Ouvi de um ambientalista, na internet, falando sobre essa onda de calor extrema que vivemos que apesar de haver mais ‘incidência’ solar atualmente o problema era não essa atividade extrema do sol, mas o fato de que há pouca sombra no planeta. Cada vez mais árvores são derrubadas e cidades se expandem numa velocidade incrível tirando muita cobertura natural que criava sombra e por isso mesmo refrescava mais. Não só no nosso país, mas no mundo inteiro tal coisa vem acontecendo.

Aqui em Londrina, fiquei sabendo, tristemente, que há um déficit de 1 milhão (isso mesmo!) de árvores na região urbana e vejo muita gente procurando derrubar cada vez mais. Entendo que algumas representam perigos que precisam ser evitados, mas está havendo muito derrubamento e nenhuma reposição e depois reclamamos e achamos estranho o calor.

Essa coluna, no entanto, tem a ver com saúde mental e por que, então, estou falando de árvores aqui? É porque acredito que há uma boa analogia entre a forma que tratamos nosso ambiente externo e a maneira que lidamos com nosso mundo interno. Aliás, fazemos com o ambiente externo o que, primeiramente, fazemos com nosso mundo mental.

Talvez muito de vocês percebam que estamos vivendo mal, com excesso de irritações, brigas e desentendimentos os mais diversos e frequentes. Estamos ‘quentes’ e não conseguimos ficar de cabeça fria, pensar, considerar, mas explodimos com muita facilidade e agimos por impulso. É como se estivéssemos sem sombra nenhuma dentro de nós e ficássemos num calor tão intolerável que explodimos nas chamas da raiva e ódio. Não temos, internamente, nenhuma cobertura que nos refresque um pouco e nos acalme.

Não sabemos lidar com nossa vida mental e tudo o que ela nos demanda. Na verdade, não sabemos nos preservar de nossas próprias emoções violentas que entram em nossas vidas derrubando tudo. O fato é que ninguém nasceu sabendo lidar com a própria mente, mas é algo que vamos aprendendo ao longo da vida, por meios de experiências que permitam criar e expandir a capacidade de pensar sobre o que vivenciamos. Desenvolver a mente é como um processo de reflorestamento que permite que novas árvores possam crescer e criar mais condições naturais para a vida.

Calor excessivo, tempestades violentas e muitas outras aberrações climáticas que vemos não surgem à toa, mas são causadas por toda uma série de elementos que afetam a natureza. Com nossa vida emocional também. As intempéries internas que nos ocorrem também são evidências de toda uma variedade de faltas em nossas vidas mentais.

Uma cidade mais verde, com mais árvores, ameniza a temperatura e traz mais conforto aos seus habitantes. Uma mente mais ‘arborizada’, ou seja, com recursos que faça com que possamos lidar melhor com nossas ‘fervuras’ internas também traz mais conforto e segurança para as nossas vidas. Pena que essas coisas não são realmente compreendidas. Insistimos em nos destruir, mas reclamamos que a vida está ruim. Tanto numa dimensão externa quanto interna.

****

A opinião do colunista não é, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina