que seja consenso entre os entes familiares. "Para a maioria das pessoas, como foi o meu caso, o valor de uma obra exige um sacrifício financeiro. Seja abrir mão de uma viagem de férias, seja reduzir gastos. Por isso, indico envolver as pessoas próximas no ‘crime’, pois serão afetadas com a decisão", declara.

A exemplo de uma ação negociada na Bolsa, as obras de arte exigem cuidado do investidor antes da tomada de decisão. "Se a pessoas querem minimizar o risco de desvalorização, o melhor a fazer é se aprofundar sobre o autor do trabalho e a obra, antes de adquiri-la." Nessa busca, deve-se observar qual a técnica que consagrou determinado artista. "Não é raro encontrar peças de pessoas consagradas em técnicas nas quais eles não são mestres e, obviamente, isso impacta de forma negativa na valorização futura daquela obra", orienta.

Via de regra,o mercado de arte é de baixa liquidez. "Não se negocia rapidamente uma obra de arte. Salvo se for por um preço abaixo de mercado ou se o vendedor oferta de maneira dirigida a um grupo de possíveis compradores", elucida.

Se o quadro é "vendável", explica, a tendência é não perder valor no médio e longo prazos. "Até porque confirma uma das máximas da economia, que é o paradoxo de Wieser, segundo o qual, quanto maior o estoque, menor o valor. No caso da produção artística já reconhecida, acaba o estoque quando o artista morre e para de produzir", compara.

Segundo Dergint, o principal risco de investir em obras de artes é não querer se desfazer do ativo. "Eu compro e não vendo. Creio que, mesmo quem encare só como investimento, deve reservar um tempo para desfrutar do bem adquirido, pois é um retorno que não se contabiliza, entra para o campo do intangível". (M.M.)

Serviço/Canais de negociação:
Grupo de investimentos – www.zildafraletti.com.br
Obras de Humberto Tutti - @humbertotutti
De Boca em Boca Eventos - [email protected]
Leilões avaliações e aquisições pelo site.