A área plantada da leguminosa cresceu 7%, e a produção aumentou 19% em relação ao ano passado
A área plantada da leguminosa cresceu 7%, e a produção aumentou 19% em relação ao ano passado | Foto: Ricardo Chicarelli/13-06-2012



A combinação de estoques altos e redução do consumo derrubou o preço da saca de feijão na semana passada. O carioca iniciou a semana a R$ 120,77 e fechou a sexta-feira a R$ 99,60. A maior queda foi registrada na última quinta-feira (-15,79%). A retração também pode estar associada à divulgação do preço mínimo para a safra 2017/2018 pelo governo federal, que ficou abaixo do esperado pelos produtores.

A área plantada cresceu 7%, e a produção aumentou 19% em relação ao ano passado. Isso, somado à entrada de feijão da Argentina, de qualidade superior ao paranaense, e de Minas Gerais e Goiás, puxou o preço da saca para baixo. "O mercado está travado. Ninguém está fazendo estoque. Isso derruba o preço. Outro ponto é que a qualidade do feijão está muito ruim, por causa das chuvas no período da colheita. O consumo também caiu. Não se está conseguindo repassar a produção ao varejo", explica Methodio Groxko, técnico do Deral (Departamento de Economia Rural) da Seab (Secretaria de Agricultura e Abastecimento).

O professor da UFPR (Universidade Federal do Paraná) e ex-presidente da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), Eugênio Stefanelo, afirma que além da redução do consumo per capta do produto, o fenômeno da semana passada pode ter relação com a divulgação dos preços mínimos do cereal pela Conab. "Havia uma especulação de queda, que se confirmou na quarta-feira (19). A leitura que o mercado fez foi que o governo retirou a sustentação de preço", afirma Stefanelo.
O preço da saca do feijão preto foi fixado em R$ 76,40, e o de cor, em R$ 82,96. "Queira ou não, o preço mínimo é um balizador de mercado. E o mercado promoveu o reajuste", comenta o professor.

Imagem ilustrativa da imagem Água no feijão



SUSTENTABILIDADE
O feijão de cor estava oscilando entre R$ 122 e R$ 127 a saca e o preto entre R$ 120 e R$ 126. o feijão preto continua em patamares de R$ 120 a R$ 123/saca. A queda foi mais acentuada no carioca (R$ 99,60). "A perda de sustentabilidade do preço mínimo colaborou, mas a explicação principal é o mercado. Tem muito feijão em estoque", afirma.

O País tem um suprimento de 3,700 milhões de toneladas, mas o consumo interno gira em torno de 3,350 milhões de toneladas/ano. "Foi isso que o mercado leu." Como o carioca tem uma vida curta, o produtor não poderá segurar o grão para forçar uma alta do preço. "Sentar em cima do feijão é dar um tiro no pé", avalia o professor.

EXPORTAÇÃO
O plantio paranaense está focado na produção de feijão preto e de cor, que tem consumo restrito ao mercado interno. O professor preconiza que os agricultores apostem em variedades com potencial de exportação. "O Brasil está se tornando um bom exportador de feijão em geral, principalmente o vermelho. Apostar nessas variedades ajuda a evitar essas baixas acentuadas", explica.

Com a exportação, o produtor pode aproveitar a cotação internacional e as taxas de câmbios. "Assim ele passa a ter duas alternativas de mercado com cotações diferentes (interno e externo). Se algum grande produtor de feijão quebrar, o preço internacional sobe e o agricultor brasileiro pode se aproveitar", avalia Stefanelo.

Mas o professor enfatiza que só consegue fazer essa leitura de mercado e mudar o perfil da sua plantação o agricultor que está organizado. Um exemplo são os produtores do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que estão apostando em variedades com potencial para exportação. "Em Castro (Campos Gerais) eles também fazem reuniões e palestras voltadas para essa produção de mercado externo", pontua. O técnico do Deral avalia que o paranaense ainda não está preparado para mudar o tipo de produção. "Não é a saída de imediato. Não temos essa tradição exportadora."

Cooperativa aposta em feijão rastreado
A Castrolanda (Cooperativa de Castro), nos Campos Gerais, está com projeto piloto de feijão rastreado para agregar valor ao produto e "descomotizar" a leguminosa. O Tropeiro Seleção é vendido em alguns supermercados de Curitiba e região metropolitana. A cooperativa faz o controle da qualidade do cereal desde a semente até o processamento.

Os grãos passam por análise de toxicidade e recebem a chancela da Fundação ABC, de Castro. O produtor que aderir ao programa precisa seguir rigorosamente as recomendações técnicas da cooperativa. Ele vai receber o valor da bolsa do dia e mais 10%. Inicialmente, a cooperativa está trabalhando em parceria com 10 produtores com uma área plantada de 300 hectares.

"Nosso objetivo é descomotizar o produto, oferecendo um produto rastreado para um público mais exigente que se preocupa com a qualidade e os resíduos químicos", explica Everson Lugarezi, gerente de negócios feijão da Castrolanda. O tropeiro seleção é vendido em embalagem de 500 gramas nas opções carioca e preto.

A cooperativa também vem incentivando a plantação de feijão vermelho. "É uma opção que vende mais lá fora. Ele também tem tido uma boa saída no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Vamos começar uma experiência de plantio", afirma. A Castrolanda tem em torno de 135 produtos de feijão com uma produção de 70 mil toneladas/ano.

Apesar da tendência de queda que vinha sinalizando, a variação de -15,79% pegou os produtores de surpresa, segundo Lugarezi. Mas ele acredita que nas próximas semanas o preço se estabilize, com o incremento das compras de início de mês. Nesta segunda-feira (24), o feijão carioca fechou a R$ 122,95 (-0,33%), e o carioca a R$ 100,08 (+ 1,20). (A.M.P.)