Londrina lidera a classificação das 30 cidades com maior expansão em franquias no país. De janeiro a junho de 2023, o segundo maior município do Paraná cresceu acima de 15% no número de operações quando comparado ao mesmo período do ano passado e subiu 25 posições no ranking. Divulgada recentemente pela ABF (Associação Brasileira de Franchising), a lista aponta o fortalecimento de um movimento nacional de interiorização desse modelo de negócio que vem sendo observado já há alguns anos.

No Ranking das 30 Maiores Cidades, 12 não são capitais, o que corresponde a 40%. Logo atrás de Londrina, que saltou de 971 para 1.124 franquias - uma alta de 15,7% - está Sorocaba, no interior paulista, com expansão de 10,9%, passando de 990 para 1.098. Entre as dez primeiras estão ainda Campinas, na sexta colocação, Ribeirão Preto, nona colocada, e Santo André, na décima posição.

Entre as 30 mais, completam a lista das não capitais Niterói (11º), São José do Rio Preto (16º), Guarulhos (18º), Jundiaí (20º), São Bernardo do Campo (21º), Uberlândia (22º) e São José dos Campos (24º).

O avanço do agronegócio explica, em parte, a expansão do franchising nos municípios interioranos, avalia a ABF. Mas há outros fatores, como o fortalecimento de cidades de regiões fora do eixo Rio-São Paulo, como se observa no interior paulista, e a retomada do turismo após a pandemia. “A interiorização aconteceu de alguns anos para cá. (Foi um movimento) estruturado, calculado e planejado pelas marcas franqueadoras, que começaram a enxergar um enorme potencial no interior do país”, disse o diretor da Regional Sul da ABF, André Belz.

No caso de Londrina, a quarta cidade mais populosa do Sul do Brasil e que concentra em sua região metropolitana uma população em torno de um milhão de habitantes, Belz classifica como “interior de luxo”. “Tem o agro, que é forte no Norte do Paraná, e que ajuda a circular dinheiro e gera uma demanda por consumo. Mas Londrina também é um polo de tecnologia, que oferece benefício de ISS (Imposto Sobre Serviço) para startups, é um polo universitário, uma cidade muito verticalizada. É uma série de coisas que faz de Londrina um interior de luxo.”

Segundo a ABF, as 1.124 franquias instaladas em Londrina faturaram, juntas, R$ 321.050.676 no primeiro semestre deste ano. Um crescimento de 23,52% sobre igual período de 2022, quando o balanço registrou um faturamento de R$ 259.897.109. No Paraná, a alta foi de 18%, com uma receita que subiu de R$ 6,2 bilhões para R$ 7,3 bilhões.

O Norte paranaense também é um reflexo do bom momento econômico vivido no Estado como um todo e que pode ser medido, entre outros fatores, pelo nível de empregabilidade. O mais recente relatório do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), divulgado no final de outubro pelo Ministério do Trabalho e Emprego, apontou que o Paraná teve o maior saldo de vagas formais de trabalho na Região Sul e o quarto em todo o país, somando mais de cem mil postos entre janeiro e setembro. Desde o início do ano, o Paraná se mantém entre os primeiros no ranking nacional, atrás apenas de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, nesta ordem.

Londrina acompanha o ritmo de geração de empregos, com quase sete mil novos postos de trabalho acumulados em nove meses, perdendo somente para Curitiba. “Você vê as coisas acontecendo em Londrina. E com a adaptação dos modelos de franquia, às vezes, um negócio que antes exigia um imóvel grande, hoje pode ser adaptado para lojas menores, quiosques em shoppings. Aí, você coloca esses negócios em cidades pujantes, como Londrina, e vê os resultados”, avaliou Belz.

O diretor da Regional Sul da ABF destacou ainda a importância do franchising para o mercado local de trabalho. As mais de 1,1 mil franquias em operação na cidade mantêm mais de 9,5 mil vagas diretas, oferecendo a muitos destes profissionais a oportunidade do primeiro emprego.

Belz destacou que o setor de franquias no Paraná vem crescendo a dois dígitos “há muito tempo” e análises de tendência mostram que é o Estado que mais cresce, o que permite afirmar que ainda há muito espaço a ser conquistado. “Quanto maior você fica, maior o desafio de continuar crescendo na mesma proporção. O mercado é influenciado pelo cenário macroeconômico, macropolítico, mas se tudo estiver dentro das condições normais, a tendência é que esse crescimento continue por muito tempo.”

Entretenimento e lazer foi o segmento que mais avançou

Em relação ao total de municípios, o estudo da ABF (Associação Brasileira de Franchising) apontou que as não capitais apresentaram alta de 9% enquanto as capitais cresceram 5%. O presidente da entidade, Tom Moreira Leite, observou que mesmo após o forte avanço de 2022, os dados de 2023 confirmam a força expansionista do setor de franquias. “De forma mais ampla por todo o Brasil, de forma descentralizada e associada particularmente à economia do agronegócio, do turismo e acredito também que em razão da atratividade das marcas e de sua capacidade de atender os desejos e demandas dos consumidores, onde quer que eles estejam.”

