A psiquiatra e professora universitária americana Anna Lembke, considerada uma das maiores especialistas sobre dependência química na atualidade, compara o excessivo uso da vida digital, principalmente das redes sociais, ao vício de substâncias químicas. Podemos ficar viciados pelos celulares, redes sociais e internet; e como qualquer vício isso pode trazer inúmeros prejuízos na qualidade de vida.

Segundo sua explicação a vida digital excessiva ativa os mesmos circuitos cerebrais que drogas como o álcool, liberando dopamina, conhecido neurotransmissor da sensação de prazer, fazendo com que a experiência se torne viciante. O prazer pode ser viciante e a busca pelo prazer a qualquer custo pode ser algo escravizador.

Há uma clássica experiência feita com ratos nos Estados Unidos que mostrou que quando administrado uma droga viciante ao lado de água e comida os ratos ficaram tão dependentes pela droga que ‘esqueceram’ de beber água e se alimentar, morrendo por desidratação e se enfraquecendo além da conta. Tornaram-se verdadeiros ratos zumbis que só procuravam desesperadamente a droga altamente viciante e geradora de uma imensa carga de prazer. Com o vício eles não conseguiram cuidar mais de si, deixaram de ser ratos e decaíram numa miséria.

Isso tudo não acontece apenas com ratos e animais de experimentos, mas com nós humanos também. É perceptível atualmente ao redor do mundo um aumento nos números de dependência química entre as pessoas, principalmente entre os mais jovens, e a dependência digital também vem aumentando exponencialmente agravando ainda mais o fato que não estamos mais sabendo viver, mas sabendo muito bem como nos viciar.

Além da razão orgânica por detrás do vício há também questões psíquicas que precisam ser entendidas e levadas em consideração. A busca pelo prazer não é algo apenas fisiológico, mas também psicológico. Estamos constantemente atrás de prazer e isso pode ser algo que nos impede de viver e desenvolver outras dimensões em nossas vidas. Claro que prazer é importante, mas quando ele passa a ser a coisa mais importante, a única coisa a ser alcançada obrigatoriamente, não desenvolvemos outros lados como a criatividade, por exemplo, que realmente nos enriquece e nos torna humanos.

Nós só podemos nos desenvolver, crescer, quando somos capazes de suportar minimamente certo grau de desconforto. Nas frustrações, que são sempre dolorosas, podemos aprender a pensar, a criar e modificar o que não está favorável em nossas vidas. Enfim, podemos evoluir, mas se não toleramos nenhum sentimento de desconforto ficamos ‘viciados’ em procurar prazer, qualquer que ele seja. Tornar-se dependente das redes sociais é uma maneira de não termos que enfrentar a vida real de fato. No mundo digital podemos nos apegar apenas àquilo que nos agrada e tudo o que desagrada pode ser excluído com um rápido clique. Controlamos nossos avatares virtuais ao nosso bel prazer. Já a vida real ultrapassa o nosso poder de controle e nos deparamos com uma série de eventos que podem nos dar trabalho desprazeroso. A busca desenfreada pelo prazer é quando evitamos qualquer coisa que venha a exigir de nós algo diferente do êxtase do prazer. Assim, tentar alcançar o prazer pode tornar-se uma compulsão, ou seja, um vício criador de imensas misérias.

¨¨¨¨¨¨

A opinião do colunista não é, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina