Uma pessoa me mandou um e-mail dizendo o seguinte: “Eu leio tudo sobre psicanálise e psicologia. Acho que isso já me é mais do que suficiente para me entender. Algumas pessoas próximas, entretanto, me dizem que isso não substitui a análise pessoal. Será que isso é verdade?”. A reflexão sobre a necessidade de se fazer uma análise é um tema complexo e profundamente pessoal. Aqueles que se dedicam à leitura e estudo da psicanálise e da psicologia muitas vezes se deparam com a questão crucial de se submeterem ou não à própria análise.

É importante reconhecer que o conhecimento teórico sobre a psicanálise e a psicologia, embora valioso, difere significativamente da experiência vivencial da análise pessoal. Enquanto a leitura oferece insights teóricos e compreensão intelectual, a análise pessoal proporciona uma jornada única de experiências e transformações. Tanto é assim que na formação de um psicanalista a IPA (Associação Psicanalítica Internacional) exige que o profissional além de passar pelos seminários teóricos e clínicos passe também por, durante anos, perfazendo 4 sessões semanais, a sua própria análise pessoal. Só a teoria não basta, mas o que sustenta de fato é viver a própria experiência.

A decisão de iniciar a análise não deve ser tomada levianamente, pois envolve um compromisso profundo consigo mesmo e com o processo analítico. É preciso considerar não apenas o desejo de compreender a si mesmo, mas também a disposição de confrontar os aspectos mais sombrios e dolorosos do Eu. Estar em análise não é um passeio no jardim, mas algo até mesmo turbulento, e muitas vezes, difícil. Afinal, olhar para si mesmo é olhar para o desconhecido que existe em nós. Esse desconhecido carrega ansiedades que muitas vezes procuramos evitar. Na leitura de um texto sobre psicologia ou psicanálise a pessoa não vive isso em si, apenas passa intelectualmente (por cima) dessas questões.

A análise não é apenas um meio de resolver problemas específicos ou aliviar sintomas, mas sim um caminho para explorar as profundezas da mente e expandir a consciência sobre si mesmo e sobre os padrões inconscientes que moldam a vida cotidiana. Por isso mesmo não é um processo simples. Para a análise realmente se dar é preciso uma disposição para tal. Disposição e disponibilidade essas que não é todo o mundo que tem ou quer.

Permanecer apenas nos conteúdos teóricos é fácil, mas aí não se analisa verdadeiramente o medo do desconhecido que uma pessoa tem, sua resistência às mudanças, a negligência com que alguém se trata, as posições que alguém se coloca frente à vida e aos outros, etc. Veja assim: alguém pode ir num restaurante e ler todo o menu. Só porque leu esse menu quer dizer que já está alimentado sem precisar pedir nada? É assim que funciona?

A análise não é um fim em si mesma, mas sim um meio de alcançar uma maior integração psíquica e uma compreensão mais profunda da vida interior. Ao se comprometer com o processo analítico, pode-se abrir portas para o crescimento pessoal e para uma vida mais plena e autêntica.

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