Nas 30 cidades classificadas no ranking da ABF, as Unidades Móveis foram as que mais cresceram, com aumento de 15% em relação a 2022. O volume de lojas físicas cresceu 8%, os quiosques avançaram 7% e as home based tiveram variação positiva de 3%. Na análise por segmentos, Entretenimento e Lazer teve a alta mais expressiva, com 32%, seguido de Casa e Construção (14%), Alimentação e Saúde, Beleza e Bem-Estar (13%). No quesito modalidade, as microfranquias se destacam. As mistas, que congregam os dois modelos, cresceram 7% e as puras (exclusivamente microfranquia), 4%.

“Aprofundar a capilaridade, seja no interior ou em outras regiões das capitais, demanda adaptações no negócio, seja uma revisão de mix de produtos ou mudanças nas operações das unidades. Neste sentido, quando analisamos a amostra das 30 maiores cidades, notamos que modelos microfranquias e móveis tiveram um crescimento mais intenso, auxiliando assim as redes em seus planos de expansão. Noto também que o presente grupo capturou um momento de recuperação da área de lazer e entretenimento, muito favorecido por hábitos presenciais mais consolidados”, explicou o presidente da ABF.

Londrina se destaca com empresas franqueadoras

Quando se observa o setor de franquias, Londrina não se revela um município próspero apenas para as marcas de fora que se instalam no município. A cidade também tem criado um ambiente favorável para o surgimento de marcas franqueadoras que se expandem por todo o território nacional. Uma delas é a OrthoDontic, fundada em 2002 por um grupo de colegas da faculdade de odontologia da UEL (Universidade Estadual de Londrina). O sucesso do negócio despertou o interesse de investidores e em pouco tempo os sócios começaram a formatar o sistema de franquia, uma novidade há duas décadas, quando as franquias existentes eram, quase em sua totalidade, voltadas à venda de produtos e não de serviços. “As pessoas ainda têm o estigma de que serviço de odontologia é caro. Desenvolvemos uma estratégia para mostrar que era acessível e buscar essas pessoas”, disse a diretora executiva da empresa, Claudia Consalter.

O projeto deu certo e hoje, a OrthoDontic é a maior rede de franquias de ortodontia no Brasil, com mais de 300 unidades espalhadas no país. A diretora executiva relembrou que nos primeiros cinco anos, o crescimento foi orgânico e após esse período é que começaram as ações mais intensas para prospecção de novos franqueados, com a participação em feiras e campanhas com parceiros. No momento, a rede mira a Região Sudeste para acelerar ainda mais o processo de expansão.

No ano passado, a empresa anunciou a fusão com o Grupo OdontoCompany, o maior de clínicas odontológicas do mundo, o que deve impulsionar ainda mais a expansão e o faturamento da empresa londrinense.

Os primeiros resultados já começam a aparecer. Após a fusão, a OrthoDontic aumentou seu faturamento em 22% no primeiro semestre de 2023 ante igual período de 2022 e as 24 unidades vendidas no semestre representaram um crescimento de 50%. “Londrina está aparecendo no circuito nacional dos business com modelos de negócios chamando a atenção de investidores internacionais. O nosso, foi um namoro de quase cinco anos”, contou Consalter. “Temos atraído os olhos de muita gente para a cidade.”

Hoje, a rede de serviços odontológicos conta com 338 unidades em 23 estados e no Distrito Federal e a previsão é de mais 41 unidades até dezembro. A empresa planeja fechar 2023 com um faturamento de R$ 435 milhões. Para 2024, os planos são ainda mais ambiciosos, com projeção de cem novas unidades e alta de 20% no faturamento em relação a esse ano, chegando a R$ 530 milhões.

“Em nossa vertical de consultoria, sentimos o aumento da procura de empresas de Londrina que buscam a formatação de franquias para seguir o exemplo das franqueadoras da região. Em minha opinião, assim como São José do Rio Preto (SP) e Joinville (SC), Londrina será o próximo berço do franchising nacional em pouco tempo, com o surgimento de diversas franqueadoras de sucesso nacional”, disse o vice-presidente do Grupo 300 Consultoria e Educação, Lucien Newton.

O perfil empreendedor da população, que entende o franchising como um caminho seguro para empreender, é um dos motivos que tornam um mercado “fértil” para o surgimento de novas franquias e atrativo para as marcas já existentes, avaliou Newton. Mas esse boom acontece por uma série de fatores. “Aliado a este perfil, estão indicadores macroeconômicos, como a renda per capita e o desenvolvimento de empreendimentos comerciais na região.”

Como aceleradora de franquias, o Grupo 300 procura por empresários dispostos a revolucionar o mercado. “Gostamos de empreendedor raiz, que não tem medo do trabalho e não acredita em dinheiro fácil”, destacou Newton. “Aceleramos bons negócios, mas principalmente, viabilizamos um ecossistema para que os melhores empreendedores possam crescer de forma exponencial e sustentável.”